MARATONA DO RIO

Como funciona a Maratona do Rio? Diretor explica montagem e aponta mudanças

Ao No Ataque, Pedro Pereira, head de produto da Maratona, explicou processos de montagem e organização e contou novidades para 2026

Na 46ª edição, a Maratona do Rio conseguiu cumprir mais uma vez o principal objetivo: reunir corredores iniciantes, amadores e profissionais em uma mesma prova motivados pelo amor à corrida. A preparação e o planejamento para que todo ano o evento seja realizado começa anos antes. Ao No Ataque, Pedro Pereira, head de produto da Maratona, explicou os processos de montagem e organização, além de ter apontado já mudanças e novidades para 2026.

Há mais de 10 anos nos bastidores, Pedro está acostumado com os processos. O modelo se mantém o mesmo. A cada ano, apenas alguns ajustes são feitos. A novidade deste ano foi colocar a prova dos 5km na quinta-feira (feriado nacional de Corpus Christi) e a dos 10km na sexta (dia útil). Toda a organização do evento é função de uma sociedade das empresas Dream Factory e Spiridon, que são as responsáveis desde a montagem da estrutura até contratação de funcionários.

“A gente sempre faz um planejamento a longo prazo, de três a cinco anos, traça os objetivos do festival como um todo. Por exemplo, esse ano, consolidou esse formato 5km, 10km, 21km, 42km, cada dia uma prova. Isso a gente planejou há três anos. E foi construindo, é uma costura com a prefeitura para fechar mais um dia e homologar percursos”, começou Pedro.

O primeiro planejamento é colocar o corredor em primeiro lugar. A ideia é que a prova seja imersiva na cidade. Além de correr com vista para os pontos turísticos do Rio, o atleta também vive a experiência carioca, da cultura e gastronomia, por exemplo.

“A gente quer que o corredor venha para o Rio e fale da viagem, não só da prova. Sai daqui falando: ‘Cara, conheci o Rio, fui nos restaurantes que a Maratona do Rio me indicou, tinha desconto nos pontos turísticos, usei cortesia do metrô, fiquei no hotel oficial da Maratona”, contou.

Outro ponto é a participação da cidade como um todo. Nos quatro dias de prova, milhares de pessoas foram assistir e torcer pelos corredores. Este ano, foram mais de 60 mil inscritos. Com as ruas tomadas, a motivação vem de quem vibra a cada quilômetro.

“No pilar engajamento da cidade, a gente começa a costurar essas relações. Como é que faz o morador da cidade ir para a rua torcer. É um trabalho de comunicação, de falar do impacto que a prova traz para a cidade. Neste ano, 85% era de fora do Rio e isso lota hotéis, restaurantes, pontos turísticos, isso gera um impacto financeiro para o estado e para cidade. E aí o morador começa a entender que é um evento importante que acontece todo ano”, comentou Pedro.

Montagem da prova

Os corredores contam com uma espécie de “base”, que é chamada de “Casa Maratona”, que fica na Marina da Glória. No local, as pessoas retiram os kits das corridas e tem um espaço com diversas marcas patrocinadoras, com ativações para retirada de brindes. Além disso, a chegada e largada é próxima.

Segundo Pedro, a montagem da arena é a mais complexa, já que concentra muitas atividades. O espaço também conta com uma base de atendimento médico, com aparelhos médicos.

“Produção no geral, como materiais começa com muita antecedência. A medalha a gente começa a produzir cerca de cinco meses antes. A montagem da arena cerca de 20 dias antes, as tendas, montar a base de produção, com geradores. Depois entra uma das maiores estruturas que é o Hospital de Campanha. É uma tenda de 400 m quadrados, com 50 leitos, para atender todo tipo de cenário de saúde, desidratação ou até fratura”, explicou.

A desmontagem da estrutura dura cerca de quatro a cinco dias. No total, contando funcionários dos bastidores e até seguranças, médicos, enfermeiros são 3.100 pessoas envolvidas na produção da Maratona.

