Rio de Janeiro – Em fevereiro de 2016, ainda com 15 anos, ela disputou a prova de skeleton nos Jogos Olímpicos de Inverno da Juventude em Lillehammer, na Noruega. Oito anos depois, no verão da França, ela representará o Brasil na Olimpíada de Paris na disputa por uma medalha no levantamento de peso. A carioca Lauro Amaro, de 23 anos, trocou o esporte, a estação e a faixa etária, e tem, sem dúvidas, uma das histórias mais inusitadas e curiosas do Time Brasil.
Na sétima colocação do ranking olímpico da International Weightlifting Federation (IWL) na categoria até 81kg, Laura Amaro garantiu vaga em Paris 2024 e teve um ciclo olímpico com direito a feito inédito no levantamento de peso. Ela foi a primeira brasileira a conquistar uma medalha em um mundial – prata em dezembro de 2021, no Uzbequistão – e a terceira a medalhar em Pan-Americano – bronze em outubro de 2023, no Chile. Só que antes de pensar nos Jogos Olímpicos deste ano, é importante relembrar a outra experiência olímpica da atleta.
Em entrevista exclusiva ao No Ataque, Laura Amaro explicou como a “cria” da Zona Norte do Rio de Janeiro, precisamente de Cascadura, foi parar no skeleton, que é um esporte desconhecido no Brasil e um dos mais radicais da Olimpíada de Inverno. De forma individual, o atleta se lança em um trenó e desce a pista de cabeça – o capacete é um equipamento obrigatório na prática do esporte. O competidor que fizer o percurso no menor tempo vence a prova.
“Sou de um projeto social da Marinha do Brasil, e o quartel onde eu treino hoje é um centro de excelência em educação física. Na época eu já treinava levantamento de peso e estava tendo simplesmente uma seletiva para os Jogos Olímpicos de Inverno. E [para disputar] o skeleton, o que você precisa? De potência, força e velocidade. Então, eu que era do futebol, já tinha uma ‘velocidadezinha’ maneira, e um ano de levantamento de peso, então já tinha uma ‘forcinha’. Então foi tudo que as treinadoras britânicas da época, que representavam a CBDG, estavam precisando no momento: uma menina veloz e potente, que era o que eu tinha ali com 15 anos de idade”
Laura Amaro, representante do Brasil em Paris 2024
Depois dos testes no Rio de Janeiro, Lauro Amaro foi selecionada para defender o Time Brasil nos Jogos Olímpicos da Juventude. Naquela ocasião, o país foi representado em toda a competição por somente dez jovens, e a carioca se tornou a primeira brasileira da história a disputar uma prova de skeleton em nível olímpico. Mesmo com a aleatoriedade da convocação, a família deu apoio à atleta que tinha apenas 15 anos na época.
“As treinadoras gostaram e falaram que fui escolhida para ir para o Pré-Olímpico. Aí foi uma loucura lá em casa, meus pais falavam: ‘Como assim?’ Mas meus pais são muito queridos, são pessoas muito sábias e serenas. Sempre procuraram ouvir, entender. Eles foram até o quartel, conversaram com a Confederação, com as treinadoras, viram que era uma baita oportunidade. Que bom que eles me deixaram ir”, ressaltou Laura.
Ensinamentos olímpicos
Só que além de inusitada, a história teve caráter marcante para Laura por um motivo básico: ela nunca havia viajado de avião, não conhecia outros países e embarcou, diretamente, para competir em uma Olímpiada de Inverno, na Noruega, durante a rigorosa estação nos países nórdicos. Uma experiência curiosa e marcante para a atleta que carrega no braço os aprendizados olímpicos.
“Foi minha primeira vez fora [do Brasil]. Foi a primeira vez que eu viajei de avião, foi a primeira vez que eu vi neve, foi assim tantas primeiras vezes. E ainda me deparo com o espírito olímpico. Até tatuei [no braço esquerdo]: excelência, respeito e amizade, que foram as coisas que eu mais trouxe dessa experiência olímpica e desse momento tão especial na minha carreira tão nova, ali, com 15 anos. Foi bem legal”
Laura Amaro, atleta do levantamento de peso
Agora, em uma estação diferente, Laura retornará à Europa com muito mais experiência e em um esporte que ela tem feitos marcantes e vive ótimo momento. Além das medalhas em 2021 e 2023, a carioca bateu o seu próprio recorde em 9 de abril de 2024. Na Copa do Mundo em Phuket, na Tailândia, a atleta levantou 112kg no arranco e 141kg no arremesso e alcançou a marca de 253kg.
Em agosto, em Paris, Laura Amaro buscará melhorar ainda mais seus números para buscar a primeira medalha olímpica do Brasil no levantamento de peso. Assim como a carioca, outra brasileira representará o país na modalidade: Amanda Schott garantiu vaga na categoria até 71kg.
O repórter viajou ao Rio de Janeiro a convite da Petrobras para o evento de apresentação do time da empresa. Acompanhe o No Ataque nos próximos dias e veja mais entrevistas exclusivas com atletas que disputarão a Olimpíada e Paralimpíada de Paris, como Ana Patrícia e Duda Lisboa, dupla do vôlei de praia, Isaquias Queiroz, da canoagem, Keno Marley, do boxe, Milena TItoneli, do taekwondo, e Petrúcio Ferreira, do atletismo paralímpico, além de mais falas de Laura Amaro.