Por muito tempo, o nome de Cuca foi quase “santificado” no Atlético. Entre dirigentes e muitos torcedores, o homem que levou o clube aos títulos mais expressivos de sua galeria era incriticável. Alguns setores da imprensa também o alçaram a essa condição de divindade. Questionar qualquer aspecto da carreira do técnico soava como heresia.
Pois esse portal foi atravessado definitivamente na noite de quarta-feira, quando o Cruzeiro venceu, com autoridade, o alvinegro na Arena MRV, por 2 a 0, pela rodada de ida das quartas de final da Copa do Brasil. Ao apito final, Cuca foi destituído do olimpo. Tornou-se mortal. E, nessa condição, perdeu o benefício da reverência incondicional que ainda concediam a ele.
O dia seguinte à derrota para a Raposa talvez tenha sido o que Cuca mais foi cobrado em todas as quatro passagens pela Cidade do Galo. Desde a estreia, na derrota por 2 a 1 para o Botafogo, em 10 de agosto de 2011, poucas vezes o treinador foi submetido a tamanha pressão. E olha que são 292 partidas nessa caminhada, lista da qual fazem parte outros momentos que não deixaram boas lembranças. Porém, acabaram abafados pela coleção de troféus que ele levou para a galeria atleticana.
Técnico mais vitorioso da centenária história alvinegra, Cuca carregava consigo uma espécie de selo de garantia de conquistas para muitos. E isso se desfez.
A insatisfação veio de toda parte – de dentro e de fora do clube. Não por acaso. Os oito meses de trabalho desta temporada não dão mesmo margem a muitos elogios. O próprio treinador reconheceu isso há pouco tempo, quando disse não ter encontrado ainda a formação de time ideal.
Quem não queria ver, enxergou. A derrota para o arquirrival foi uma lupa, expôs todas as fragilidades da equipe atleticana. Mostrou como o time está mal treinado. Como os jogadores não encontram saída quando mais precisam. Giram a bola desordenadamente pelo campo. Atacantes isolados, distantes uns dos outros, clamando por uma assistência. O grande goleiro Everson à mercê de um sistema defensivo vulnerável.
Tudo isso reabriu feridas cicatrizadas nos torcedores do Galo. Reativou velhos traumas. Muitos desabafaram ainda na Arena MRV. O time foi vaiado. Cuca foi xingado.
Depois da partida, o técnico admitiu a baixa produtividade da equipe. Pior que isso: disse não ter certeza se conseguirá mudar esse cenário. Aí está o grande ponto da virada, aquele que quebrou o encanto e que pode (deve) decretar o fim da linha.
Cuca era o semeador de esperança. O catalisador de jornadas épicas em busca de taças. Por mais que as coisas estivessem difíceis em campo, uma ala da torcida (da diretoria, da imprensa…) acreditava no toque de midas que havia dado certo nas outras vezes. Queria crer que tudo funcionaria magicamente de novo. Só que o mundo da bola não funciona assim.
Essa alquimia se faz com muitos ingredientes, e é nítido que muitos deles faltam ao alvinegro. O talento individual não se sustenta. A força coletiva inexiste. A conexão entre o grupo não demonstra solidez. Três pilares que geralmente sustentam trabalhos vencedores.
Falta à equipe do Galo aquele brilho característico dos campeões. A faísca que acende a chama. O Atlético de Cuca está apagado. Difícil reverter um quadro assim.