COLUNA TIRO LIVRE

O cartão de visitas do futebol brasileiro para Leonardo Jardim

Leonardo Jardim chegou ao Cruzeiro como grande solução, de categoria europeia. No primeiro jogo, ouviu vaias

O português Leonardo Jardim foi apresentado ao futebol brasileiro, oficialmente, nessa quarta-feira (12/2). Ele assumiu como técnico do Cruzeiro na partida contra o Democrata-GV, pelo Campeonato Mineiro, que terminou com derrota celeste por 2 a1. Foi a primeira vez que Jardim ficou à beira do campo. E, logo de cara, ouviu as primeiras vaias.

É de se deduzir que os protestos não foram direcionadas especificamente a ele. Seria surreal Jardim ser cobrado, já que acabou de chegar. Mas não deixa de ser sintomático.

O torcedor, na arquibancada, não quer saber se é o primeiro, o segundo ou o 100º jogo de um treinador. Não quer saber se é início de temporada, se meio time titular é recém-contratado. Se não ganhar, ele vaia. Busca culpados.

Pode ser a arbitragem, às vezes recai sobre algum jogador (Matheus Pereira já foi eleito algumas vezes neste ano), contudo, geralmente o treinador é o grande alvo. E, cá entre nós, a vítima mais fácil, de torcedores e até de cronistas esportivos. Fernando Diniz que o diga – foi demitido apenas 21 dias depois de comandar o primeiro treinamento da equipe nesta temporada.

Muito se tentou argumentar sobre a dispensa de Diniz. Foram raras as análises que apontaram para uma escolha errada da diretoria, numa história que teve início equivocado, meio e fim. O estilo de Diniz pedia tempo para solidificação da filosofia de trabalho. Independentemente de resultados. Quem o contratou deveria saber disso. Deveria.

Nesse cenário, Pedro Lourenço, sócio majoritário da SAF cruzeirense, tem sido bem poupado. É boa praça, bom de papo, simpático com todos. Mas virou uma espécie de idolatria perigosa. A boa relação com a torcida não deveria isentá-lo de críticas. Essa conta também deveria chegar a quem comanda o clube e responde por todas as decisões do futebol.

A saída de Diniz foi apresentada por muitos como a grande salvação. Como se todos os problemas tivessem origem única e exclusivamente nele. Bastaria tirá-lo de cena. Leonardo Jardim chegou, então, como grande solução, de categoria europeia. No primeiro jogo, ouviu vaias. O verdadeiro cartão de visitas do futebol brasileiro.

Leonardo Jardim no Cruzeiro

Leonardo Jardim assinou contrato de longo prazo com o Cruzeiro. Mas até ele deve saber que o que está escrito no papel não tem lá muita garantia.

O que vai determinar quão longeva será a passagem do português pela Toca da Raposa são os resultados. Pra ontem – quase literalmente.

Há poucos dias, o espanhol Pep Guardiola foi instigado a falar sobre a realidade brasileira, ou melhor, a capacidade de moer treinadores. Em entrevista à TNT Sports, ele disse ser impossível para um time forjar uma identidade quando não há tempo de trabalho. Citou a própria experiência, inclusive.

E deu uma puxada de orelha nos dirigentes: “Os clubes precisam pensar que, quando vivem uma temporada com três ou quatro treinadores diferentes, os problemas são eles, por terem escolhido esses treinadores. Deveriam demitir os dirigentes por terem escolhido esses técnicos”.

Guardiola foi além: “Quando você escolhe um técnico, tem de saber que pode ganhar ou perder, mas se joga por uma razão. Porque vê que com esse treinador, com as ideias que ele têm, que coincidem com as suas, a sua forma de gestão, com os jogadores que têm no momento, tudo pode funcionar. Agora, se você se dá conta de que ele não trabalha, que é preguiçoso, que não faz bem as coisas, o problema é seu por tê-lo contratado. É preciso saber por que o contratou”.

Essa convicção é o que geralmente falta aos dirigentes brasileiros no momento de escolher um treinador. O discurso de confiança no trabalho é perecível, vale tão somente no dia da apresentação para a imprensa. Daí por diante, é um salve-se quem puder.

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