COLUNA TIRO LIVRE

O choro de Patrick, do Atlético, e a emoção que faz falta ao futebol

Depois do jogo do Atlético, Patrick disse estar vivendo o dia mais feliz da vida dele. A simplicidade em sua face mais superlativa

Em tempos de tanta emoção fabricada em posts de redes sociais – e os personagens do esporte embarcando nesse mundo de superficialidades –, ver o choro de Patrick, do Atlético, ao marcar o primeiro gol dele como profissional, na Arena do MRV, foi um sopro de autenticidade. Pureza até. Um gesto que nos remete àquilo que é a essência do futebol. A nobre e singela alegria de marcar um gol.

Aos 21 anos, Patrick estava em sua sétima partida com a camisa alvinegra, a primeira como titular. Aos 7min do segundo tempo, ele mostrou oportunismo para se antecipar ao goleiro do Maringá e marcar o segundo do alvinegro na goleada por 4 a 0, pela Copa do Brasil.

Lance consumado, a primeira reação foi levar as mãos à cabeça, como se estivesse incrédulo. Depois, se ajoelhou no gramado. Não conteve a emoção. Teve o nome gritado por torcedores no estádio. Em um dos camarotes estava Vânia Maria, mãe do jogador, também deixando escapar algumas lágrimas.

Ingredientes que pareciam demodês em tempos modernos. Genuínos. Que nenhuma Inteligência Artificial é capaz de criar. Porque eles vêm da alma. Não há como programar em computador.

Depois do jogo, Patrick disse estar vivendo o dia mais feliz da vida dele. A simplicidade em sua face mais superlativa. Em seguida, a gratidão: fez questão de entregar as camisas que usou na partida para Michele Rios, psicóloga do Atlético, e Neila Bittencourt, assistente social do clube. Disse que as duas profissionais foram fundamentais neste início dele no Atlético.

Patrick veio para o Galo envolvido na negociação para a ida de Paulinho para o Palmeiras. Na época, houve quem questionasse o motivo de o alviverde abrir mão de jogador tão jovem e promissor. Capitão do time Sub-20 e que já demonstrara, além da liderança, personalidade em campo e qualidade. Um volante canhoto, de 1,87m e pernas compridas, dono de passadas largas, que o deixam em vantagem na saída para o ataque.

A justificativa oficial era que ele estava prestes a estourar a idade de júnior e não teria espaço na equipe comandada por Abel Ferreira. Outra versão é a de que a inclusão de Patrick na negociação foi exigência do Atlético, com os paulistas mantendo um percentual nos direitos do jogador para faturar em caso de venda futura.

Mineiro de Juiz de fora, ele traz, na ainda curta carreira, algumas cicatrizes. Custou a encontrar um porto seguro no mundo da bola e por mais de uma vez quis desistir do futebol. Foi dispensado do Flamengo, não se adaptou à Ferroviária-SP e abreviou passagem pelo Cruzeiro – capítulo que merece até parênteses.

Segundo matéria do repórter Samuel Resende, do No Ataque, a passagem na Toca da Raposa na época de Sub-17 (foi companheiro de Vitor Roque) durou pouco por um motivo bem pontual, iniciado depois de um colega de quarto de Patrick ter um short furtado.

Um supervisor da base celeste questionou, então, todos os atletas que dormiam no local sobre o assunto. O volante se sentiu ofendido, como se estivesse sendo acusado. Não quis permanecer em Belo Horizonte, por mais que o agente dele tentasse demovê-lo da decisão.

Voltou para a Ferroviária, se destacou, e aí a maré virou. Foi contratado pelo Palmeiras, onde ficou três temporadas. Despediu-se depois de 83 jogos, quatro gols, uma assistência, além de títulos do Paulista Sub-20, Copa São Paulo, Copa do Brasil e Brasileiro (dois) da categoria.

O choro na Arena MRV certamente teve origem na somatória desses momentos da vida dele e de outros que não se tornaram públicos. Mas Patrick desta vez chorou de alegria. E essas são as lágrimas mais recompensadoras que alguém pode deixar escapar.

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