Palmeiras e Flamengo decidem o título da Copa Libertadores neste sábado (29/11), mas o troféu de melhor dirigente do Brasil já poderia ser entregue antes mesmo de conhecido não só o campeão continental como o brasileiro. E essa taça deveria ir para Leila Pereira. Mais uma vez, a dirigente palmeirense se destaca como uma voz lúcida e dissonante em um meio tão arcaico como o futebol brasileiro, dando aula aos seus pares.
Nesta semana, em um evento em São Paulo, Leila Pereira foi de encontro a declarações do técnico Abel Ferreira e isentou a arbitragem de responsabilidade no declínio do Palmeiras no Campeonato Brasileiro. O time paulista, que liderava a competição com certa folga, perdeu o rumo e praticamente abriu caminho para o rubro-negro carioca ser campeão.
Irritado depois de mais um jogo que sua equipe não teve competência para ganhar, Abel atribuiu os últimos resultados ruins a decisões de árbitros. Com a maior serenidade e elegância que lhe são peculiares, Leila fez o caminho inverso e divergiu do próprio treinador.
Disse ela: “Não acredito que esses cinco últimos jogos que não conseguimos vencer foram em virtude de arbitragem. Eu não posso transferir responsabilidade que é nossa. Não vencemos por responsabilidade nossa, por incapacidade nossa. Isso é muito claro para mim, muito claro para o diretor de futebol e acho que muito claro para o nosso treinador”.
A dirigente foi no caminho oposto ao da maioria esmagadora dos cartolas brasileiros. Em situações assim, o que não faltam são desculpas (esfarrapadas) para tirar o foco do verdadeiro problema. Ela seguiu outra via: deu a real, doa a quem doer. Sem maternalismo. E não foi via post de rede social não, como muitos fazem por aí, para se abster de questionamentos diretos.
Não foi por causa da arbitragem que o Palmeiras abriu alas para o Flamengo. O placar de um jogo (na maioria das vezes) não decorre somente de marcações de arbitragem. Mesmo quando um juiz falha em um lance capital, a equipe que sai reclamando geralmente teve outras dezenas de oportunidades para matar a partida e também falhou.
Erros de arbitragem no Brasileiro
Não é difícil ilustrar o que Leila Pereira disse. O alviverde paulista basicamente se retirou da liderança do Brasileiro com uma sequência de atuações em que não foi incisivo o suficiente para construir vitórias que o teriam mantido como grande candidato ao título. Simples assim.
Houve erro de arbitragem nessa caminhada? Decerto. Como houve para os demais times também. Não dá para canalizar nisso, contudo. Só que, enquanto o Palmeiras vacilava, o Flamengo seguia focado em fazer a parte dele. Sem desperdiçar as chances que o futebol oferecia a ele.
Engraçado seria se Palmeiras e Flamengo fossem mais vítimas que os demais, como tem gente defendendo por aí. Pobres times milionários… Mas a questão financeira nem é o xis da questão aqui – embora explique o domínio dos dois no cenário brasileiro e sul-americano nos últimos anos.
O grande ponto é que os clubes, e especialmente os dirigentes, têm extrema dificuldade em admitir seus erros e, de quebra, os erros de seu time. Há os (cartolas/treinadores/jogadores) que terceirizam a culpa, assim como os que somem para não ter de dar explicações. Que eles aprendam com Leila Pereira. A única mulher a presidir um clube no Brasil teve a coragem que falta a muitos homens para colocar o dedo na própria ferida. Sem falácias.