COLUNA TIRO LIVRE

E o cartão azul no futebol, vai funcionar?

Chama atenção que, a esta altura, ainda seja necessário criar algo, um cartão azul, para “educar” os atores do futebol

O mundo do futebol foi agitado nesta quinta-feira (8/2) com a notícia de que o futebol pode ganhar um novo elemento. É o cartão azul, que será um artifício prévio ao vermelho para tentar conter gestos destemperados em campo como desrespeito a árbitro, antijogo e até simulação. A ideia é deixar quem cometer esses atos fora de campo por 10 minutos. Em outras palavras, é como se ele fosse levado para um “cantinho do pensamento”, para esfriar a cabeça e rever a atitude.

Segundo o jornal inglês “The Telegraph”, quem levar dois cartões azuis, ou um amarelo e um azul, receberá automaticamente um vermelho, sendo expulso do jogo. Os estudos desenvolvidos sobre o assunto devem ser apresentados pela International Football Association Board (Ifab), responsável pelo regramento no futebol, em seu congresso anual, no início de março, na Escócia. Lá, o novo cartão será colocado em votação. Informações obtidas pelo “The Telegraph” dão conta de que os testes em competições devem ter início no meio deste ano.

Após a repercussão, a Fifa soltou um comunicado em que nega que o cartão azul será testado no futebol profissional. Mas não nega a notícia de que haverá a experiência. “Quaisquer testes desse tipo, se implementados, devem limitar-se a testes de forma responsável em níveis inferiores”, informou a entidade.

Chama atenção que, a esta altura, ainda seja necessário criar algo para “educar” os atores do futebol. Um cartão a mais para explicar o que está mais do que explicado. Para tentar fazer valer o fair play, as regras do jogo. Não bastam o amarelo e o vermelho? É preciso mesmo buscar uma terceira via, ao centro?

Afinal, por que simplificar se é possível complicar, não é mesmo? Será que se o futebol fosse encarado com mais seriedade por todos os seus pilares, a disciplina dependeria de mais um cartão? São muitas as questões. E a resposta não parece tão fácil.

Foi justamente para tentar educar os personagens do esporte bretão que foram implementados os cartões amarelos e vermelhos, há mais de 50 anos. O ponto de partida para tal foi um conturbado Inglaterra x Argentina, em Wembley, pelas quartas de final da Copa do Mundo de 1966.

Os europeus ganharam por 1 a 0 e, ao fim da partida, os hermanos cercaram o árbitro alemão Rudolf Kreitlein para reclamar, especialmente, da retirada de campo de Antonio Rattin, então capitão da seleção. Rattin contestara a marcação de uma falta, falando em espanhol com o alemão, que não entedia o idioma do jogador e não gostou da forma como foi afrontado.

O árbitro precisou recorrer a ajuda externa para que Rattin saísse do jogo. Ao fim do confronto, Kreitlein foi pressionado pelos argentinos, teve a camisa rasgada e saiu de campo escoltado pela polícia.

Conta a Fifa, em seu site oficial, que, preocupado com esses e outros ruídos na comunicação, o inglês Ken Aston, que era o responsável pelos árbitros na época, buscou uma linguagem universal, independente de idioma, para facilitar o entendimento em campo. Teve a ideia dos cartões quando estava dirigindo seu carro e se deparou com um semáforo vermelho. “Pensei: amarelo, pega leve; vermelho, pare, você está fora”, disse Aston, em entrevista à entidade.

Na Copa do Mundo do México, em 1970, foram então implementados os cartões amarelo (para apontar alguma transgressão importante) e vermelho (para indicar algo grave, que leve à expulsão na partida). A experiência foi aprovada pela Fifa, que os adotou então definitivamente.

Eis que cinco décadas depois, eles não parecem mais suficientes. Não deveriam bastar os cartões já existentes? Há quem entenda que não. Bom mesmo, no entanto, seria se o respeito ao jogo fosse consequência de um sistema de regras, e não causa dele.

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