Quando o Campeonato Brasileiro começou, não faltou quem apontasse Atlético, Flamengo e Palmeiras como candidatos ao título. Praticamente uma reedição das duas temporadas anteriores. As apostas recaíam sobretudo no fato de os três terem grupos tecnicamente fortes, no sentido coletivo e individual. O roteiro da competição ao longo de quase oito meses chegou a desafiar essas certezas, mas eis que a duas rodadas do fim será justamente nas mãos de um deles que a taça do torneio acabará.
Cada qual construiu trajetória particular. Mas não há dúvida de que foi o gás da reta final que os trouxe até esse cenário, de briga pelo troféu. Foram vários os momentos em que a estrada não parecia levar para esse destino. Não por acaso, dois deles optaram pela mudança de treinador para tentar corrigir a rota.
No caso do Galo, há quem entenda que o time teria trajetória ascendente mesmo com Eduardo Coudet no comando. Se não lutaria pelo título, pelo menos por um G-4, que garante vaga direta na Libertadores. Quando Luiz Felipe Scolari assumiu, a equipe entrou em queda livre. Demorou a encontrar o prumo, engatou série de partidas sem vitória, tudo dava errado.
As atuações eram marcadas pela descoordenação. Paulinho, uma das contratações mais acertadas, foi escolhido como bode expiatório. Outros reforços como Edenílson eram quase ‘excomungados’. Até que a maré virou. Paulinho foi “perdoado” ao marcar gols e mais gols na Arena MRV, determinantes para a arrancada do alvinegro. Hulk mostrou por que tem nome de super-herói. Everson fechou o gol. Até Edenílson (aquele) se firmou como titular.
Já o Flamengo iniciou o Nacional com Jorge Sampaoli, que foi demitido após a eliminação na Copa Libertadores, o vice na Copa do Brasil e pela instabilidade no Brasileiro. Tite foi anunciado em 9 de outubro, pegou o rubro-negro em quinto lugar e chegou falando em vaga na Libertadores – com o passar dos jogos, porém, viu as ambições aumentarem diante da possibilidade de título.
Há quem atribua a reação de Atlético e Flamengo à troca de treinador. O mais longevo dos técnicos da Série A e aquele que está mais perto de se sagrar campeão da edição de 2023 discorda. Já cansado do jeito brasileiro de gerir futebol (e, muitos garantem, de malas prontas para o mundo árabe), Abel Ferreira foi incisivo outro dia, ao comentar esse vaivém.
“Vocês esperam que Palmeiras, São Paulo, Corinthians, Flamengo, que ganhem todos, mas só um pode ganhar. As pessoas não entendem isso, até o Guardiola foge daqui, nem o Guardiola quer vir para o Brasil. Só um pode ganhar, e as pessoas não entenderam isso”, disparou.
Mudança no returno do Brasileiro
Fato é que para chegar até aqui Atlético, Flamengo e Palmeiras contaram com algumas doses de competência, sorte e também com uma inesperada derrocada do Botafogo. O alvinegro carioca encerrou o turno com 82,46% de aproveitamento. Tinha 15 vitórias, dois empates e duas derrotas em 19 jogos. Nada menos que 35 gols a favor e só 11 contra. No returno, tem campanha de Z-4: 16 pontos, de três vitórias, sete empates e sete derrotas; 22 gols marcados e 23 gols contra.
O líder da segunda metade do campeonato é o Galo, com 36 pontos em 17 jogos, sendo 11 vitórias, três empates e três derrotas. São 27 gols marcados e 10 sofridos. Em seguida aparece o Palmeiras, com 36 pontos: 11 vitórias, três empates e três derrotas. Soma 27 gols a favor e 10 contra. Depois vem o Flamengo: 31 pontos de nove vitórias, quatro empates e quatro derrotas. Fez 23 gols e levou 16.
Segundo cálculos matemáticos, o time paulista é amplo favorito nesse campeonato particular entre os três. De toda forma, o trio subverteu os memes de expectativa x realidade e está entregando (tardiamente que seja) o que se esperava deles. A 180 minutos do apito final, fizeram jus às previsões.