COLUNA TIRO LIVRE

Guardiola xingou e festejou: a emoção de um europeu com o Mundial

As câmeras de tevê flagraram a ira de Guardiola com a falha de Ederson. Depois, mostraram a alegria dele ao comemorar os gols, especialmente o golaço de Savinho

Todo Mundial de Clubes é o mesmo papo. “Os europeus se lixam para a competição”, dizem por aí. Era assim quando o torneio era disputado em dezembro – e a justificativa recaía sobre o fato de os times da Europa estarem em meio de temporada. Agora, com a mudança de formato e de data, com os jogos transferidos para o meio do ano, os argumentos se voltaram para o cansaço dos jogadores, que a esta altura estariam de férias, curtindo o verão do Hemisfério Norte em alguma cidade à beira do Mar Mediterrâneo.

Eis que aquele que é apontado como um dos maiores técnicos desta geração, Pep Guardiola, aparece para quebrar esse paradigma, jogando por terra o suposto desdém que os times do Velho Continente alimentam pela competição organizada pela Fifa.

Em vários momentos ao longo da Copa do Mundo de Clubes de 2025, o comandante do Manchester City deu mostras da seriedade com que encara o torneio. Com ações, reações e palavras.

Recentemente, ao comentar o desempenho de algumas equipes sul-americanas – sobretudo as brasileiras, já que as argentinas não empolgaram tanto –, Guardiola colocou na mesa questões culturais. Destacou a passionalidade com que o futebol ainda é tratado por aqui.

Para fazer um link com a realidade brasileira, porém, é necessário abrir parênteses: tempos esses que parecem cada vez mais perto do fim com a “betzação” do futebol no Brasil. Não há uma transmissão esportiva sem patrocínio de casas de apostas. Elas estão também em camisas de clubes. Nos estádios. Nas redes sociais, tendo jornalistas e jogadores como porta-vozes. Uma lavagem cerebral opressora em torcedores feita por agentes do esporte. Antiético de várias maneiras e, acima de tudo, cruel. Volta e meia, levantando dúvida sobre a legitimidade de algum lance. Culto ao vício – que leva a perdas financeiras e de saúde – disfarçado de inocente entretenimento.

Voltando ao olhar de Guardiola, o que ele entende ser um diferencial na América do Sul. Uma partida pode pouco valer, mas bola no fundo da rede será comemorada efusivamente. Na mesma proporção é o tamanho da dor causada por uma derrota. A emoção, analisa o técnico espanhol, é parte do jogo, dentro e fora de campo. “É isso, você tem de viver a competição”, declarou.

Além desse lado subjetivo, ele abordou questões práticas. Puxou a orelha de quem está se surpreendendo com o rendimento dos sul-americanos, associando a um desconhecimento do que acontece fora da Europa. “As pessoas ficam surpresas que o time europeu perdeu. Bem-vindo ao mundo real, meu amigo! Parece que você ficou olhando para sua barriga e não viu o que estava acontecendo. Porque eles (sul-americanos) são bons”, disparou.

Um exemplo foi visto no duelo entre City e Juventus, nesta quinta-feira (26/6), em Orlando. Aos 10 minutos, a equipe de Manchester vencia por 1 a 0, e os italianos empataram a partir de erro crucial do goleiro Ederson. O brasileiro, ao sair com os pés, entregou a bola de bandeja para Koopmeiners marcar.

As câmeras de tevê flagraram a ira de Guardiola, no banco de reservas, com a falha de Ederson. Depois, mostraram a alegria do treinador ao comemorar os gols de seu time, especialmente o golaço marcado por Savinho, pegando de primeira, de fora da área.

As duas equipes já estavam classificadas para as oitavas de final e, na prática, o resultado definiria apenas quem passaria em primeiro lugar e quem iria em segundo. Mas foi assim, com emoção, que foi construído o massacre inglês por 5 a 2 sobre a Juve.

Vitória que a imprensa europeia – aquela que, dizem, não liga para o Mundial de Clubes – exaltou com todos os adjetivos possíveis. Guardiola, como ele mesmo prega, viveu o jogo. E deu o exemplo para o mundo.

Compartilhe