O ano de 2023 não teve, dentro das quatro linhas, mais que raros lampejos de tranquilidade para o torcedor do Cruzeiro. Em vista do que ele viveu nas três temporadas anteriores, em que acompanhou o time na Série B do Campeonato Brasileiro, poderia soar heresia reclamar agora. Mas fato é que os deuses do futebol não têm sido benevolentes com a China Azul. A notícia boa é que nenhuma tempestade dura para sempre. A ruim é que esse cenário não deve mudar tão rapidamente quanto a torcida gostaria.
Pelo menos até 6 de dezembro, dia da última rodada do Brasileiro, o cruzeirense será testado. Vai viver nesse ritmo de montanha-russa que foi praticamente todo o returno da competição. Ganha um jogo, vê a ameaça de rebaixamento diminuir um pouquinho. Empata ou perde, volta a ser assombrado pelo fantasma da Segunda Divisão.
Baseado no que foram os últimos jogos, não se projeta mudança a curto prazo. Difícil acreditar nela, pelo menos. Recentemente, a Raposa teve várias oportunidades de aumentar a distância para o Z-4 e fracassou em todas. Trocou técnico, trocou jogador, tentou de quase tudo. Como no futebol (dizem) não há milagre, não resolveu.
Não quer dizer que o time esteja fadado à queda. Pelo contrário: as chances de permanecer na elite são boas, principalmente porque outras equipes têm demonstrado muito mais vontade de cair. Justamente por isso, a vida do torcedor poderia estar mais fácil. Ele chegou a vislumbrar até vaga na Copa Sul-Americana após vencer, em sequência, Atlético (1 a 0) e Bahia (3 a 0).
Mas, as derrotas que vieram em seguida, para São Paulo (1 a 0), Internacional (2 a 1) e Coritiba (1 a 0), deixaram claro que a jornada celeste, neste ano, vai rimar com sofrimento. São duelos frequentes entre expectativa e realidade, sonho e pesadelo.
A vitória sobre o Fortaleza (1 a 0) foi alento que durou só quatro dias, até o empate com o Vasco (2 a 2). Esse, resultado a se lamentar especialmente por ter sido confronto direto. Para sorte – ou não – da Raposa, o próximo compromisso também é contra um da turma dos desesperados, o Goiás. Vencer é questão de sobrevivência. Se perder, o Cruzeiro não vai melhorar tanto a situação dos esmeraldinos, porém, pode complicar demais a sua.
Depois, vai pegar o Athletico-PR, que está de olho em vaga na Copa Libertadores. E aí parte para o drama: jogos que deverão definir nada mais, nada menos que o campeão brasileiro, contra Botafogo e Palmeiras. A queda de rendimento do alvinegro carioca na reta final da competição e, em paralelo, o crescimento do alviverde paulista foi uma combinação péssima para o Cruzeiro.
Segundo as projeções do Departamento de Matemática da UFMG, hoje os celestes têm 14,7% de chance de descenso. Das quatro vagas na Segunda Divisão do ano que vem, duas são certas: a do América, que matematicamente já caiu, e a do Coritiba, virtualmente rebaixado. O Goiás tem 94,7% de probabilidade, num cenário aparentemente irreversível. O Bahia é outro que vem sedimentando, a cada rodada, o caminho para baixo, com 65,8% de possibilidade de cair.
Esses números, por mais animadores que sejam, podem ser traiçoeiros. Enquanto não estiver, de fato e de direito, assegurado na Primeira Divisão, o Cruzeiro não deve dar chance ao azar. Precisa fazer sua parte. Melhor assim do que ter de contar com proteção do acaso quando estiver distraído, como cantam os Titãs.