TIRO LIVRE

O mês de abril no Cruzeiro: três saídas, pressão e um Ronaldo ausente

Não são episódios isolados. Pelo contrário. Todas essas decisões soam como uma bola de neve que parece embalada, em crescimento constante

Abril nem chegou ao fim ainda e já pode ser considerado o mês mais agitado (e desafiador) do Cruzeiro desde que Ronaldo Nazário assumiu como sócio majoritário na Sociedade Anônima do Futebol (SAF) celeste. Num espaço de 17 dias, três saídas na Toca da Raposa resumem bem o cenário atual – e indicam que os dias de tranquilidade parecem um pouco distantes ainda.

Começou com a despedida do técnico Nicolás Larcamón após a perda do título do Campeonato Mineiro para o Atlético. Em pouco mais três meses de trabalho, foram 14 jogos, com sete vitórias, quatro empates e três derrotas. Aproveitamento de 59,52%.

A demissão pegou a comissão técnica de surpresa, já que todos acreditavam na perspectiva de trabalho a longo prazo, uma vez que o contrato com o Cruzeiro ia até dezembro de 2025. Mas o treinador argentino não resistiu ao revés para o arquirrival, somado à decepção provocada pela eliminação para o modesto Sousa, em fevereiro, que ainda estava atravessada na garganta de muitos cruzeirenses.

Nem deu tempo baixar a poeira. Pouco mais de uma semana depois, foi a vez do adeus do goleiro Rafael Cabral. O processo de cisão entre a torcida e o arqueiro começou gradual, mas entrou em ebulição rapidamente, com os fracassos nas duas competições que o Cruzeiro disputou neste ano.

A gota d’água foi a partida contra o Alianza, no Mineirão, pela Copa Sul-Americana, em que a Raposa abriu 3 a 0 no primeiro tempo, porém tomou o empate no segundo com um dos gols da equipe colombiana saindo em falha de Rafael Cabral. Aí ele não teve mais paz. Foi vaiado, xingado, e acabou pedindo para sair do clube. Ao ser apresentado na nova casa, o Grêmio, disse estar em busca de desafios maiores.

Eis que na semana seguinte veio aquela que talvez seja a mudança de maior peso, com a saída de um dos homens de confiança de Ronaldo. O diretor de futebol Pedro Martins estava na Toca desde o início da gestão da SAF. Tinha carta branca para as decisões, e muitas delas foram bem contestadas.

Em dois anos e três meses de trabalho, contratou nada menos que 65 jogadores. A equipe teve seis treinadores nesse curto período, incluindo Paulo Autuori, que assumiu o comando temporariamente, no fim do ano passado, para preencher uma lacuna.

A saída de Pedro Martins

Pedro Martins se despede num momento de crise, ao aceitar convite para ser executivo da SAF do Vasco. Saiu sem muitas explicações. “Agradecemos por todo o profissionalismo, dedicação e entusiasmo com os objetivos do clube, e aproveitamos ainda para desejar muito sucesso na sequência de sua trajetória”, informou o Cruzeiro, em nota oficial publicada nas redes sociais.

No lugar de Martins assume (interinamente, assegura o clube) o ex-zagueiro Paulo André, que é apontado como braço-direito de Ronaldo. Uma última instância antes de o próprio tomar o leme pelas mãos e tocar o barco.

Não são episódios isolados. Pelo contrário. Todas essas decisões soam como uma bola de neve que parece embalada, em crescimento constante. Tudo isso com um ausente Ronaldo, que pouco aparece ou se manifesta em relação a este início complicado de temporada no Cruzeiro.

A última postagem dele em rede social relativa ao clube foi em 18 de fevereiro, quando cumprimentou a equipe feminina pelo vice-campeonato na Supercopa da categoria. Depois disso, os registros são de viagens internacionais, encontros com celebridades, atletas de outros esportes e campanhas publicitárias.

É muita indiferença para quem se dispôs a comandar um dos maiores clubes do Brasil e do qual se considerava mais do que mero ex-jogador.

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