COLUNA TIRO LIVRE

CBF sem rumo, Seleção Brasileira esquecida

Volta e meia a entidade se vê envolvida com alguma polêmica. E isso acaba respingando em todas as esferas, criando uma imagem negativa do futebol brasileiro sobretudo no exterior

Ninguém deveria estranhar o fato de o italiano Carlo Ancelotti ter declinado o convite para treinar a Seleção Brasileira, preferindo continuar no Real Madrid. Não era uma escolha tão difícil assim, se pensarmos friamente. Especialmente agora, com tanta confusão envolvendo a presidência da CBF, mas não somente pelos fatos mais recentes. Até Fernando Diniz, no íntimo, deve estar arrependido de ter aceitado a empreitada interina, até onde se sabe.

Volta e meia a entidade se vê envolvida com alguma polêmica. E isso acaba respingando em todas as esferas, criando uma imagem negativa do futebol brasileiro sobretudo no exterior. O afastamento e retorno do atual presidente Ednaldo Rodrigues, em um imbróglio político-esportivo, é só mais um capítulo. A Fifa até ameaçou intervir no comando do futebol brasileiro e punir o país com sanções esportivas. O fundo do poço.

O antecessor dele, Rogério Caboclo, foi retirado do cargo após denúncias de assédio sexual e moral a funcionárias. Os casos foram levados à Justiça. A primeira acusação resultou na suspensão do cartola por 21 meses pela Comissão de Ética da CBF (confirmada pela Assembleia Geral) e, após investigação pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, houve um acordo em que Caboclo pagou R$ 100 mil para não ser processado. Outra denúncia foi arquivada a pedido do Ministério Público e, na terceira, o dirigente obteve um habeas corpus que levou ao trancamento da ação.

Na época, foram revelados áudios de conversas perturbadoras de Caboclo com mulheres, situações constrangedoras, intimidadoras. Não é complicado encontrar matérias da época com as transcrições dos diálogos e os áudios. Difícil imaginar alguém não ficando enojado ao ouvir o que o dirigente diz.

Ancelotti entrou nesse enredo poucos meses atrás, quando em conversa com alguns jornalistas Ednaldo Rodrigues deu como certa a contratação do italiano para treinar a Seleção Brasileira. Um nome de peso, reconhecido internacionalmente, que daria à camisa amarela a importância que julgamos que ela ainda tem.

Mas parece que toda essa aura mística que permeia a Seleção fica, cada vez mais, atrelada a um passado de glórias – passado cada vez mais distante, bom ressaltar. A Seleção Brasileira contemporânea pouco justifica todo esse glamour. Ancelotti parece ter tomado pé dessa realidade ao continuar nos domínios merengues. E Fernando Diniz pode acabar alçado à condição de titular, se também não decidir pular do barco.

Ao comentar a renovação de contrato com o Real Madrid, ele admitiu, pela primeira vez, conversas com o então presidente da CBF e revelou que os últimos acontecimentos na entidade o afastaram do cargo. “Tive contato com o presidente da época, que era o Ednaldo Rodrigues. Quero agradecer a ele pelo carinho e pelo interesse para que eu treinasse a Seleção Brasileira, isso me fez muito orgulhoso e honrado. Aconteceu que o Ednaldo não é mais presidente da confederação. (…) Ser técnico da Seleção é um grande sonho, mas não sei se em 2026 o Brasil vai me querer. Não sei se estão contentes com a minha decisão”.

Nesta quinta-feira (4/1), Ednaldo foi reconduzido ao cargo, em caráter liminar, pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, mas o estrago está feito. A volta dele ao posto não pressupõe dias mais tranquilos. Pelo contrário.

Os bastidores continuam agitados e a nau, ainda sem rumo. A Seleção Brasileira é, hoje, apenas um retrato na parede. O que virá por aí, ninguém sabe. O ano de 2024 começa sob o estigma da incerteza. E é bom não esquecer da célebre frase que diz que nada é tão ruim que não possa piorar.

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