COLUNA TIRO LIVRE

O gol do Atlético tem um novo santo – e ele ainda não tem o reconhecimento que merece

Num intervalo de quatro anos, Everson deu duas amostras pontuais de sua importância para a equipe do Galo

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O dia era 20 de julho de 2021. A essa altura, o atleticano ainda não sabia, mas o desfecho da temporada seria mágico, com o time campeão brasileiro e da Copa do Brasil. A noite daquela terça-feira, contudo, já teve elementos para ficar na memória. O Mineirão testemunhou uma das incontáveis jornadas épicas do goleiro Everson com a camisa do Galo. E uma série de coincidências nos trazem ao que o arqueiro alvinegro viveu na nessa quarta-feira (6/8), na Arena MRV, contra o Flamengo.

Na partida de quatro anos atrás, Everson deixava o estádio como herói, depois de selar, nas penalidades, a classificação da equipe comandada por Cuca. No tempo regulamentar, um vacilo quase custou caro. Nos pênaltis, a redenção: ele evitou gols adversários e ainda balançou a rede, convertendo a cobrança que definiu o placar e a vaga. O goleiro adversário, que não conseguiu parar Everson? Rossi.

Esse foi o contexto da vitória atleticana sobre o Boca Juniors, em 20 de julho de 2021, pelas oitavas de final da Copa Libertadores. Naquela ocasião, Everson cometeu falha crassa em um gol argentino durante o jogo – que acabou anulado após análise do árbitro de vídeo (VAR).

Foram sete minutos entre a bola morrer no fundo da rede do Galo e o lance ser invalidado. Longos sete minutos em que o goleiro alvinegro foi levado ao purgatório do futebol. E de lá resgatado ao fazer outras grandes defesas, pegar dois pênaltis e cravar a classificação atleticana com o seu próprio gol.

Eram tempos pandêmicos, do “fique em casa” por causa da COVID-19, e o Mineirão estava vazio. Mas nem por isso não se pode dizer que o estádio explodiu de emoção. Toda ela estava ali, concentrada no 1,92m de Everson. Assim que mandou a bola no canto superior esquerdo de Rossi (que nem se mexeu), ele partiu em disparada, caiu no campo e levou as mãos ao rosto, chorando.

Corta para a noite de 6 de agosto de 2025, na Arena MRV. Pela rodada de volta das oitavas de final da Copa do Brasil, o Flamengo sai na frente no marcador e, aos 39min do primeiro tempo, por um milagre não faz o segundo: em um recuo, Everson escorrega na pequena área e quase entrega a bola de bandeja para Everton Cebolinha, mas consegue reagir e afastar o perigo.

Nas penalidades, o arqueiro do Galo defendeu a cobrança de Samuel Lino, viu Wallace Yan isolar e ainda marcou o quarto gol atleticano ao chutar rasteiro, no canto direito de Rossi, e carimbar a passagem para as quartas de final. A Arena MRV explodiu de emoção – agora sim, no grito da torcida.

O talento de Everson é reconhecido?

Num intervalo de quatro anos, Everson deu duas amostras pontuais de sua importância para a equipe. Nesse meio tempo, não faltaram outros momentos em que as mãos dele (ou até os pés) garantiram algum resultado para o Atlético.

Por algum motivo, ele não tem o crédito que deveria, não é exaltado da forma que merece. O reconhecimento ainda é pouco para tudo o que Everson faz sob as traves. Inclusive, falta maior reconhecimento nacional, algo que vimos ocorrer também aqui em Minas Gerais com outro jogador da posição: Fábio, que por anos brilhou com a camisa celeste, porém, sempre esteve em segundo plano para analistas de Rio ou São Paulo quando o assunto era goleiro.

Talvez não seja exagero dizer que Everson é o maior arqueiro da história do Galo. História essa que tem grandes nomes, começando por Kafunga, passando por Mazurkievski, João Leite, Carlos, Taffarel e Velloso até chegar àquele que foi canonizado pela torcida, São Victor, o da canhota de Deus, que levou o Atlético à conquista da América. Pois já é possível dizer que o gol alvinegro tem um novo santo.

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