
Nas últimas semanas, os mercados de criptomoedas têm apresentado sinais mistos. Enquanto o Bitcoin e outras moedas digitais passam por correções de preço, grandes nomes de Wall Street avaliam que uma nova alta pode estar próxima. Analistas apontam que os ativos digitais têm demonstrado resiliência diante das incertezas econômicas globais.
Esse ambiente de instabilidade é alimentado por temores de recessão nos Estados Unidos e pela recente volatilidade nas bolsas. O interesse de Wall Street fica evidente diante dos movimentos de executivos de bancos tradicionais e fundos de investimento, que veem as criptomoedas como uma possível válvula de escape em meio à turbulência dos mercados.
Larry Fink, CEO da BlackRock, mencionou recentemente o impacto da elevação dos custos da dívida pública norte-americana e alertou para os possíveis efeitos sobre o dólar e o sistema financeiro global.
Expansão e regulação em pauta no Congresso dos EUA
O Congresso americano discute atualmente uma legislação crucial para o futuro das criptomoedas, com foco especial nas stablecoins. Duas propostas avançam em paralelo: uma prevê o pagamento de juros sobre stablecoins lastreadas em dólar; a outra impõe restrições mais severas a essa prática.
Segundo Bo Hines, representante do Conselho de Assessores de Trump para Ativos Digitais, a Casa Branca demonstrou interesse em aprovar a proposta que permite juros antes de agosto. A medida busca transformar as stablecoins em uma espécie de “conta corrente digital”, ampliando a competição entre empresas de cripto e bancos tradicionais.
Críticos alertam, contudo, para o risco ao consumidor caso essas carteiras digitais não contem com a mesma proteção oferecida aos depósitos bancários. O mercado de criptoativos é altamente diversificado. Com a listagem Coinbase, há projetos que vão de altcoins e memecoins a stablecoins reguladas.
De acordo com o Bank for International Settlements (BIS), o valor total de stablecoins em circulação ultrapassou US$ 140 bilhões em meados de 2023, impulsionado pela USDT da Tether. No mesmo período, a Tether reportou lucro de US$ 13 bilhões, obtido a partir de investimentos em títulos do Tesouro dos EUA, ouro, Bitcoin e outros ativos.
Stablecoins e o papel dos bancos
Stablecoins estão no centro do debate sobre o futuro das finanças digitais. Brian Moynihan, CEO do Bank of America, declarou que há espaço para uma stablecoin amplamente aceita pelo sistema bancário, desde que a regulamentação permita. Instituições financeiras estão dispostas a entrar no mercado se houver segurança jurídica, afirmou ao portal DL News.
Há, no entanto, quem veja essas moedas como uma possível ameaça estrutural aos bancos. A oferta de serviços similares aos das contas tradicionais, incluindo pagamento de juros, pode enfraquecer o papel de intermediação das instituições financeiras.
Arthur Wilmarth, professor emérito de Direito da Universidade George Washington, alertou que a ausência de regulamentação clara do processo pode desestabilizar o sistema financeiro. Por outro lado, muitos bancos e investidores destacam o potencial da tecnologia blockchain para modernizar os sistemas de pagamento, reduzindo custos de transação e facilitando transferências internacionais.
Sinais de mudança institucional
Bancos de Wall Street tradicionalmente cautelosos com criptomoedas começam a sinalizar maior abertura. A Goldman Sachs já opera uma mesa de negociação de ativos digitais. O JPMorgan lançou sua própria stablecoin, a JPM Coin, usada por clientes institucionais para transferências de alto valor.
O foco agora é ampliar esses serviços e alcançar o varejo, desde que a regulação permita. Brian Armstrong, CEO da Coinbase, defende que bancos e empresas de cripto tenham permissão para compartilhar juros com os consumidores, dentro de um ambiente competitivo com regras claras.
No Brasil, o avanço também é expressivo. Dados da Receita Federal apontam que, somente em agosto de 2024, mais de 1,5 milhão de brasileiros declararam operações com criptoativos, número superior ao de investidores na B3 no mesmo período. O movimento já atraiu a atenção do Banco Central, que conduz estudos sobre o Real Digital. Segundo relatório do BC, o volume transacionado por brasileiros com criptomoedas ultrapassou R$ 40 bilhões.