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Mineirão 60 anos: histórias que vão além do futebol

Quem frequentou o Mineirão antigo tem um outro olhar sobre o que é ir a estádio de futebol. Uma perspectiva diferente, sensação quase de aconchego

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O Mineirão chega aos 60 anos, nesta sexta-feira (5/9), repaginado, com a vitalidade nas alturas, antenado às modernidades e uma bagagem histórica de dar inveja aos novinhos. Um sessentão que transita entre várias gerações e, assim, garante não só sua subsistência como também sua longevidade.

Nascido para servir ao futebol, viu que para sobreviver precisaria jogar nas 11. E assim o fez. Deixou a fidelidade às quatro linhas para trás e, cada vez mais, expande seus horizontes, abre os braços para o novo. Um Mineirão iluminado por luzes de led, que está mais conectado ao futuro do que ao passado de concreto que o consagrou. Há quem conheça apenas uma dessas facetas. Sorte de quem vivenciou as duas, que não deixam de ser complementares. E eu me incluo nessa lista.

O Mineirão entrou na minha vida muito antes do jornalismo esportivo. As memórias afetivas são, inclusive, tão ou mais fortes que as profissionais. Aliança que começou ainda no antigo estádio e que, por isso, me faz tão saudosista em relação àquele “Gigante”.

Quem frequentou o Mineirão antigo tem um outro olhar sobre o que é ir a estádio de futebol. Uma perspectiva diferente, sensação quase de aconchego, acolhimento. Naquela época, ninguém usava o termo multiuso para definir o estádio, mas ele já era assim.

Aos finais de semana, recebia famílias que buscavam os espaços abertos do estacionamento, no entorno, para se divertir. No meu caso, as lembranças remetem às manhãs de domingo. O Mineirão era quase um quintal da minha casa.

À sombra das árvores, minha mãe lia o jornal Estado de Minas. Pequena, eu me divertia vendo os praticantes de aeromodelismo colocarem no ar suas pequenas máquinas. Disputavam lugar no céu com as pipas, que a garotada adorava empinar por ali. Foi também onde aprendi a andar de bicicleta, guiada pelas mãos do meu pai.

Lembro-me como se fosse hoje. Eu tentando manter o ritmo das pedaladas, e ele correndo ao lado, segurando o selim para ajudar no equilíbrio. Até que peguei o embalo e segui firme, aumentando a velocidade, crente de que ele estava lá, segurando a bicicleta. Mas eu já guiava sozinha – e assim meu pai me ensinou que estaria sendo pronto a dar o impulso e o apoio para os meus voos pela vida.

Foi também na infância que o futebol pediu passagem. As brincadeiras em casa ficavam de lado assim que meu pai tirava o carro da garagem para ir ao estádio. Não foram poucas as vezes em que o esperei, sozinha, em um cantinho perto da bilheteria enquanto ele se espremia na “fila desorganizada” para comprar os ingressos. Tinha 11, 12 anos, e estava tudo certo. No meio dos torcedores, eu me sentia em casa.

A volta para casa era outro capítulo à parte. Minutos antes de acabar o jogo, meu pai já se levantava e ficávamos no rumo da escada, para ver os últimos lances dali. Ele, com o radinho grudado no ouvido. Antes do apito final, iniciávamos a corrida para o carro, para evitar o tumulto. Se o jogo terminava em vitória, a saída do estacionamento tinha como trilha sonora um buzinaço coletivo.

Anos depois, vieram as coberturas esportivas. Pelo meu olhar e relato, nas páginas do Estado de Minas, torcedores reviveram suas maiores alegrias, mas também remoeram grandes tristezas de seus times. Àquela repórter, que escreveu suas primeiras linhas no jornal em 1998 e que 20 anos depois foi alçada à condição de colunista, foram destacadas missões que mais soavam como realização de sonho. A Copa de 2014 foi o capítulo mais especial. A satisfação de pertencer àquele mundo e a certeza de que a parceria com o Mineirão se fortaleceu com o futebol, mas deixou marcas que vão muito além dele.

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