Paris está diferente. Não é preciso ter vindo à cidade antes para saber disso. Ruas fechadas, policiais por toda parte, multidões de turistas caminhando de um lado a outro… O cenário pré-Jogos Olímpicos impõe um desafio: como se locomover? Mais experiente na capital francesa, o fotojornalista Leandro Couri propôs a missão de percorrer alguns dos principais pontos turísticos de bicicleta, meio de transporte eficiente em dias normais.
Mas não vivemos dias normais por aqui. O trajeto de 13,4 quilômetros, que poderia ter sido feito na metade do tempo, exigiu quase duas horas de pedalada. A região central da capital olímpica está cercada. A maioria das ruas que ligam ao Rio Sena tem circulação limitada a moradores (previamente investigados criminalmente), trabalhadores locais, pessoas com reserva em restaurantes ou outros tipos de serviço e profissionais credenciados para a Olimpíada.
O ponto de partida do “périplo” foi o ainda-mais-caótico Arco do Triunfo. Dos pés do enorme monumento de 50m de altura, o sentimento de pequenez se fez ainda mais profundo em meio à quantidade de visitantes que se espremiam e digladiavam pelo melhor lugar para as fotos. Sair de lá foi ainda mais difícil: o trajeto de 3,4 quilômetros de bike até a Torre Eiffel durou quase 40 minutos, tempo impensável no cotidiano pré-Olímpico da cidade.
A cada cinco ou seis ruas, gradis e policiais conferiam os documentos das pessoas que trafegavam. A preocupação se explica: as autoridades locais temem a possibilidade de atos terroristas durante a Cerimônia de Abertura, que ocorrerá ao longo do Sena nesta sexta-feira (26/7), a partir das 14h30 (de Brasília, ou 19h30 no horário local). São esperadas até 600 mil pessoas, de longe o recorde de audiência in loco para esse tipo de evento – que, pela primeira vez, será realizado em espaço aberto e não em um estádio.
O complexo esquema de policiamento foi batizado pelas autoridades locais de “perímetro de proteção antiterrorista”. O fechamento do local começou no dia 18 de julho, oito dias antes da Cerimônia de Abertura. Várias linhas de metrô nas imediações do Sena serão desabilitadas temporariamente.
O Sena, cenário de todo o trajeto, já está vestido de Olimpíada e com trechos inacessíveis até para credenciados: “Ali nem militares podem entrar”, contou um policial, mais calmo, após gritar várias vezes para que déssemos meia-volta.
O problema é que, durante nosso trajeto, não houve um padrão de revista entre os policiais. Em alguns casos, os mais rígidos verificavam credencial olímpica, passaporte e mochila. Contudo, houve aqueles que não conferiram nenhuma das três – momento flagrado por nossas filmagens.
De ponta a ponta do trajeto (veja no mapa), as pessoas foram rareando. Cenários históricos estavam semi-desertos, ocupados por poucos policiais aparentemente entediados. Algumas bicicletas, carros e pedestres trafegavam pelo local, em um clima quase melancólico a apenas três dias do início oficial do maior evento esportivo do planeta. Por ali, centenas de milhares de pessoas vão se aglomerar para acompanhar a passagem dos barcos com as delegações dos países.
Louvre, casa de Monalisa, e o Museu Rodin, que exibe obras do lendário escultor francês Auguste Rodin, estavam fechados. Ponto final do trajeto, o Centro Georges Pompidou parecia um esboço do que costuma ser.
É neste misto de empolgação, precaução e desconfiança que Paris aguarda o início dos Jogos. A cidade que durante anos foi majoritariamente contrária à realização da Olimpíada se vê impactada, fisicamente, pela iminência do evento.