Mais uma acusação de assédio moral e sexual envolvendo o futebol feminino chega ao noticiário. Desta vez, a denúncia vem do Santos, feita pelas Sereias da Vila. Elas entregaram cartas escritas à mão à diretoria, relatando situações que teriam sido vividas com o então técnico da equipe, Kleiton Lima. Diante do fato, ele colocou o cargo à disposição, e os dirigentes aceitaram.
Matéria feita pelo site Ge.com mostra 19 cartas escritas pelas atletas, de forma anônima, com denúncias de assédio. Uma das jogadoras diz que chegou a “pensar em suicídio” e que entrou em “depressão”. O clube afirma ter aceitado a saída do técnico para apurar o caso. Ao site, Kleiton Lima se defendeu. Contou ter tomado conhecimento “de supostas queixas de assédio” e completou: “O que me causou estranheza e revolta. Uma acusação dessa é muito grave e tomarei minhas providências legais, quem denuncia tem que provar”.
Nesta semana, a Seleção da Espanha – pivô de um caso de assédio em plena entrega de medalhas de ouro do Mundial Feminino, na Austrália, no mês passado – anunciou a troca no comando. Montse Tomé assumiu o cargo de treinadora no lugar de Jorge Vilda, de quem ela era auxiliar.
A substituição é parte do efeito dominó que se formou desde que Luis Rubiales, presidente da federação de futebol do país, beijou, sem consentimento, a jogadora Jenni Hermoso no pódio. Para quem quisesse ver. Hermoso denunciou, na Promotoria Geral do Estado, o dirigente por agressão sexual. Rubiales está suspenso pela Fifa.
A cada dia, mais denúncias aparecem. Isso ocorre porque as mulheres estão ganhando consciência de seu papel na sociedade, incluindo seus direitos. Em um ambiente machista e opressor como o futebol, em que é comum descredibilizar vítimas ou atribuir a “exageros feministas” as reações diante de abusos, é necessário que todo e qualquer fato chegue a instâncias superiores – e judiciais.
A mulher se sente mais intimidada de denunciar do que o homem de cometer o assédio. A mulher se preocupa mais com a consequência e publicização de suas denúncias do que o homem com os atos dele. Essa balança precisa mudar.
O assunto é maçante. Mas é preciso falar, muito, sempre. O machismo é uma praga enraizada. Parte, até mesmo, de mulheres. Combatê-lo é questão de saúde, acima de qualquer coisa.
Antony, da Seleção Brasileira e do Manchester United
O corte recente de Antony da Seleção Brasileira (após acusações de agressão chegarem à esfera policial) foi outra demonstração de como o tema é tratado. O jogador ainda não foi julgado, nem condenado. Mas diante de tudo o que foi mostrado e dito, não deveria nem ter sido convocado.
Do clube onde Antony atua na Europa vem, inclusive, mais um fato tenebroso. Matéria publicada nesta quinta-feira (7/9) pelo jornal inglês “The Times” revela que clube homenageou recentemente Geoff Konopka, técnico do time feminino de 1983 a 2001 e que em 2011 foi condenado a quatro anos de prisão por abusar de meninas. Apesar de proibido de trabalhar em qualquer clube, o ex-treinador, hoje com 79 anos, foi convidado para jogo feminino no Old Trafford. E como convidado de honra.
A reportagem diz que jogadoras da época relataram ter alertado o clube sobre a condenação, mas foram ignoradas. O United informou ao Times inicialmente desconhecer as penas impostas a Konopka.
Depois, soltou um comunicado: “O clube tomou as medidas apropriadas após receber esta informação e não terá mais nenhuma ligação com o indivíduo. O Manchester United expressa sua mais sincera solidariedade às vítimas e a todos os afetados por estes crimes abomináveis”.
Enquanto clubes e dirigentes legitimarem abusadores, nada vai mudar.
Com esse assunto espinhoso, a Coluna Tiro Livre faz uma pausa para as férias e retorna em outubro na esperança de notícias melhores. Até lá!