Uma vitória do Cruzeiro na peleja contra o líder Botafogo, domingo, no Mineirão, irá muito além dos três pontos na tabela. Será um passeio por jogos históricos do passado; uma oportunidade de superação no presente e um sopro de esperança por um futuro de redenção.
Em 10 de outubro de 1995, Cruzeiro e Botafogo protagonizaram uma das partidas mais eletrizantes da história do Mineirão. Era a nona rodada do Brasileirão. Apesar da boa campanha dos dois clubes, nem de longe eram cotados como favoritos para levar o caneco.
Nas arquibancadas, éramos mais de 40 mil presentes. Tínhamos desfalques importantes, como o arqueiro Dida, entregue à Seleção Brasileira. Mas o mago Ênio Andrade havia montado uma trinca de ataque mortífera, com Marcelo Ramos, Paulinho McLaren e Roberto Gaúcho. Dando suporte a eles, o craque máximo Nonato e a dupla de volantes Fabinho Guerreiro e Ricardinho.
Do outro lado, também um timaço. Repleto de craques que, em outras épocas, vestiram o nosso manto sagrado, como Gottardo, Gonçalves, Sérgio Manuel, Túlio Maravilha e o treinador Paulo Autuori.
Com 30 minutos de jogo, já ganhávamos por 2 a 0, gols do Flecha Azul. Foi quando se iniciaram as reviravoltas que para sempre marcaram aquela peleja. Ainda no primeiro tempo, uma virada inacreditável do Botafogo: 3 a 2.
Mas Seu Ênio fez o Cruzeiro se transformar em uma máquina de jogar futebol. Os gols foram saindo: empate e a segunda virada, desta vez celeste, com dois de Paulinho McLaren. A festa na arquibancada já era histórica quando Marcelo Ramos completou o placar: 5 a 3.
Nas semifinais, Cruzeiro e Botafogo voltaram a se enfrentar. Porém, daquela vez, os cariocas, jogando por resultados iguais, foram às finais com dois empates e sagraram-se campeões brasileiros de 1995.
Apesar da nossa triste desclassificação, o histórico 5 a 3 foi o prenúncio da montagem de um time avassalador, que logo na sequência nos traria dois bicampeonatos: a Copa do Brasil (1996) e a Libertadores (1997).
PRESENTE
Bater o Botafogo no domingo não significará, como em 1995, a oportunidade de colarmos nos líderes do Brasileirão. Pelos últimos três tropeços (Coritiba, Goiás e Athletico Paranaense) nos distanciamos da parte de cima da tabela durante o mês de julho. Mas isso não fará de uma possível vitória algo menor ou insignificante. Pelo contrário, os efeitos motivacionais poderão ser ainda maiores do que os vividos após a goleada de 1995.
Com as novas contratações, internamente, os ânimos do escrete estão reavivados. A mudança de esquema tático imposto por Pepa, que fez relembrar a intensidade dos tempos de Pezzolano, também surtiram efeito contra os paranaenses. Certamente, coroar isso com uma vitória sobre o líder disparado do Brasileirão, com o Mineirão lotado, nos devolverá, no presente, a confiança para almejar algo para além da permanência na Série A.
FUTURO
Permanecer e ter condições de estabelecer metas ousadas para a temporada de 2024. O embate contra o Botafogo, no domingo, também passa a ter todo um simbolismo quando pensamos no futuro.
Daqui a aproximadamente 150 dias, o alvinegro carioca pode se tornar o primeiro clube brasileiro administrado no modelo Sociedade Anônima do Futebol (SAF) a se sagrar campeão nacional. E mais, apenas uma temporada depois dessa mudança drástica dentro do clube – o Botafogo se tornou SAF em março de 2022, pouco tempo depois dos pioneiros Cuiabá e Cruzeiro.
Assim como Ronaldo por aqui, por lá, John Textor não prometeu milagres. Ao contrário do Fenômeno, levou sim jogadores – de certa forma – badalados, como Patrick de Paula, do Palmeiras e Victor Cuesta, do Internacional, mas o foco era mesmo arrumar a casa antes de almejar títulos. Lá já estão sendo recompensados. Ninguém poderia imaginar que a SAF Botafogo estaria hoje como franca favorita ao título do Brasileirão 2023.
Que a peleja de domingo nos traga boas lembranças do passado; nos leve de volta aos trilhos do presente e nos inspire para o futuro que tanto almejamos.