TIRO LIVRE

O que Felipão, do Atlético, e Autuori, do Cruzeiro têm em comum

Atlético e Cruzeiro escolheram treinadores do mesmo perfil para missões importantes no Brasileiro

Planejado não foi, mas fato é que Atlético e Cruzeiro usaram a mesma estratégia na escolha do treinador para o restante da temporada de 2023. Em busca de um salvador da pátria, trouxeram um técnico que não queria mais treinar time algum. Declaradamente aposentados da função.

O Galo foi atrás de Luiz Felipe Scolari – que há um ano teve até jogo de despedida –, enquanto a Raposa usou seu poder de convencimento para fazer Paulo Autuori aceitar pausar a função de diretor e pegar de volta a prancheta.

Não é difícil entender o que os levou a querer tirar o time de campo. A rotina de jogos, as cobranças, o ambiente do futebol, uma hora tudo isso satura mesmo. Especialmente treinadores que têm conquistas expressivas no currículo e já estão com a vida financeira resolvida. Difícil é compreender o que os faz voltar atrás. Reviver toda a pressão que o futebol (sobretudo o brasileiro) impõe. As insatisfações de torcedores, críticas, a busca incessante por resultados e metas.

Felipão já repensou a carreira uma vez. Em julho de 2018, estava curtindo seus dias na bela cidade portuguesa de Cascais, onde havia fixado residência. Segundo disse na época, estava dormindo quando recebeu a ligação de um representante do Palmeiras. Tinha outras planos, estudava oferta de seleções e não pensava em voltar ao Brasil.

Seduzido pela proposta, voltou. Pegou o Palmeiras em sexto lugar no Campeonato Brasileiro, a oito pontos do Flamengo, que ocupava a liderança. Com uma arrancada sensacional, composta por 16 vitórias e dois empates, levou a equipe paulista ao título.

Um salto no tempo nos leva a 13 de novembro de 2022. Após a goleada do Athletico sobre o Botafogo, por 3 a 0, na Arena da Baixada, ele anunciava o fim da carreira de treinador. Bicampeão brasileiro e da Copa Libertadores, quatro vezes campeão da Copa do Brasil e dono de um título mundial com a Seleção Brasileira em 2002, Felipão acreditava que o futebol já lhe dera tudo que era possível.

Com 27 títulos em mais de 40 anos como treinador e reconhecimento dentro e fora do Brasil, estava de bom tamanho. Ledo engano: Felipão mudou de ideia, veio comandar o Atlético e, cinco meses depois, dá sinais de que pode ter se arrependido.

A cada entrevista pós-jogo, a cada vaia que escuta, desabafa. Até analogia com o inferno fez outro dia. Quiçá esteja esperando só o Brasileiro acabar para anunciar a segunda aposentadoria – embora tenha contrato com o Galo até o ano que vem.

Autuori no Cruzeiro

Paulo Autuori, por sua vez, já foi e voltou tantas vezes que até ele já deve ter perdido as contas. Deu as primeiras declarações sobre aposentadoria há 10 anos. Em 23 de março de 2013, ao ser apresentado pelo Vasco, avisou que o encerramento da vida de treinador estava próximo. “Já vejo a minha carreira em outra situação e indo para o fim”, disse. Não foi bem assim.

Comandou São Paulo e Atlético (não durou seis meses no cargo) antes de “decidir” se aposentar como treinador, após passagem pelo Cerezo Osaka, do Japão, em 2015. A partir dali, queria ser gestor de futebol. Foram tantas idas e vindas, se alternando como gestor e técnico, que ninguém põe mais muita fé quando ele diz que é para sempre.

A última ocasião foi no próprio Cruzeiro. Atuando como diretor, já tinha sido cogitado para substituir o português Pepa e rechaçou. Garantiu que a chance era zero. Três meses depois, mudou de ideia e de função. Está com uma missão complicada nas mãos. Contudo, foi só mais um déjà vu na carreira de Autuori. Bem ao estilo “que seja eterno enquanto dure”, ele voltou. Vamos ver até quando. 

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