MARATONA

Inspiração! Professora mineira se torna maratonista após grave doença

Professora de filosofia se tornou atleta depois de perder os movimentos do braço e perna esquerdos

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Por Ivan Drummond – Um aneurisma hemorrágico, aos 24 anos, em 2009, fez com que ela perdesse os movimentos do braço e perna esquerdos. Depois disso, três cirurgias na cabeça. A vida tinha perdido o sentido. Mas, em 2017, passou a usar uma muleta, só para o braço direito. Isso mudou sua vida. A partir dali, decidiu participar de corridas. Começou nas menores. A última foi em 27 de agosto, na Maratona de Florianópolis. Foram 42 quilômetros, sua primeira prova na distância. E quer mais. Sonha com a criação de uma categoria para sua condição de saúde, e que ela seja incluída na Paralimpíada, seu maior desejo. Essa é a história de Patrícia Mara Santos, de 38 anos.

Patrícia conta que era professora de filosofia. Dava aula numa escola pública de Ipatinga, quando sofreu o aneurisma. “Nasci com malformação arteriovenosa (MAV). Só é possível detectar por tomografia. No entanto, como não tinha sintomas, nunca me preocupei, assim como meus pais. A vida seguiu. Pois nesse dia, na sala de aula, eu me emocionei e aconteceu o aneurisma hemorrágico. Minha pressão baixou, e as veias da cabeça, três, estouraram.”

Nos meses que se seguiram, muita luta, pois Patrícia passou por três cirurgias na cabeça para a retirada das veias que estouraram. “Fiquei horrível depois do aneurisma. Tive uma paralisia facial, do lado esquerdo. Minha boca se encontrava com a orelha.”

A partir de então, a vida de Patrícia passou a ser a fisioterapia. Ela conta que o aneurisma a deixou com uma sensação de impotência. Não tinha ânimo para nada. Depois da fisioterapia em casa, passou a frequentar uma academia.

Veio, então, o momento de usar muleta. Ia e voltava a pé da academia. Eram três quilômetros no total. “Foi quando decidi correr. Eu podia mais. Percebi que poderia me tornar um exemplo. Virei corredora”, relembra

O início na corrida


A primeira prova foram os 5 km Floriano Lacerda, em João Monlevade. “Não havia outra PCD (Pessoa Com Deficiência). Portanto, não havia premiação. Mas o senhor Floriano pegou uma medalha e me entregou, fazendo uma homenagem. Fiquei fascinada”.

Patrícia não parou mais de correr. Ela tem, hoje, em sua casa, um suporte onde coloca todas. Sente orgulho delas, tanto que as olha todos os dias. O hábito lhe valeu um apelido: “Rainha do Voltão”. É assim que é chamada em sua cidade, Bela Vista de Minas, na Região Central do estado: “Todos os sábados, faço uma corrida, de 25 quilômetros, ida e volta da minha cidade a João Monlevade”.

Patrícia tem ajuda de sua cidade. Tem patrocínio. A prefeitura, por exemplo, lhe dá transporte, colocando um carro à disposição, para participar das provas.

Apoio para a Maratona de Florianópolis

No caso da Maratona de Florianópolis, os comerciantes fizeram uma vaquinha, para pagar a passagem e o hotel. Uma empresa, Dimec, contribui com R$ 200 mensais e ainda dá os uniformes de corrida.

Em Florianópolis, Patrícia viveu emoções únicas, que a fizeram se sentir uma inspiração para outras pessoas. “Quando cheguei, estava chovendo. No hotel, havia outros corredores. Desci para o saguão e os ouvi reclamando do tempo. Falei então, que eu iria correr com qualquer tempo, apesar do meu problema, e que ninguém deveria desanimar diante de um desafio. Pois não é que as pessoas se animaram e disseram que eu estava certa. Algumas, depois da prova, me agradeceram”.

Uma das corredoras, por exemplo, a esperou depois da linha de chegada (fez o tempo de seis horas) para lhe contar que sentiu dor no meio da prova, mas que se lembrou de Patrícia e completou a corrida. “Ela disse que, enquanto doía, pensava em mim e que eu estaria cumprindo o percurso. Por isso, decidiu ir até o final.”

Missão de Patrícia

Patrícia diz que a corrida mudou a sua vida, sua maneira de pensar.

“A corrida salva vidas. Foi o que aconteceu comigo. Tenho que esse meu desafio é uma missão. Quero inspirar as pessoas. As medalhas são símbolos, mas o mais importante é quando uma pessoa vem me agradecer pelo que estou fazendo. Não tem preço”.

Patrícia Mara Santos, maratonista

Ela criou até um perfil no Instagram: Paty Paraatleta, em que pode ser seguida: “Tudo o que faço coloco lá. Quero inspirar as pessoas. Que quem tem o mesmo problema que eu também venha para a corrida”.

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