Planejamento de trajetos e execução da prova

O planejamento dos trajetos precisa receber aval da Prefeitura do Rio. Contudo, depois de aprovado, o fechamento é função da empresa organizadora. Depois dos objetivos traçados, a execução é a parte mais simples e rápida. A partir disso, é calculado em quais pontos são necessários apoio para os corredores.

“Quando a gente desce para a operação, é até mais simples. O percurso vai passar pela zona sul, depois vai chegar na Marina da Glória. Aí desenha o que tem que ter de operação. Tem a hidratação, os postos de ajuda, posição das ambulâncias, todo o acesso do staff que vai trabalhar, todo o planejamento de balizamento com as grades. Isso a gente vai desenhando ponto a ponto”, disse Pedro.

Para ele, o que facilita é a manutenção do modelo. Os percursos sofrem pequenas alterações, com o intuito de melhorar a experiência para o atleta.

“A prova vai melhorando, mas a gente não vai reinventando ela. Não precisa. Então, o percurso que a gente tem hoje, por exemplo, dos 42km, que é a prova principal, é um percurso que a gente começou em 2019 e só foi melhorando. A gente conseguiu cortar algumas curvas para tornar ele mais rápido, tirar subidas e descidas”, contou.

Os valores entorno da organização, considerando estrutura até a contratação de serviços não é divulgada, mas o diretor confessou ser um “projeto bem caro”.

Participação feminina recorde

Neste ano, o público feminino tomou conta da Maratona. Os dados da organização apontaram que 52% do total de inscritos são mulheres — maioria nas distâncias de 5K, 10K e 21K. O dado representa um crescimento de 12% nos últimos quatro anos. Para Pedro, que participa ativamente da produção e organização do evento, o recorde foi orgânico.

“Eu atribuo isso, inclusive o fato de ainda não ser maioria nos 42km, a dificuldade que a mulher naturalmente tem em entrar em um ciclo de maratona, que demanda muito treino. Então, encontrar esse tempo, sair mais cedo, muitas vezes sozinha para treinar, é difícil. Mas está mudando.”

“A gente fica feliz de ver que está crescendo nas outras distâncias até se tornar maioria em todas. A gente não fez nada, é um comportamento da comunidade mesmo. Uma coisa que a gente atribui a essa mudança é o crescimento dos grupos de corrida, porque aí sim a mulher consegue ter uma estrutura para fazer isso, para se sentir segura par sair para treinar cedo”, opinou o head.

Mudanças e novidades na Maratona

Para 2026, o planejamento já está traçado. Uma das mudanças que serão feitas é na incorporação de um novo desafio. Para os corredores já existe o principal desafio, que se trata do 21km + 42km (o atleta faz as duas distâncias, uma em cada dia).

“A gente viu que tem muitos corredores que correm as quatro. E vamos lançar o desafio de quatro dias. Que aí a pessoa ganha uma sexta medalha, ganha uma por cada prova, ganha a do desafio 21km + 42km, e mais uma outra por ter feito as quatro. Era uma coisa que já pensávamos, mas queria entender a demanda. Esse ano, sem ser uma uma categoria oficial, mais de 700 pessoas fizeram inscrição para as quatro”, falou Pedro.

Outra novidade da Maratona será a implantação de um novo circuito de preparação para a Maratona do Rio. A ideia é levar as provas para diversas cidades do Brasil. A primeira será Recife. O staff da Dream Factory já está em negociação com outras capitais.

As ideia é que as provas tenham percursos crescentes até a data da Maratona do Rio. A primeira cidade a receber o evento será Recife, que contará com percursos de duas distâncias – cinco e 10 quilômetros. O objetivo é estimular o corredor a viajar o Brasil. A empresa também pretende montar estrutura similar, ainda que em menor escala, como a da Casa Maratona pelas cidades.

* A repórter viajou ao Rio de Janeiro a convite da Maratona do Rio

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