TIRO LIVRE

A revolução Jardim no Cruzeiro, o português que não é mister

Um dos maiores méritos do treinador foi encontrar um caminho para encorpar o Cruzeiro usando bem as ferramentas de que dispõe

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Alguns torcedores do Cruzeiro torceram o nariz para o empate por 0 a 0 com o Corinthians, no Itaquerão, na noite de quarta-feira. Foi como se esse resultado tirasse um pouco do encantamento que eles nutriam pelo time, um freio no entusiasmo pela ascensão à liderança do Campeonato Brasileiro. No manual passional desses torcedores, a equipe dele tem de atropelar quem cruzar sua frente.

Pois a realidade veio na forma de um jogo com poucas emoções e placar sem gols, porém justo. Consequência do equilíbrio visto em campo. Nada fora da normalidade, nem que sinalize demérito ao que a Raposa fez ou preocupação com o que ainda pode fazer na competição.

Já são mais de 20 anos do Brasileiro sendo disputado no sistema de pontos corridos e muita gente ainda não se deu conta de que o que vale é a regularidade. A campanha cruzeirense até aqui já é de se aplaudir. O time de Leonardo Jardim é tido e havido como um dos mais fortes do campeonato. Em 16 partidas, são 10 vitórias, quatro empates e apenas duas derrotas – 70% de aproveitamento. São 27 gols marcados e nove sofridos. Na primeira rodada da Série A, poucos apostariam em tal trajetória.

Claro que nada disso é garantia de que será campeão. Aliás, a esta altura, essa é uma garantia que nenhum time tem. Até por isso, os aplausos não podem (e nem devem) ficar condicionados à conquista do título. O aqui e agora merece reconhecimento, até porque é ele que vai dar sustentação ao que a Raposa vai mostrar até o fim das 38 rodadas.

É preciso analisar o bom trabalho que vem sendo feito hoje por Jardim. Uma verdadeira (r)evolução na Toca.

O Cruzeiro de Jardim

Um dos maiores méritos do treinador foi encontrar um caminho para encorpar o Cruzeiro usando bem as ferramentas de que dispõe. Se não conta com um grupo recheado de craques, teve competência para criar uma unidade que fortalece a equipe coletivamente. Mais do que isso: tem ficado cada vez mais claro o comando que ele exerce sobre seu elenco.

Um exemplo é o fato de o atacante Gabigol, com todo o status que carrega, nacional e internacionalmente, aceitar, resignado, a reserva. Basta lembrar os tempos de Flamengo para traçar um paralelo. Nesta temporada, Gabigol disputou 26 jogos, fez 11 gols e distribuiu quatro assistências. Não tem cadeira cativa na equipe porque Jardim prefere usar um centroavante (Kaio Jorge), um armador (Matheus Pereira), um velocista (Wanderson ou Marquinhos) e um meio-campista mais versátil (como Christian).

Volta e meia, ao fim de uma partida, Gabi é questionado sobre a suplência. Até agora, zero polêmicas. Ele até confessa não estar totalmente feliz, contudo, demonstra respeito às escolhas do treinador e, sobretudo, aos companheiros.

Muitos podem dizer que na fase boa esse controle é mais fácil de ser exercido, já que são poucas as brechas para contestação. Porém, fica claro que, no caso de Jardim, isso não é momentâneo. Essa linha foi seguida por ele até na época das “vacas magras” – aquele período de maiores dificuldades, que culminaram na queda na semifinal do Campeonato Mineiro e na eliminação na fase de grupos da Copa Sul-Americana.

Em comum, na alegria e na tristeza, a forma serena e realista com que o português lida com as situações que se apresentam. Ele não se desesperou quando as coisas não iam bem, nem tampouco está caindo na empolgação de quem vende ilusões com a boa fase.

A reboque, uma simplicidade que chega a destoar. Após o jogo contra o Corinthians, ele deu mais uma demonstração dessa faceta. Dispensou até o “mister”, o equivalente português de “professor”, que muitos usam como um carimbo de exaltação no trato com treinadores.

“Às vezes, a torcida chama o meu nome e eu não levanto a mão, mas é porque não ouço. O meu ‘brasileiro’ também não está 100%. Dizem que me chamaram de ‘mister’. Bom, mas o meu nome não é mister, é Jardim (risos).”, brincou. É isso aí, Jardim!

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