TIRO LIVRE

Mineiro em Brasília, carioca em Manaus: o espírito cigano dos estaduais

O clássico entre Flamengo e Vasco, em 4 de fevereiro, por enquanto, está marcado para o Maracanã; mas não se assuste se ele for parar fora do Rio

Os campeonatos estaduais são verdadeiros “sobreviventes” no futebol brasileiro. Remam contra a maré, enfrentam críticas, mas estão aí, (aparentemente) firmes e (não mais tão) fortes. Neste ano, no entanto, alguns clubes decidiram inovar. Romper os limites dos estados e mandar seus jogos em outras paragens, numa espécie de ‘globalização’ da competição. Não deixa de ser estranho.

A partida entre Itabirito e Atlético, em 18 de fevereiro, vai parar no Mané Garrincha, em Brasília. A motivação é financeira: o clube do interior vai embolsar R$ 1 milhão com a venda do mando de campo. Além disso, diz que a iniciativa possibilita levar o nome dele para além das montanhas de Minas.

A intenção pode ser compreensível, até porque o Itabirito já vai atuar fora de casa no Estadual – escolheu como palco o Independência, em Belo Horizonte. Contudo, não deixa de ser um desprestígio com seus torcedores locais, que perderão a oportunidade de ver, in loco, o confronto com o Galo.

O Vasco, por sua vez, virá para Minas Gerais jogar o Campeonato Carioca. No dia 31 deste mês, vai “visitar” o Nova Iguaçu no Parque do Sabiá, em Uberlândia. A equipe da Baixada Fluminense também negociou o mando e não deixou escapar a chance de embolsar algum dinheiro.

Flamengo em Manaus

O Flamengo levou jogo do estadual para ainda mais longe. Estreou em Manaus, contra o Audax, nessa quarta-feira (17/1). Contou com a Arena da Amazônia lotada – público presente de 44.068 pessoas, sendo 41.600 pagantes – e renda recorde: nada menos que R$ 6.574.690, a maior do estádio, superando os R$ 5.840.500,50 registrados no Brasil x Colômbia, pelas Eliminatórias para a Copa de 2018.

O ingresso mais barato para a partida pelo Carioca custou R$ 150 (de meia-entrada), e o mais caro R$ 600.

A experiência d’além Cidade Maravilhosa vai se repetir. Como um time em excursão pelo Brasil, o rubro-negro vai encarar Nova Iguaçu, Portuguesa e Sampaio Corrêa também fora do Rio. O jogo contra o Nova Iguaçu, domingo, será na paraibana João Pessoa. Em Natal-RN, o Flamengo vai encarar a equipe lusa, no dia 27. E depois vai para o Pará, jogar contra o representante da cidade de Saquarema em Belém, no dia 31.

Rodolfo Landim, presidente rubro-negro, explica assim a escolha: “A gente tem 44 milhões de torcedores, mas só oito milhões no Rio de Janeiro. Os demais estão espalhados pelo Brasil. É muito importante que a gente leve o Flamengo para eles também”.

Ele deixa claro que não deve parar por aí. Estuda levar mais uma partida, pelo estadual, para alguma cidade do Nordeste. A aposta é que a escolha seja Aracaju, para o duelo com o Bangu, em 14 de fevereiro – quarta-feira de Cinzas.

O clássico contra o Vasco, em 4 de fevereiro, por enquanto está marcado para o Maracanã. Mas não se assuste se ele também for parar em algum estádio de outro lugar do Brasil, bem longe dos olhares do Cristo Redentor.

Esse espírito cigano instigado pelo capitalismo não deixa de ser mais um golpe nos estaduais, que vão perdendo elementos de sua identidade e se rendendo ao espírito mercantilista que, cada dia mais, avança suas garras pelos campos de futebol.

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