COLUNA TIRO LIVRE

O abril do Cruzeiro: da paz à tempestade em 10 dias

Leonardo Jardim jamais prometeu ao torcedor que o time do Cruzeiro estaria, em curto prazo, voando baixo. Quem vendeu essa ilusão não foi ele

Foram 35 dias de alguma paz na Toca da Raposa II. Entre a eliminação na semifinal do Campeonato Mineiro e a estreia no Campeonato Brasileiro, o técnico Leonardo Jardim ficou praticamente a portas fechadas com os jogadores, conhecendo o time – e, mais de perto, o clube. Blogueiros e jornalistas ligados à Raposa contavam mil maravilhas. Diziam que as informações que vinham do CT celeste eram as “melhores possíveis”. “O time vai voar”, garantiam.

O cenário parecia perfeito – como é usual em todos os campos da vida, antes de a expectativa ser atropelada pela realidade.

Segundo esses interlocutores da diretoria, não haveria de dar errado. O Cruzeiro investiu pesado, trouxe um treinador europeu, contratou Gabriel Barbosa, que traz o gol até no apelido… Empolgados, empolgavam. Listavam as taças que a equipe iria erguer. Os torcedores, animados, ficaram com os olhos brilhando, entraram nessa energia. Mas foi só a bola rolar para o encanto se quebrar.

A vitória sobre o Mirassol, por 2 a 1, no Mineirão, pela primeira rodada do Campeonato Brasileiro, em 29 de março, já apresentou sutis sinais. Dentro de campo, a defesa demonstrou algum desajuste. Fora dele, Gabigol desmentiu Pedro Lourenço, o Pedrinho, dono da SAF celeste, que dissera dias antes que o atacante havia lhe prometido marcar 20 gols na competição nacional.

“Na verdade, eu não prometi nada. Vocês conhecem o Pedrinho mais do que eu. Ele fez uma aposta comigo, mas eu não prometi nada. Nunca prometo gols e títulos”, disse o camisa 9. Naquele momento, ele poderia ter optado por desconversar, brincar com a tal promessa… Mas escolheu o caminho da sinceridade.

Não que Gabigol deva ser criticado por ter falado a verdade, mas também foi o “sincericídio” de Pedrinho, mais recentemente, falando que o grupo tem jogadores que não deveriam ter sido contratados que muitos apontam como causa da postura do time nas derrotas que se seguiram à declaração.

Quer dizer: o futebol parece mais interessado em mentiras sinceras, como cantava Cazuza.

A tempestade de abril no Cruzeiro

Fato é que o mês de abril chegou como uma tempestade. A sequência inesperada de derrotas descortinou um panorama que ninguém queria ver.

Na Argentina, o revés por 1 a 0 para o Unión, na estreia na Copa Sul-Americana, acendeu o primeiro alerta. Mas, como era jogo fora de casa, houve compreensão. Na goleada por 3 a 0 para o Internacional, pelo Brasileiro, a ira foi direcionada ao árbitro, pela expulsão de Jonathan Jesus no primeiro tempo.

Até que veio o resultado mais surpreendente de todos, e aí não foi possível mais desviar o foco: a derrota por 2 a 1 para o Mushuc Runa, do Equador, no Mineirão, deixou o Cruzeiro na lanterna do grupo, pelo torneio continental.

As críticas escalaram. E agora, como explicar aos torcedores, que acreditaram no utópico mundo projetado por muitos? De quem é a culpa? Da diretoria, que contratou os jogadores e o treinador? Do técnico, que escolhe esquema de jogo e escala os atletas? Ou de quem idealizou a atuação do time e entregou essa imagem para a torcida?

O repórter do No Ataque, Andrei Megre, foi à Praça Sete, no coração de Belo Horizonte, dar voz aos cruzeirenses. As respostas foram as mais diversas e basicamente ninguém foi poupado. Pedrinho, Alexandre Mattos, Gabigol e o treinador foram os mais citados. Houve quem visse um problema coletivo, do “goleiro ao ponta-esquerda”, diriam os mais experientes.

Para fazer justiça a Leonardo Jardim, o português jamais prometeu ao torcedor que o time estaria, em curto prazo, voando baixo. Quem vendeu essa ilusão não foi ele.

O problema é que no futebol brasileiro o conceito de tempo é diferente daquele ao qual Jardim estava acostumado. Tempo, por aqui, é sinônimo de vitórias. Qualquer coisa fora disso apressa o ponteiros, influencia no correr dos minutos. E aí já sabemos quem é que paga essa conta. Jardim que se prepare.

Compartilhe