
A torcida brasileira queria. Os críticos esportivos, em sua maioria esmagadora, aprovaram. Jogadores, técnicos, na ativa ou não, deram o aval – embora, há de se registrar, um ou outro torceu o nariz, incomodado com um pretenso “desprezo” com os treinadores caseiros. Cá estamos, com um gringo no comando da Seleção Brasileira. Não qualquer um: o italiano Carlo Ancelotti.
Não há dúvida de que se trata de um treinador de grife – e aqui não vai nenhum trocadilho com os ternos bem cortados que Carletto costuma ostentar à beira dos campos, de badaladas marcas do país de origem dele. Muito além da elegância no visual, Ancelotti é um nome respeitado nos quatro cantos do mundo. Fama bem justificada.
Desde que virou treinador, em 1995, dirigiu 10 equipes. E foi vitorioso por onde passou. É, por exemplo, o único técnico a ter, no currículo, títulos das principais ligas do planeta. Foi campeão italiano com o Milan, em 2004; da Premier League com o Chelsea, em 2010; ergueu a taça do Francês com o Paris Saint-Germain em 2013; conquistou o Alemão com o Bayern de Munique em 2017; e ainda foi bicampeão espanhol com o Real Madrid em 2022 e 2024.
Isso sem contar os cinco troféus da Liga dos Campeões que tem na coleção: dois com o Milan, em 2003 e 2007, e três com o Real, em 2014, 2022 e 2024.
A trajetória de Ancelotti fala por si. Mais do que números, ele tem uma legião de admiradores entre os jogadores com os quais trabalhou. Quando foi anunciada a contratação pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), choveram elogios. Difícil um relato que não fosse associado a boas lembranças do italiano, tanto na esfera pessoal quanto na relativa a questões técnicas.
Mais de 40 atletas brasileiros passaram pelas mãos dele (mais precisamente, 43), e o próprio Ancelotti diz ter tido problema apenas com dois – sem citar nomes. Lógico que foram buscar no passado os vestígios de quem seriam as exceções, e sinais apontaram para o meia Rivaldo (que achou ruim de ficar no banco por não estar plenamente em forma, ao chegar ao Milan) e o ex-lateral Leonardo, diretor do PSG na passagem de Carletto pelo clube francês.
Coincidência ou não, Rivaldo foi um dos que se manifestaram a favor de um treinador brasileiro na Seleção.
Brasil x Equador
Pois o início oficial da era Ancelotti no Brasil começou. Ficará marcado pela partida contra o Equador, pelas Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo de 2026, mas será apenas um número, mera estatística. Esse grupo ainda pouco tem dele, até porque há jogadores que não foram convocados e certamente serão, como Rodrygo. Claro que todos os 25 chamados tiveram a sua anuência, mas é razoável dizer que nem todos foram escolhidos diretamente pelo recém-chegado treinador.
Só de não ter cedido à pressão (ainda que subjetiva) para convocar Neymar, Ancelotti mostrou a que veio. Foi coerente com sua carreira – e a do atacante, que pouco entrou em campo pelo Santos nesses cinco meses que veio passar no clube que o revelou.
Se Ancelotti cumprirá a missão que foi confiada a ele, de dar fim ao hiato de mais de 20 anos sem conquista de uma Copa do Mundo, ainda não se sabe. Mas a expectativa é de que, com mais tempo para observar jogadores e trabalhar, ele consiga extrair mais do que seus antecessores.
É cedo para cravar que vai devolver ao Brasil o futebol-arte. Mas, até disso, há indícios. Ancelotti traz, no nome, familiaridade com um dos maiores gênios de todos os tempos: Carlo Michelangelo Ancelotti Cavaliere. Que Pietá e Davi sirvam de inspiração para a Seleção Brasileira.