Quando ficou definido que a final da Copa do Brasil reuniria Atlético e Flamengo, muito foi falado por aí. Mesas redondas debateram a qualidade dos grupos de jogadores e viram até certa semelhança na trajetória dos times na temporada. Nas redes sociais, houve quem tentasse esvaziar a rivalidade, histórica, do confronto. Fato é que o que acontecer neste domingo (10/11), na Arena MRV, vai ecoar de forma profunda dos dois lados. Ninguém passará ileso.
Isso porque o Atlético precisa do título da Copa do Brasil tanto quanto o Flamengo. Para as duas equipes, a taça pode acabar sendo o fio que conecta a realidade com a alta expectativa criada no início da temporada. Dos dois lados, esperava-se mais. E esse “mais” pode se materializar no troféu que será entregue no domingo.
O Galo viveu um ano em que teve de se (re)conhecer como time, sob o comando de Gabriel Milito. Teve de encontrar a sua identidade como equipe se adaptando ao entendimento de futebol do argentino. Isso levou tempo e teve um custo.
Com um grupo tecnicamente heterogêneo, sem muitas peças de reposição à altura – diferentemente do que foi pregado de forma ilusória por aí –, o Atlético se viu diante de encruzilhadas. E, diante delas, temos de fazer escolhas. Não dá para ignorar que essas escolhas levam, necessariamente, a perdas. São os ônus e os bônus que acompanham toda decisão que tomamos.
Assim o fez Milito. Ao optar por manter um grupo forte para as Copas, teve de mandar a campo times alternativos no Brasileiro. A produção caiu, até demais, como foi visto diante do lanterna da Série A, o Atlético-GO. Mas esse e outros tropeços entram naquela conta do risco de perdas que assumimos ao tomar um caminho. O problema começa quando as pessoas começam a esperar que haja apenas bônus, esquecendo-se dos ônus.
O Galo se colocou, conscientemente, diante desses ônus. E precisa saber lidar com isso. O torcedor também precisa.
Na Copa do Brasil, o cenário se complicou muito em função da atuação ruim do time alvinegro no Maracanã (sobretudo naquele primeiro tempo apático), que contribuiu para que o Flamengo chegasse aos gols numa facilidade incrível. Mas de alguma forma o gol de Alan Kardec, que decretou o 3 a 1, injetou esperança. Mudou o “elemento anímico”, disseram os comentaristas da nova geração.
Milito apostou nas Copas. E terá de lidar com todas as dificuldades e percalços para que seu plano seja bem executado. A outra opção é o vice-campeonato. No fim das contas, tudo é uma aposta.
O Flamengo também se vê em meio a apostas. Aquela feita em Filipe Luís, que mal cruzou a linha como jogador aposentado e já se colocou no posto de comandante de um dos times de maior torcida do país.
Aposta no ressurgimento de Gabigol, ‘resgatado’ pelo novo treinador.
Aposta na taça da Copa do Brasil para validar uma temporada que, sem essa conquista, vai suscitar mais questionamentos que elogios.
Aposta também que poderia ter tirado da final um dos principais jogadores da equipe carioca, Bruno Henrique, se no Brasil já houvesse regramento mais rígido para disciplinar o mercado das bets.
A investigação sobre ele e outros (o botafoguense Luiz Henrique, um dos destaques do Brasileiro), dentro e fora do Brasil, evidencia os vários problemas dessa relação, inclusive expõe um caráter antiético: o de jogadores, que decidem lances em campo, serem garotos-propaganda de apostas em jogos de futebol.
Domingo, quando a bola rolar a partir das 16h, os olhos do Brasil estarão voltados para BH, ávidos por descobrir quem fez a melhor aposta.