“Tudo isso é ruim, para os jogadores, individualmente, e para o coletivo. A má notícia é que não será uma situação isolada. Ao longo deste mês, Milito terá de lidar novamente com a questão em outras partidas. Vamos ver quem é que vai pagar o pato.” Assim terminava a Coluna Tiro Livre da sexta-feira passada. O assunto eram as consequências esperadas para os muitos desfalques do Atlético, por convocação para seleções, suspensões e lesões. Uma semana depois, cá estamos: duas derrotas, oito gols sofridos e dois gol marcados. Mas não era preciso ser vidente para imaginar isso.
Talvez não fosse possível, há uma semana, desenhar um cenário tão escabroso. Era sabido, contudo, que uma fase difícil se avizinhava. O Atlético não estava preparado para suportar tal sequência. Houve quem dissesse que nenhum time estaria, aliviando um pouco a responsabilidade dos dirigentes na tal “maré de azar”.
Ok, não dá para prever lesões e cartões, mas ter um grupo encorpado o suficiente para suportar ausências é parte de planejamento de um clube que inicia a temporada apostando que tem em seu elenco atletas de ponta, candidatos a convocações em suas seleções. E, a partir daí, deve-se projetar todo o restante.
O outro caminho seria adotar uma filosofia de vida extremamente positiva, apostando que nada de errado ocorrerá. Mas aí é brincar demais com a sorte. E parece ser essa a alternativa seguida por quem comanda o Galo. Nessa balança expectativa x realidade, a ilusão costuma perder feio.
Contra o Palmeiras, o atenuante poderia ser o peso do adversário, porém, esse argumento sucumbiu diante do placar expressivo. Uma coisa é ser derrotado. Outra, é perder o rumo. Foi a primeira goleada sofrida pelo alvinegro na Arena MRV. Ainda: o pior resultado do time nos últimos nove anos – desde 16 de setembro de 2015, quando amargou um 4 a 0 para o Santos, na Vila Belmiro.
A contestável expulsão de Hulk, quando o placar já apontava 1 a 0 para os palmeirenses, acabou desviando o foco dos três gols que o Atlético levou no segundo tempo da partida e até do placar em si. A torcida voltou toda a sua ira para o árbitro (justificadamente) e quase que de maneira automática fez vista grossa para a atuação da equipe.
Contra o Vitória, em Salvador, ontem, não teve como passar pano. Na derrota por 4 a 2, o Galo entrou em campo com as feridas expostas. Parecia ter saído do jogo contra o Palmeiras direto para a partida contra os baianos, como se ainda estivesse atordoado. E olha que pegou um adversário que até a rodada passada era o lanterna do Campeonato Brasileiro.
O técnico Gabriel Milito tentou de tudo. Fez substituições, trocou jogadores de posição, mas não teve como dar jeito na desorganização tática de sua equipe. Um time desajustado no ataque e, principalmente, na defesa, que bateu cabeça nos contra-ataques adversários e fez de um volante, William Oliveira, artilheiro da competição, ao balançar as redes duas vezes. O ex-jogador do Cruzeiro chegou a cinco gols em nove jogos no Nacional.
Não era difícil prever as dificuldades que o Galo vem passando. O problema é o vexame, a maneira como as duas derrotas foram construídas. E não é porque o time conseguiu fazer dois gols no Vitória que deixou de ser vergonhoso. Tão ruim quanto a forma foi o conteúdo.
Até os jogadores reconheceram isso. Ao volante Battaglia (um dos desnorteados da defesa alvinegra), restou pedir desculpas ao torcedor. E admitir: “Com desfalques ou não, somos um grupo que precisa competir de igual para igual em todo campo”. É isso: o Atlético não conseguiu competir com o Vitória.
Domingo, o time alvinegro pega o Fortaleza, em casa. De novo, com muitos desfalques. Milito terá muito trabalho, até lá, para evitar outro vexame na conta.