
A derrota do Cruzeiro para o Athletic, por 1 a 0, pela segunda rodada do Campeonato Mineiro, desencadeou uma espécie de ira em alguns torcedores celestes. Para muita gente, já chegou a hora de demitir Fernando Diniz. O nome do substituto está, inclusive, na ponta da língua: Renato Gaúcho. “A diretoria não pode perder tempo”, escreveu um cruzeirense, nas redes sociais. Tempo. Essa demarcação que tanto amedronta quanto acalma – a depender do lado da balança que você está.
O tempo de vida traz sabedoria, por vezes serenidade. Aprendi isso com a minha mãe. Ela passou a olhar muita coisa que não a agrada de outra forma. Sem ser reativa. Se discorda de algo que está sendo dito, se cala e desvia o pensamento para outro rumo. Afinal, de que adianta brigar? Ela se acolhe nas certezas dela, sem se deixar influenciar pela incerteza do outro.
Para os mais ansiosos (e a ansiedade é o mal do século, já atestaram especialistas), no entanto, o tempo é inimigo. Tudo tinha de funcionar aqui e, agora, não serve amanhã, mês que vem. Essa é a demarcação que vale para alguns torcedores. Tudo tem de ser pra já. Assim, chegamos ao futebol.
A mentalidade ansiosa futebolística tem convicção de que é inaceitável o Cruzeiro perder para o Athletic simplesmente porque o Cruzeiro é o Cruzeiro. E ponto final.
Volta meia, os questionamentos esbarram em comparações financeiras. Como um clube grande, que tem mais de R$ 20 milhões mensais de despesa com folha, não consegue superar outro que gasta 5% desse valor? Como um time cujos vencimentos de um único atacante (estimados em R$ 3 milhões mensais) bancam um trimestre inteiro de salários do adversário?
No futebol, há muitas respostas para essa pergunta. Não é ciência exata. Quem gasta mais, em tese, tem mais chance (e na mesma proporção é mais cobrado) de ganhar. Mas não vai, necessariamente, ser o vencedor. Nem sempre, pelo menos. E a cobrança precisa ter algum toque de racionalidade, para não passar da conta.
Essa conta, aliás, envolve outras variáveis. E são elas que ajudam a compreender que o Cruzeiro ser derrotado pelo Athletic, especialmente agora, não é nenhum absurdo. Muito menos evidência de que o restante ano será desastroso. A esta altura, resultados não significam veredictos. Servem tão somente de parâmetro para observações.
O Cruzeiro de Fernando Diniz
Foi apenas o quarto jogo de um grupo que foi muito remodelado. Um time ainda não atuou junto por 90 minutos nesta temporada. Fernando Diniz está recriando uma equipe, depois de receber nove reforços. Testando. Conhecendo jogadores e se “apresentando” para muitos deles. O conhecimento do dia a dia, da convivência – e que só vem com o tempo.
A empolgação do torcedor que lotou o Mineirão há menos de 20 dias para receber Gabigol não deveria se transformar em frustração tão rapidamente. O momento não é de prever o pior e, sim, de esperar pelo melhor.
O Cruzeiro de 2025 ainda está em fase inicial de formação. Nessa caminhada, vai ganhar e perder, até ganhar corpo. Quando isso ocorrer (olha a importância do tempo aí), poderá ser cobrado. Até a “cabeça” do treinador podem pedir. Ainda é muito cedo, porém, para discursos de mudanças radicais assim.