Lá se vão 10 anos desde que Atlético e Cruzeiro estiveram, simultaneamente, na disputa de títulos de expressão. Como agora, eles foram assunto nacional em 2014. O Galo sagrou-se campeão da Copa do Brasil (numa campanha em que superou, em sequência, Corinthians, Flamengo e a própria Raposa, na final), enquanto o time celeste comemorou seu quarto título brasileiro, o segundo consecutivo. De lá pra cá muita água passou por baixo da ponte.
O Atlético ficou seis anos e meio sem erguer um troféu, jejum que foi terminar no Campeonato Mineiro de 2020. Desde então, não passou uma temporada sequer sem conquistar pelo menos uma taça e ainda brindou seu torcedor com o mágico ano de 2021, com o Triplete: Estadual, Copa do Brasil e Brasileiro. Há exatamente um ano, aderiu ao regime de Sociedade Anônima do Futebol, cujo maior acionista é o empresário Rubens Menin.
Já o Cruzeiro adicionou duas taças da Copa do Brasil em sua galeria (2017 e 2018), mas entrou para o purgatório em 2019. Na esteira dos escândalos envolvendo a gestão do presidente Wagner Pires de Sá, o time celeste acabou rebaixado para a Série B do Brasileiro, de onde saiu somente em 2022, quando levou o título da Segunda Divisão – já como SAF e administrado por Ronaldo Fenômeno. A reconstrução foi lenta e tem, desde o início do ano, o empresário Pedro Lourenço dando as cartas.
Nessa toada, chegamos a 2024. Desta vez, a parada é continental, o que muitos enxergam como um upgrade se comparado às decisões de 10 anos atrás. O alvinegro, em dose dupla: além de buscar o topo da América pela segunda vez, reeditando a jornada épica de 2013, tem chance de conquistar sua terceira Copa do Brasil. O Cruzeiro chega, de forma inédita, à final da Sul-Americana.
O que une os rivais
De certa forma, os rivais cumpriram caminhada semelhante até aqui. Apesar de guardarem particularidades, eles tiveram alguns ritos de passagem comuns. Por isso, não é exagero dizer que, em pelo menos três pontos, Atlético e Cruzeiro estão mais para coirmãos.
A começar pelo alicerce das campanhas. Embora ambos contem com jogadores de liderança técnica incontestável – Hulk no Galo e Matheus Pereira na Raposa –, o jogo coletivo foi um diferencial. Não foram poucas as vezes em que coadjuvantes roubaram a cena. Claro que houve partidas em que o craque resolveu, e é por isso que ele é considerado insubstituível. Porém, não dá para desprezar a importância de quem foi protagonista por um (ou mais) dia.
Os goleiros também foram decisivos para que Atlético e Cruzeiro chegassem às finais. Isso ficou ainda mais evidente nas fases de mata-mata. De qualidade incontestável, Everson e Cássio têm provado a máxima de que um grande time começa por um grande goleiro. A segurança sob as traves é fator essencial para se formar uma equipe que se pretende campeã.
Por fim, os treinadores. Gabriel Milito viveu momentos em que foi questionado, precisou ter sangue frio para aguentar a pressão e até críticas pesadas de alguns setores da imprensa. Pois o argentino manteve-se firme em suas convicções e acertou ao apostar nas Copas.
Já Fernando Diniz mal chegou e já ouviu vaias – no empate por 1 a 1 com o Lanús, pelo jogo de ida da semifinal, no Mineirão. A primeira vitória só veio no sétimo jogo, e a velha cobrança por resultados imediatos fez com que muita gente achasse que a escolha dele havia sido equivocada. Ainda não é possível dizer que o Cruzeiro tem a cara do treinador, pois há um processo (ainda inicial) em andamento e é preciso tempo. Contudo, o mais importante, até aqui, foi feito.
Para os dois técnicos, o título teria significado diferente. Para Milito, um carimbo de qualidade. Para Diniz, um alvará para a sequência do trabalho. Mas um aspecto em comum eles já compartilham: deram às equipes o espírito “copeiro” que caracteriza os esquadrões campeões.
Agora, é esperar para ver se isso vai, de fato, se confirmar.