DA ARQUIBANCADA

Palhinha, que falta faz

O velho "Palha" foi o sétimo maior goleador da nossa história e fez parte da geração capaz de evitar uma ruptura após o desmonte do time campeão de 1966

Poxa, Wesley… Domingo passado, era só correr em disparada, como fez, mas ao chutar, tivesse um pouco mais de capricho. Uma palhinha para o lado esquerdo e era 1 a 0 para a gente contra o Coritiba.

Caramba, Mateus Vital! De frente para o gol? Praticamente o último lance da peleja. O passe do Stênio foi perfeito. Cara a cara com o goleiro deles, bastava você ter uma palhinha a mais de cuidado no arremate e era gol.

Que falta faz uma palhinha.

Assistir o atual ataque do Cruzeiro é morrer de saudade. Saudade de gritar gol. Saudade de um homem-gol. Saudade de Vanderlei Eustáquio de Oliveira comandando nosso ataque. Saudade de gênios como esse ídolo eterno que partiu e virou estrela nessa semana.

Que falta faz o Palhinha.

O velho “Palha”, como era chamado pelos companheiros de escrete, não foi apenas o sétimo maior goleador de toda a nossa centenária história. Ele fez parte da geração que foi capaz de evitar uma ruptura após o desmonte do time campeão brasileiro de 1966. E esse fato não pode ser menosprezado ao analisarmos a trajetória do Palestra/Cruzeiro. Imagina o tamanho da responsabilidade de quem viria após a máquina de fazer gols formada por Tostão, Natal, Evaldo e Hilton Oliveira?

Pois bem, essa missão coube ao remanescente Dirceu Lopes e também a quatro garotos. Palhinha, Roberto Batata, Joãozinho e Eduardo “Rabo de Vaca” acabaram por formar o quarteto de atacantes vindo das categorias de base do Cruzeiro mais impressionante de todos os tempos. A habilidade para driblar e o faro de gol eram suas marcas registradas. Eles em campo, certeza de espetáculo.

Palhinha rapidamente se destacou e antes mesmo dos outros três já atuava como titular do time da transição entre as décadas de 1960 e 1970. Quando veio a Copa Libertadores de 1976, o centroavante já não era mais uma “promessa”, tendo passado, inclusive, pela Seleção Brasileira.

Contra o Bayern de Munique, no Mundial de 1976, só mesmo o melhor zagueiro da história do futebol no mundo, Franz Beckenbauer, para conseguir deter Palhinha. Mesmo assim, quem esteve presente naquela noite no Mineirão jamais esquecerá o drible curto, magnífico e típico de quem aprendeu a jogar no futebol de salão – como Palhinha, dado por ele no alemão, que caiu sentado no gramado.

Infelizmente, o título não veio naquela noite, nos faltou uma palhinha para furar o paredão Sepp Mayer, acertar o gol e reverter a vantagem de 2 a 0 construída pelo Bayern na neve do inverno europeu. Palhinha deixou o jogo machucado e dias depois, se despediu em definitivo, rumo a novos desafios em São Paulo. Sua contratação pelo Corinthians foi a mais cara da história do futebol brasileiro, até então.

Talvez, por pura coincidência, no ano seguinte, começou um longo período de seca para o Cruzeiro. Até vencemos o Campeonato Mineiro de 1977 e chegamos novamente à final da Libertadores. Mas fica para sempre uma palhinha de dúvida: teríamos deixado escapar o bicampeonato continental, contra o Boca Juniors, se Palhinha não tivesse sido vendido para o Corinthians?

Anos depois, Palhinha voltou ao Cruzeiro e, junto dele, também regressaram os títulos. Fomos campeões em 1984. E se ao final da década de 1960, ele foi um garoto do juvenil promovido ao profissional em um momento de transição, na sua segunda passagem pelo clube, já veterano, viu surgir outros moleques incríveis da base celeste, como Douglas e Eduardo Lobinho.

Nessa semana, nosso goleador partiu. Deixando uma linda história para ser lembrada, estudada, admirada e ovacionada por todos nós, cruzeirenses.

Ah, Palinha, obrigado pelas inúmeras palhinhas com as quais nos presenteou vestindo o Manto Sagrado. Vá driblar os anjos; fazer tabelas com o Batatinha e estufar as nuvens do céu com seus lindos gols. Um abraço, velho Palha!

Compartilhe