COLUNA TIRO LIVRE

O maior prejudicado com as confusões da arbitragem no clássico Atlético x Cruzeiro

Pois, diante de tantos 'poréns', Sampaoli decidiu ousar. Pra início de conversa, com a coragem de poucos, ele deixou Hulk no banco

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As horas seguintes ao fim do último clássico do ano entre Atlético e Cruzeiro foram dominadas por uma palavra: arbitragem. Pouco se falou sobre o desempenho dos jogadores, as estratégias dos treinadores, lances da partida ou o impacto do resultado na campanha das duas equipes no Brasileiro. Em outras palavras: o que de fato importa acabou ficando em segundo plano.

Tudo e mais um pouco já foi dito sobre as confusões envolvendo a arbitragem. Resumir o jogo a isso, contudo, chega a ser injusto com um personagem, em especial, que estava na Arena MRV. Que gastou tantas calorias quanto os jogadores e deve ter percorrido, em um curto espaço do campo, quilometragem semelhante à de alguns atletas dentro das quatro linhas.

Um olhar mais cuidadoso nos leva à análise do trabalho do técnico Jorge Sampaoli para o clássico. Foi dele o maior desafio. Precisou se desdobrar para mandar a campo um time competitivo mesmo lidando com tantos desfalques importantes, num confronto de extrema tensão pela posição do Atlético no Campeonato Brasileiro e contra um adversário que, além de principal rival, está no top 3 da competição – graças ao técnico Leonardo Jardim.

Antes de clássicos há quem ecoe a tese de que a rivalidade iguala as forças. A prática, no entanto, apontava para um favoritismo do Cruzeiro, sobretudo porque Jardim domina o grupo que tem em mãos. Ainda: ele contava com o retorno da dupla de ataque titular e, de baixa de peso, apenas o zagueiro Fabrício Bruno.

Sampaoli, por sua vez, está em início de trabalho e mal tem, ainda, um time definido, mesmo quando todos estão à disposição. O que dirá, então, no cenário atual, em que precisou montar um verdadeiro quebra-cabeça para achar uma equipe para encarar o Cruzeiro.

Praticamente sem zagueiros para escalar – já que Alonso, Lyanco e o reserva imediato Vitor Hugo estavam fora –, o técnico do Galo precisou mandar a campo um que mal tinha jogado e outro com a mão direita fraturada.

No meio, a ausência do motorzinho do time, Alan Franco, era prenúncio de problemas. E na frente, o craque da companhia em sua pior fase desde que chegou ao alvinegro. Era ou não de se apostar em vitória da Raposa?

Pois, diante de tantos ‘poréns’, Sampaoli decidiu ousar.

Pra início de conversa, com a coragem de poucos, ele deixou Hulk no banco. Nesse cenário adverso, um treinador mais conservador decerto escalaria o camisa 7, apostando que a experiência dele poderia ajudar a compensar os problemas. Sampaoli fugiu da escolha óbvia, optando por um trio de frente formado por Rony, Bernard e Dudu.

Na retaguarda, escolheu jogadores da posição, mas que nunca haviam atuado junto: Ruan Tressoldi, que fizera só um jogo nos últimos cinco meses; e o chileno Ivan Román, que entrou em campo com a mão direita fraturada.

O Atlético não venceu, mas fez talvez sua melhor partida no Brasileiro. O primeiro tempo, principalmente, mostrou um time treinado, ocupando os espaços, com triangulações, algo que não era visto com Cuca. O vigor e a lucidez de Bernard surpreenderam. A saída de bola, consciente, deu outro ritmo ao time. As reposições de Everson encontravam pés livres de companheiros já no campo de ataque. Uma organização defensiva que funcionou porque começava na frente, propiciando poucas chances aos celestes.

Muito antes da superioridade numérica, com a expulsão de Kaio Jorge, o Atlético tinha superioridade territorial. Técnica. Os números mostram: o alvinegro deteve 61% de posse de bola. Foram 23 finalizações contra quatro do Cruzeiro.

Os próximos jogos vão mostrar se tudo isso foi consequência tão somente da rivalidade ou sinais iniciais do trabalho do treinador argentino. Embora haja muito a melhorar, é preciso reconhecer a evolução do alvinegro. De toda forma, não é exagero dizer que, se houve um vencedor no clássico, ele foi Jorge Sampaoli.

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