
O esporte tem uma particularidade que ajuda a mostrar quão fascinante ele pode ser. São aqueles momentos em que tudo converge para a essência da disputa – não importam cor de camisa, rivalidade. O interesse esportivo supera toda sorte de preferências. Cruzeiro x Palmeiras, neste domingo, no Mineirão, será um desses exemplos.
O jogo está sendo aguardado ansiosamente por torcedores celestes e alviverdes, mas os olhos de muitos outros estarão voltados para o que acontecerá no Gigante da Pampulha. Até mesmo quem não está envolvido na disputa que os dois protagonizarão pela liderança do Campeonato Brasileiro vai ficar ligado.
Há muitos argumentos para determinar que essa será a partida mais atrativa da 11ª rodada. Não só isso: certamente, será o duelo mais assistido do domingo. E motivos não faltam. A começar, o embate entre portugueses.
Por mais que eles tentem se desviar dos holofotes e deixar as atenções voltadas para os jogadores, não há como não traçar um paralelo. Afinal, frente a frente estarão o calouro de futebol brasileiro Leonardo Jardim e o já veterano Abel Ferreira. No Palmeiras desde outubro de 2020, ele se tornou um dos treinadores mais bem-sucedidos do circuito, com duas Copas Libertadores, uma Copa do Brasil, uma Recopa Sul-Americana, três Campeonatos Paulistas, dois Brasileiros e uma Supercopa do Brasil.
Incontestável, Abel sedimentou o caminho lusitano pela ‘terra brasilis’ que Jorge Jesus iniciou no Flamengo. Muito do status que os portugueses têm aqui se deve ao desempenho dele. Mas Abel foi além, especialmente porque ele de fato se estabeleceu no país. Não tem passagem fugaz como outros estrangeiros. E isso se deve, justamente, à coleção de conquistas.
Não tivesse Abel levado o Palmeiras a tantas taças decerto a passagem já teria se encerrado. Mas é aquela questão ao estilo biscoito Tostines (quem é das antigas vai se lembrar): Abel está há tanto tempo no Brasil porque seu time conquista muitos títulos ou conquista muitos títulos porque ele está há tanto tempo no Brasil? As duas opções são certas.
Abel teve propostas para sair, mas preferiu consolidar a carreira por aqui – embora nem sempre pareça estar satisfeito com essa decisão, já que volta e meia solta alguma reclamação: dos campos, do clima, da arbitragem, da bola… O sangue latino do técnico palmeirense ferve de vez em quando, às vezes até demais.
No outro lado dessa balança está Leonardo Jardim. Novato, ainda se ambientando com as coisas por aqui, mas com um perfil um pouco diferente. Mais frio, racional, com um olhar bem prático sobre a realidade em que está inserido.
Jardim se posiciona se forma bem pragmática nas entrevistas. Não vende ilusões para o torcedor. Certamente, já percebeu como a banda toca por aqui: quando o time ainda estava se ajustando, sofreu críticas de torcedores (incluindo os influencers) por causa da irregularidade natural de todo início de trabalho. Agora, depois de três meses na Toca da Raposa e com o time emplacando 10 partidas de invencibilidade, vê a mesma ala passional enchê-lo de elogios.
Até fora de Minas, o desempenho do Cruzeiro de Jardim começa a chamar atenção. Superar o time do compatriota significará um grande passo nessa ascensão.
O jogo deste domingo têm outros ingredientes para prender muita gente diante da tevê. Mas esse duelo entre Jardim e Abel será interessante de acompanhar. Quem vencer vai ganhar pontos – e não apenas na classificação da Série A do Brasileiro.