TIRO LIVRE

De Abel Ferreira ‘light’ a Renato Gaúcho humilde: o novo ‘mood’ dos técnicos no Mundial

Aquele Abel reclamão, cuspindo marimbondo a cada cartão endereçado a seus comandados, parece ser coisa dos trópicos

O Mundial de Clubes disputado nos Estados Unidos tem trazido algumas surpresas para quem acompanha futebol de perto e observa detalhes que vão além de gols, tabelas e defesas arrojadas. Tão fortuito quanto resultados como a eliminação do Manchester City para o Al-Hilal é uma “mudança” em alguns personagens. Entre eles, dois treinadores de características marcantes: Abel Ferreira, do Palmeiras, e Renato Gaúcho, do Fluminense.

Os dois já estão entre as principais figuras da competição. Primeiramente, por levarem suas equipes às quartas de final, ao lado dos gigantes europeus Bayern, PSG, Real Madrid, Chelsea e Borussia, além da zebra árabe – que está entre os oito melhores da Copa do Mundo de forma incontestável.

Além de fatores táticos e técnicos, chama atenção uma nova postura na dupla. Abel Ferreira tem aparecido muito mais ‘light’ à beira do campo. Sem aqueles arroubos de ira que costuma mostrar durante jogos no Brasil.

Reparem bem. Decisões polêmicas dos árbitros em estádios estadunidenses não têm suscitado no técnico português reações que estamos acostumados a ver em gramados tupiniquins. Por aquelas bandas, Abel tem se mostrado muito mais resignado, mais respeitoso, inclusive. No máximo, uma conversa em tom sereno com o quarto árbitro. O trato é notadamente diferente.

Aquele Abel reclamão, cuspindo marimbondo a cada cartão endereçado a seus comandados, ou indignado por não ver apontada falta em seus jogadores, parece ser coisa dos trópicos.

Nem mesmo nas oitavas de final contra o Botafogo, que poderia trazer alguma referências aos ares brasileiros, ele se exaltou.

A ver como será, quando forem retomadas as competições em solo brasileiro. Por cá queremos também aquele Abel “paz e amor” do Hemisfério Norte.

Pelos lados do Fluminense, tivemos a oportunidade de ver, durante a Copa do Mundo de Clubes, um novo Renato Gaúcho. De discurso modesto e atitudes igualmente desprovidas de vaidades. No mínimo, mais contido.

Renato Gaúcho já usou até a palavra “humildade” para descrever um dos confrontos de sua equipe nos EUA: a (por que não dizer) surpreendente vitória sobre a Internazionale por 2 a 0, pelas oitavas de final. As chances maiores de vitória recaíam sobre o time italiano, porém, com um jogo consistente, os cariocas saíram de campo com um resultado considerado histórico por muita gente.

Após a partida, Renato explicou que “foi o jogo da humildade”, pelo sistema adotado (com três zagueiros), e também pela postura dos jogadores. “Soubemos jogar, segurar a bola e ser letais”, resumiu.

Há, contudo, um detalhe importante, que não passou despercebido pelos mais atentos. No segundo tempo da partida, naquela parada para hidratação, o zagueiro Thiago Silva sugeriu uma alteração tática que foi aceita por Renato Gaúcho. Everaldo e Lima foram marcar os laterais da Inter, e Arias ficou mais adiantado.

Foi atuando dessa forma que o Fluminense segurou o ímpeto italiano e ainda marcou o segundo gol.

“Troco bastante ideia com meu grupo, dou essa liberdade a eles. O treinador não vê 100% o jogo. Às vezes, o jogador está sentindo algo diferente no campo que pode colocar, ajudar e eu vou analisar na hora e ver se é o melhor ou não. No momento, não tinha pensado nisso porque tinha que sacrificar dois jogadores que não são da posição, mas tudo em prol do time. Por isso é importante ter esse tipo de jogador, liderança para trocar ideias e ajeitar da melhor maneira”, disse Renato Gaúcho.

Nesta sexta-feira, na luta por um lugar na semifinal, as emoções dessa dupla serão novamente testadas. Em tese, o desafio palmeirense, contra o Chelsea, será mais complicado. Com potencial para mexer com os nervos de Abel. 

Já a partida do Fluminense contra o Al-Hilal pode ser uma armadilha perigosa para o ego de Renato Gaúcho, caso ele decida deixar para trás o estilo mais ponderado. Vamos ver como eles vão passar por mais essa prova de fogo.

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