A Arena MRV completará um ano na próxima terça-feira, mas a impressão que dá é que a festa não será completa. Se por um lado ter um estádio para chamar de seu é o sonho de muitos torcedores, por outro quando a casa própria começa a ter um problema atrás do outro ela acaba se tornando um presente de grego. Vira pesadelo.
No caso do Galo, foi preciso inclusive uma retirada estratégica, às vésperas do aniversário. O ditado “a grama do vizinho é sempre mais verde” se materializou, e o time foi buscar abrigo no Mineirão depois de os próprios jogadores alvinegros afirmarem que o campo da Arena MRV estava impraticável. O técnico Gabriel Milito alertou para o risco de lesão em atletas. E o clube não teve outra opção a não ser atender aos apelos internos. Até porque são os jogadores e o treinador que sofrem as maiores cobranças quando o resultado não vem.
Foi assim que a partida contra o Fluminense, neste sábado, pela 24ª rodada do Campeonato Brasileiro, foi parar no Mineirão. A última vez que o Galo atuara como mandante no Gigante da Pampulha foi em 2 de dezembro do ano passado, quando precisou mudar de casa já que a sua estaria a serviço de Paul McCartney.
Desta vez, se não fosse no Mineirão poderia ser no Independência, que também tem oferecido um campo muito melhor que o da Arena MRV para a prática do futebol. Quiça, até a Arena do Jacaré, em Sete Lagoas, oferece condições mais satisfatórias.
Numa situação normal, não seria exagero atribuir o estado ruim do gramado do estádio atleticano ao exaustivo calendário do futebol brasileiro. Com jogo em cima de jogo, fica difícil mesmo recuperar. Mas, no caso da Arena, não dá para culpar a maratona de jogos por um simples motivo.
O campo da Arena MRV tem sido alvo de críticas desde a inauguração, em 27 de agosto de 2023, na partida contra o Santos. A primeira reclamação pintou tão logo o árbitro apitou o fim do jogo. Veio do goleiro João Paulo, do Peixe, que disparou: “O gramado estava ruim, estava horrível”.
Ficou complicado, até mesmo para os donos do estádio, contestar o jogador santista já que, aos 17min do segundo tempo, uma placa de grama se soltou e foi necessário paralisar a partida para que funcionários entrassem em ação e fizessem a reparação.
Na ocasião, o atacante Hulk também comentou os problemas do campo. “É claro que o campo não estava em ótimas condições, principalmente quando a gente atacou no segundo tempo. Mas são coisas que vão melhorando, é normal para um estádio que está inaugurando”, disse.
O roteiro não foi bem esse. Quase 12 meses e 32 jogos depois, o gramado continua ruim. Até piorou. Por mais que o clube tenha buscado intervenções para a melhoria em janeiro e, mais recentemente, no início deste mês.
Volta e meia fala-se na colocação de grama sintética, em 2025, como única solução. Uma mudança que não é tão simples como se supõe, já que está associada a adequações ao Plano Diretor de BH.
A acústica da Arena MRV
Fato é que a cada especialista que se pronuncia fica bem claro que o problema do gramado da Arena MRV está na origem, na concepção do projeto. É mais um erro, como a questão da acústica do estádio – que o clube demorou a admitir, embora estivesse claro para os frequentadores.
A propagação do som nunca foi a esperada. A promessa era de que a casa do Galo intimidasse os adversários, como um caldeirão, cujo som se espalhasse pelo estádio, porém sem perturbar a vizinhança. Não deu certo. Quem está dentro de campo não sente tal pressão, porque o som não chega tão forte lá. Quem atesta isso são (de novo) os próprios jogadores alvinegros.
“Sem dúvida, no Mineirão a gente sentia o barulho mais forte da torcida. Pressão, mais vibrante, o estádio vibrava mais. Na Arena MRV, na hora que a gente entra no estádio, é o momento mais vibrante”, disse ao No Ataque o volante Otávio. São relatos que não vêm apenas de atletas, mas também de fotógrafos e cinegrafistas que trabalham no entorno do campo.
Para dar mais voz aos torcedores, foi preciso buscar alternativas tecnológicas como a instalação de microfones para ajudar o som a reverberar pelo estádio.
No fim das contas, esse primeiro aniversário pode ser resumido assim: dentro das quatro linhas, jogadores prejudicados pelo gramado; fora delas, a Massa emudecida.