Na correria do mundo moderno, por vezes perdemos a noção do passar dos dias. Atlético e Cruzeiro voltarão a se encontrar neste sábado, apenas 13 dias depois do confronto pela final do Campeonato Mineiro. Mas parece que tem até mais tempo – até porque muita coisa aconteceu desde então, principalmente pelos lados da Toca da Raposa.
Naquela ocasião, os rivais chegavam para a partida em condições distintas. O alvinegro vinha pressionado pela torcida, por ter cedido o empate ao rival no jogo de ida, na Arena MRV, depois de abrir 2 a 0 no placar. Seria o segundo confronto do Galo sob o comando de Milito. Já os celestes levavam boa vantagem para o duelo decisivo, dependendo apenas do empate para serem campeões, e ainda teriam o estádio totalmente tomado por sua torcida.
O roteiro garantiu dose extra de emoção naquela tarde no Mineirão: a Raposa administrou um primeiro tempo sem gols, abriu o placar no início do segundo e parecia escrever um roteiro tranquilo rumo à taça. Mas uma mudança ousada de Milito no time alvinegro mudou os rumos da partida. A vitória de virada por 3 a 1 garantiu o pentacampeonato ao Galo.
Aquela derrota ecoou de forma profunda na Toca. O que era para ser um contratempo passível de ocorrer em qualquer início de trabalho, ganhou ares dramáticos. Torcida insatisfeita, dirigentes pressionados. Sobrou para Larcamón, que perdeu o emprego.
Não deixou de surpreender, porque geralmente clubes geridos por empresas não tomam o caminho da passionalidade. A cartilha de quem é SAF costuma ser regida por apostas em trabalhos a longo prazo, avaliados mais por desempenho do que por resultados. E Larcamón vinha descrevendo boa trajetória com o que tinha em mãos. Ronaldo e companhia, contudo, optaram por contrariar a lógica deste novo mercado no futebol e mudar.
Mais surpreendente ainda foi a decisão de trazer Fernando Seabra de volta. A manobra teve ares de mea-culpa. Afinal, o Cruzeiro teve uma grande oportunidade para avaliar a condição de Seabra como treinador na reta final da Série A do Campeonato Brasileiro de 2023. Ele assumiu interinamente e cumpriu o papel esperado, mantendo a Raposa na elite.
No início desta temporada, no entanto, em vez de ser efetivado no comando, foi devolvido para a categoria de base cruzeirense, para dirigir o time Sub-20 na Copa São Paulo. Depois do vice-campeonato (ao perder a final para o Corinthians), o próprio Seabra decidiu buscar novos ares e assumir o Sub-23 do Bragantino.
Coincidências de Seabra e Milito
Larcamón caiu e aí, sim, o Cruzeiro decidiu rebobinar a fita e reescrever a história, desta vez dando o comando do time para Seabra. São apenas três jogos desde então e ainda nenhuma derrota.
Essa invencibilidade é um ponto em comum com Milito – que em seis partidas à frente do Atlético segue sem perder.
Outra coincidência é que os dois chegam para o clássico depois de empates por 1 a 1 no meio de semana, pelo Brasileiro. Nesse caso, melhor para o lado celeste, que saiu atrás no marcador contra o Fortaleza, no Ceará, porém reagiu de forma consistente e conseguiu voltar para casa com a igualdade.
Já o Galo fez o caminho inverso: diante de sua torcida, mostrou um jogo coletivo de troca rápida de passes, abriu o placar, mas deixou o ritmo cair e permitiu o gol do Criciúma. Como no futebol a última impressão é a que fica, ouviu vaias.
Baseado nesses fatores, é possível dizer o Cruzeiro vai para o quarto clássico de 2024 com uma leve vantagem. Se não técnica, psicológica. Até porque também traz na bagagem uma importante invencibilidade na Arena MRV, que tem demonstrado ser um peso a mais para o Atlético a cada encontro com o rival.
Por tudo isso, não é exagero cravar que tanto quanto na bola, o jogo deste sábado será decidido, principalmente, no emocional. A força mental deve ser tão decisiva quanto Hulk ou Matheus Pereira.