Em meados de março, quando o argentino Gabriel Milito chegou à Cidade do Galo, era quase unanimidade na crônica esportiva a análise de que o Atlético despontava, nesta temporada, como forte concorrente ao título de todas as competições que disputaria. Eram previstas participações sólidas no Campeonato Brasileiro, na Copa do Brasil e na Copa Libertadores. E Milito nunca se fez de rogado. Também mirava alto.
Desde os primeiros discursos, ele nunca cogitou a possibilidade de fazer escolhas. De priorizar um ou outro. Acreditava que tinha grupo para assegurar campanha regular o suficiente nos pontos corridos para o time brigar nas cabeças, além de chegar longe nos mata-matas.
Logo depois da estreia no Brasileiro (empate sem gols com o Corinthians, em 14 de abril), ele foi enfático ao ser questionado sobre o calendário do futebol nacional que o aguardara, com uma perigosa maratona de jogos.
O argentino garantia, àquela altura, que entraria com força máxima em todas as frentes. “Não podemos escolher. Em um clube tão grande como o Atlético, não se pode escolher campeonato. Tentaremos ser competitivos em todas as competições. Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e Copa Libertadores. Vamos tentar. Com certeza, isso requer muito esforço, muito trabalho, um montão de coisas.”
Os meses foram passando. Veio um complicado junho para o alvinegro, em que desfalques por lesões, suspensões e convocações para seleções cobraram um preço alto. O Galo desgarrou dos primeiros no Brasileiro, mas foi se segurando nas Copas.
No fim de julho, com as fases mais decisivas da Libertadores e da Copa do Brasil se avizinhando, Milito voltou a ser perguntado se priorizaria algum torneio. Mais uma vez, rechaçou qualquer chance de jogar a toalha: “De nenhuma maneira passa pela minha cabeça isso (priorizar). Temos disputas importantes na Copa do Brasil e na Libertadores, mas, sob nenhum ponto de vista, isso vai ser prioritário”.
Ele dizia que a recuperação de jogadores, a reintegração de quem estava fora e as estreias dos recém-contratados – os zagueiros Júnior Alonso e Lyanco, o volante Fausto Vera e o meia-atacante Bernard – deixariam o Galo encorpado para todos os desafios. “Estamos em condição de sermos mais competitivos, com a quantidade de jogadores que contamos. O sonho da Copa Brasil e da Libertadores está intacto, mas não vamos priorizar”, destacou o treinador.
A decisão de Gabriel Milito
Não foi exatamente o que se viu a partir dali. Apesar do discurso, Milito claramente poupou jogadores em partidas do Brasileiro com vistas a manter o grupo inteiro para os outros desafios. Embora não tenha falado abertamente, a prioridade do técnico atleticano estava estabelecida. Como um pacto silencioso. E não era o campeonato de pontos corridos.
Foi com ações, e não com palavras, que Milito determinou o objetivo do Galo. E ele não estava errado. Dentro da realidade do futebol brasileiro, é muito difícil manter o alto nível por tanto tempo em tantas partidas seguidas, a não ser que o grupo de jogadores esteja em um nível muito acima dos principais concorrentes – o que nunca foi o caso do Atlético.
Quando precisou de ter número e qualidade, a equipe alvinegra sucumbiu. Era natural, então, que as disputas nas Copas ganhassem preferência. Aí entra também o perfil das competições. Afinal, elas têm um caráter mais imediato: em dois jogos se resolve a parada e se avança para o próximo. É necessário um retorno mais incisivo dos jogadores, que vão ao limite pela vaga.
Já o Brasileiro ainda se estende até dezembro e, dependendo do humor dos deuses do futebol, o alvinegro poderia até ter tempo de, vez ou outra escalando reservas, ir somando seus pontinhos para almejar algo melhor. Percebe-se que foi esse o caminho escolhido pelos lados de Vespasiano.
Por isso, é chegada a hora da verdade do Atlético de Milito. Neste sábado, o Galo entra em vantagem contra o Vasco, em São Januário, precisando do empate para chegar à final da Copa do Brasil, já que venceu em casa por 2 a 1.
Depois, vai pegar o River Plate com a meta de também chegar à decisão da Libertadores. Os confrontos serão em 22 e 29 de outubro, às 21h30 – primeiro na Arena MRV e, posteriormente, no Monumental de Núñez, em Buenos Aires.
Caso se confirme nas duas finais e, mais do que isso, conquiste um dos (ou os dois) títulos, tudo fará o mais completo sentido. O quebra-cabeças de Milito vai se encaixar perfeitamente. E o que vier, no Brasileiro, será lucro.