COLUNA TIRO LIVRE

Cruzeiro: Matheus Pereira e a jogada magistral ‘sem querer querendo’

Com um jogador do nível de Matheus Pereira, a jogada sai certeira até quando não é intencional

O placar da vitória do Cruzeiro sobre o Athetico-PR (2 a 0), na noite de quarta-feira, no Mineirão, pelo Campeonato Brasileiro, ficou em segundo plano nas discussões sobre a partida. Mais comentada que o triunfo em si foi a jogada de mestre de Matheus Pereira, na assistência para Gabriel Veron marcar o primeiro gol da Raposa.

O relógio apontava 14min do primeiro tempo quando o camisa 10 celeste tocou na bola e deixou Gabriel Veron de frente para o gol. Mas não foi qualquer passe. Matheus Pereira estava de costas para a área do Furacão e nem teve muito tempo para pensar no que fazer. Tudo aconteceu em questão de segundos, até menos: de centésimos.

Logo veio a pergunta: foi por querer ou sem querer? É possível dizer que foi “sem querer querendo”, numa alusão ao mexicano Chaves. Porque com um jogador do nível de Matheus Pereira, a jogada sai certeira até quando não é intencional. O lance foi tão bonito que o próprio clube descreveu como “cinematográfico” em suas redes sociais.

Diferente de muito marqueteiro que tem por aí, Matheus Pereira nem quis fazer muita onda ou autopropaganda em cima da jogada. Foi logo admitindo: “A verdade é que eu ia dominar. Mas, como costumo dizer, quando a fase está boa, você pode até errar o domínio que às vezes vai dar em gol. Às vezes pode não dar também, isso é de momento”.

Foi a 10ª assistência de Matheus Pereira, com a camisa celeste, em 28 jogos nesta temporada. Ele também já marcou seis gols. Não por acaso, o clube desembolsou nada menos que R$ 33 milhões para contratá-lo em definitivo, até junho de 2026. Não só, mas também pelo lance protagonizado pelo meia-atacante nesta semana, tudo indica que foi um bom investimento.

Para ficar no folclore do futebol, foi uma daquelas intervenções quase paranormais em campo, dignas do tal Sobrenatural de Almeida – numa licença para evocar Nelson Rodrigues. Nessa mesma seara está a tão falada cobrança de falta de Ronaldinho Gaúcho contra a Inglaterra, na Copa do Mundo de 2002, disputada na Coreia do Sul e no Japão.

Em lances assim, o olhar humano não consegue acompanhar com muita exatidão. Nem mesmo em câmera lenta, pela tevê, é possível descrever de forma certeira o que aconteceu, concluir a intenção do jogador.

Fato é que, de uma forma despretensiosamente perfeita, a bola resvalou nas pernas de Matheus Pereira para construir sua trajetória rumo aos pés de Gabriel Veron. Entre a jogada do cruzeirense e a cobrança de falta do ex-meia da Seleção Brasileira, um elo: serem atletas extraclasse, que sabem o que fazer com a bola. E, de vez em quando, ela retribui a gentileza.

Essa é uma das vantagens de contar com jogador de qualidade no grupo: o cara é decisivo mesmo quando não pretende ser. E por vezes nem se dar ao trabalho de ser. Ocorre naturalmente.

Outra amostra para reforçar essa tese foi vista no jogo entre Atlético e Internacional, em Criciúma, também na quarta-feira. No auge de seus 37 anos, sem o menor sinal de jetlag um dia após chegar de viagem dos Estados Unidos, o atacante Hulk construiu, aos 52 minutos do segundo tempo, a jogada do gol que garantiu ao Atlético a importante vitória por 2 a 1.

Hulk deu um drible desconcertante em Alan Patrick na direita e mandou a bola na medida para o zagueiro Rômulo cabecear. Não teve cansaço que superasse o talento do atleticano.

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