COLUNA TIRO LIVRE

Apostas esportivas: pulso firme na Turquia, mão leve no Brasil

Ficou provado que o caminho ainda é longo, especialmente se o personagem da vez vestir a camisa de um dos grandes times do Brasil, como o atacante Bruno Henrique, do Flamengo

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A Federação Turca de Futebol (TFF) anunciou nesta quinta-feira (13/11) uma onda de punições a mais de 100 jogadores investigados por envolvimento em apostas esportivas. Entre os 102 suspensos estão atletas das duas principais divisões do país. Por lá, nem integrantes de equipes de primeira linha escaparam – na lista estão, por exemplo, dois jogadores do atual tricampeão nacional, o Galatasaray. Não foi a primeira atitude massiva da federação turca neste mês para conter o que chamou de “crise moral”.

No início de novembro, foram afastados quase 150 árbitros e assistentes, também acusados de participação em apostas esportivas. Oito pessoas chegaram a ir para a prisão, incluindo o presidente de um clube da elite. Jogos da segunda e da terceira divisões foram suspensos. A entidade que comanda o futebol turco promete pulso cada vez mais firme.

Esse é um problema global e que não atinge só o futebol. Contudo, encontrou, nos gramados, o ambiente perfeito para proliferar – deixando um rastro de destruição na vida de quem vicia nas apostas e rendendo muito dinheiro a quem divulga e comanda o setor.
O que diferencia, nesse caso, é a forma como as autoridades esportivas e jurídicas de cada país tratam o assunto.

No Brasil, 22 jogadores até chegaram a ser punidos, em 2024, na operação nomeada Penalidade Máxima, deflagrada em 2023 pelo Ministério Público de Goiás. Cinco atletas foram, inclusive, banidos do futebol.

Nesse grupo, é verdade, não estavam grandes astros. Não houve forte comoção quando os nomes foram anunciados. Ainda assim, acreditava-se que aquela decisão da Justiça – então considerada severa – seria educativa. Regularia um mercado crescente, em que agentes do futebol estão em uma relação cada vez mais íntima com casas de apostas. Mas ocorreu exatamente o contrário.

Na época, as investigações da Penalidade Máxima revelaram um esquema de manipulação de resultados lucrativo para apostadores. Jogadores recebiam dinheiro para cometer infrações durante as partidas de futebol, que iam de cartões amarelos a expulsões e até pênaltis. Imaginava-se que, com as punições, a sangria seria estancada.

De lá para cá, no entanto, cresceu o número de jogadores, times, jornalistas e até competições patrocinados por empresas de jogos de azar. Elas são onipresentes. Não se discute ética nesse ambiente. Chega a ser constrangedor. Todos assistem passivamente a algo que deveria ser encarado como nocivo para a credibilidade do futebol brasileiro. Afinal, são os atletas que, com suas decisões em campo, definem quem ganha ou quem perde nas apostas.

Nesta quinta-feira, ficou mais uma vez provado que o caminho ainda é longo. Especialmente se o personagem da vez vestir a camisa de um dos grandes times do Brasil, como o atacante Bruno Henrique, do Flamengo.

Denunciado por forçar um cartão amarelo em partida contra o Santos, no Mané Garrincha, pelo Brasileiro de 2023, supostamente para beneficiar apostadores – no caso, o irmão dele -, Bruno Henrique está liberado para jogar, mediante o pagamento de multa de R$ 100 mil.

Prevaleceu, no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), o entendimento de que ele não atuou “de forma contrária à ética desportiva, com o fim de influenciar o resultado de partida, prova ou equivalente”, como reza o artigo 243-A do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD). Em vez disso, Bruno Henrique foi enquadrado no artigo 191, que diz respeito a “deixar de cumprir, ou dificultar o cumprimento de regulamento, geral ou especial, de competição”.

A sentença abre um precedente perigoso no futebol brasileiro. Libera o caminho para que outros façam (ou continuem fazendo) o mesmo, contando até com condescendência de setores da imprensa – desde que, é claro, estejam nos clubes certos.

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