A Série A do Campeonato Brasileiro chega aos momentos finais com pouca imprevisibilidade. Na parte de cima, era natural a briga entre Flamengo e Palmeiras pelo título, como se configurou ao longo da competição. Na zona do desespero, também poucas surpresas. Com Sport e Juventude rebaixados antecipadamente, há duas vagas em jogo para a Série B, com cinco candidatos. E é justamente nessa turma que reside a grande história deste ano.
Na disputa particular para ver quem se salva estão times de naturezas bem distintas. Em 14º lugar, com 44 pontos – a dois do Vitória, o primeiro no grupo de descenso –, está o badalado Santos, que entrou no campeonato apostando no brilho de Neymar, mas seguiu roteiro oposto: a grande estrela ofuscada por lesões, folias e partidas de pôquer, e o fantasma da Segundona rondando a Vila Belmiro durante boa parte do returno.
Eis que na hora do “vamos ver”, finalmente o camisa 10 resolveu assumir a responsabilidade da qual parece ter fugido a temporada inteira. O Peixe tem feito valer, ainda, o fato de ser agraciado com uma reta final mais favorável que a dos concorrentes e entra na última rodada com maiores chances de se safar.
Enquanto isso, a cidade de Fortaleza vê seus dois representantes lutando, juntos e separados, pela sobrevivência. Em 15º e 16º, respectivamente, estão Ceará e Fortaleza, ambos com 43 pontos. Há um grande risco de a capital cearense ter as duas equipes na Série B de 2026. Seria um castigo e tanto para um estado que ama o futebol tão vivamente. Mais do que isso: que viu o Leão do Pici viver trajetória redentora nos últimos meses e, por que não dizer, merecedora do clamor dos deuses.
Paciente terminal, o tricolor chegou a ser desenganado. Com 80% de chance de cair a 14 rodadas do fim da Série A, parecia caso perdido – em crise, afastou jogadores e, como último recurso, trocou o comando, naquele tipo de manobra que nem sempre surte efeito.
Contudo, tirou da manga um ás. Ou um coringa. Na prática, um ex-jogador de passado rebelde (com ou sem causa), conhecido pelo estopim curto e que desembarcou na ensolarada cidade praiana com a missão de tirar o time do fundo do poço.
Palermo no Fortaleza
Quando o ex-atacante Martín Palermo, maior artilheiro da história do Boca Juniors, chegou, o cenário era desolador, desafiador. O Fortaleza estava em 19ª lugar, com apenas 16 pontos – àquela altura, a nove de distância do primeiro time fora do Z-4, o Santos.
Pois com seu portunhol, um time cheio de gringos e gols salvadores de Deyverson (especialmente o hat-trick contra o Atlético, na Arena MRV), o Leão fez as vezes de fênix. Emplacou nove partidas de invencibilidade e foi se recuperando, passo a passo.
Cada ponto somado nessa sofrida caminhada foi sendo comemorado. De início, timidamente. Até que o horizonte foi se tornando mais promissor e, no penúltimo jogo pelo Brasileiro, em um Castelão lotado, veio a saída da temida zona da degola, depois de 27 rodadas de amargura.
A vitória sobre o Corinthians levou a torcida do Fortaleza ao delírio. Lágrimas de alegria e, principalmente, de fé. Olhares vidrados, à espera do derradeiro capítulo.
Falta, agora, o livramento definitivo, matemático, que será definido no domingo (7/12), contra o Botafogo. Nessa cruzada final, o Leão do Pici depende apenas de si – para muitos, uma rima cabalística. Desfecho perfeito para uma jornada de renascimento.