COLUNA TIRO LIVRE

Os responsáveis pelo desfecho do Cruzeiro em 2024

De forma simplista, há quem jogue todos os problemas sobre os ombros do atual treinador ou de jogadores, individualmente, poupando quem de fato decide os destinos do clube

O Cruzeiro que chega à última rodada do Campeonato Brasileiro 2024, neste domingo (8/12), está mais próximo da versão que encerrou 2023 do que da projetada para 2025. Um ano depois, cá está a Raposa, vendo como mais provável a vaga na Copa Sul-Americana e frustrada diante da possibilidade de deixar escapar o sonhado retorno à Libertadores, que parecia bem perto.

Vaga na principal competição de clubes do continente, seguida de boa participação, iria, aí sim, devolver o Cruzeiro ao lugar de prestígio internacional do qual foi tirado com a queda para a Segunda Divisão nacional, em 2019. Embora tenha sido dito por aí que o clube celeste já estava de volta a esse patamar, por ter sido finalista da Sul-Americana neste ano, fato é que a fase segue sendo de reconstrução.

Deixando qualquer passionalidade (e interesse de lado), a Raposa vislumbra o caminho rumo ao status do passado – porém, falta algum chão para alcançá-lo de forma definitiva.

Disputar, e bem, a Libertadores daria essa chancela. Avançar ao mata-mata, chegar às fases finais, colocaria o torcedor frente a frente com uma realidade que conhecia bem e da qual foi arrancado. Seria uma espécie de carimbo de conclusão do renascimento. A validação do trabalho de resgate iniciado quando Ronaldo Fenômeno comprou a SAF.

Matematicamente, ainda existe chance de o time celeste se garantir na Libertadores de 2025. Para tanto, precisa ganhar do Juventude (que nada mais aspira), no Alfredo Jaconi, e contar com tropeço do Bahia, em Salvador, diante do já rebaixado Atlético-GO.

O problema é que o Cruzeiro vem em um viés de baixa. O declínio sob o comando de Fernando Diniz e, dentro desse cenário, a derrota para o Palmeiras na rodada passada, no Mineirão, custam caro. Fizeram a probabilidade de ir à Libertadores cair vertiginosamente: hoje, gira em torno de 13,4%, segundo as contas da Universidade Federal de Minas Gerais.

A título de comparação, a possibilidade de classificação à Sul-Americana bate os 86%. Curiosamente, às vésperas da última rodada do Brasileiro do ano passado, o Cruzeiro tinha 90% de chance de assegurar sua vaga – o que acabou ocorrendo.

É claro que são apenas números, mutáveis. Mas essa avaliação não vem dissociada do desempenho em campo. Pelo contrário: está diretamente atrelada a ele. Houve um momento no Brasileiro em que o Cruzeiro chegou a ter mais de 40% de chance de ir à Libertadores. Dependia apenas de si.

O que mudou? Muita coisa. Analisando as estatísticas cruzeirenses, não é exagero dizer que quem garante que ainda haja chance de classificação à Libertadores é Fernando Seabra, demitido pela atual gestão em 23 de setembro. Ele deixou o Cruzeiro em sétimo lugar no Nacional e com um pé nas semifinais da Sul-Americana, com a vitória por 2 a 0 sobre o Libertad, no Paraguai.

Em 35 jogos, obteve 17 vitórias, oito empates e 10 derrotas, aproveitamento de 56,2%. Se não estava à altura do que torcedor e clube queriam, agora ficou provado que talvez fosse melhor ter dado tempo ao tempo e deixado daquele jeito.

A era Diniz no Cruzeiro

Eis que Diniz chegou com grife e credibilidade. Assinou contrato até dezembro do ano que vem, apostando em um trabalho a longo prazo, mas sua saída em alguns dias já é considerada certa por alguns setores da imprensa. Em 14 jogos, são duas vitórias, seis empates e seis derrotas, apenas 28,57% de aproveitamento.

A perda do título para o Racing foi um duro golpe, e o risco de terminar o ano, de novo, apenas com a vaga na Sul-Americana abala a confiança no projeto. Seria pouco para o tanto que o torcedor se permitiu sonhar quando Pedro Lourenço abriu o cofre e prometeu voos mais altos.

De forma simplista, há quem jogue todos os problemas sobre os ombros do atual treinador ou de jogadores, individualmente, poupando quem de fato decide os destinos do clube. Porém, a baixa de rendimento celeste tem nome (e sobrenome). Não apenas um. Vários, dentro e fora de campo.

Com o fim do campeonato, é chegada a hora de cada um assumir a parte que lhe cabe no enredo de 2024.

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