Maior ídolo do automobilismo brasileiro e um dos principais pilotos da história da Fórmula 1, Ayrton Senna da Silva nasceu em São Paulo no dia 21 de março de 1960 e morreu em 1º de maio de 1994, em Bolonha, na Itália, aos 34 anos, após colidir tragicamente com a mureta de proteção da curva Tamburello, no Grande Prêmio de San Marino. Tricampeão da F1 (1988, 1990 e 1991), Ayrton foi um dos maiores nomes do esporte no Brasil – em 1999, ele foi eleito “Esportista do Século XX” do país, acima do Rei Pelé, pela revista Isto É.
Família
Filho de Neyde Joanna Senna da Silva e de Milton Guirado Theodoro da Silva, Ayrton tinha dois irmãos: Leonardo Senna, o caçula, e Viviane Senna, a primogênita. Ela, inclusive, é fundadora e presidente do Instituto Ayrton Senna, organização sem fins lucrativos criada após a morte do piloto, que visa criar oportunidades para crianças e jovens de baixa renda se desenvolverem por meio da educação. O piloto não teve filhos e se casou uma vez, em 1981, aos 20 anos, com Lilian de Vasconcellos Souza, namorada dele na adolescência. Os dois, no entanto, ficaram pouco tempo juntos: separaram-se em 1983.
Início no automobilismo
O automobilismo esteve na vida de Ayrton Senna desde cedo. Aos quatro anos, ele ganhou o primeiro kart, construído com um motor de cortador de grama pelo pai, fã do esporte e dono de uma empresa que fabricava peças para automóveis. Milton, falecido em 2021, aos 94 anos, foi o maior incentivador da carreira do piloto.
Depois de ganhar o primeiro presente motorizado, Senna não o largou mais. Ele brincava com o kart no quintal dos fundos da casa em que morava, no Bairro Santana, Zona Norte de São Paulo, e em parques públicos da cidade. Aos sete anos, Senna dirigiu pela primeira vez sozinho o jipe do pai, na fazenda da família. Aos 10, ganhou um kart mais potente e, aos 13, começou a competir profissionalmente.
A primeira corrida oficial de kart disputada – e vencida – por Ayrton Senna foi em 1º de julho de 1973, no Kartódromo de Interlargos, em São Paulo, que hoje leva o nome do piloto. Nos anos seguintes, vieram os primeiros títulos. Senna venceu campeonatos estaduais, brasileiros, sul-americanos e foi duas vezes vice-campeão mundial na categoria (1979 e 1980).
Em 1981, aos 21 anos, Ayrton foi à Inglaterra para disputar a Fórmula Ford 1600, categoria que era considerada o primeiro passo para jovens que almejavam chegar à Fórmula 1. Em 1º de março, ele deu o pontapé inicial: disputou a primeira corrida pelo Campeonato Inglês da modalidade, terminando em quinto colocado.
O primeiro pódio viria na semana seguinte, e a primeira vitória 15 dias depois. O ano de estreia de Senna foi avassalador: 12 vitórias em 20 corridas e conquista dos títulos de dois torneios: o campeonato nacional, denominado RAC British, e o Towsend Thoresen, outra importante competição da categoria
Após o fim da temporada, em outubro de 1981, o jovem Senna tomou a surpreendente decisão de voltar ao Brasil e desistir momentaneamente de pilotar, por dois motivos principais: estava desiludido com a falta de patrocínios, que dificultava a permanência e sustento na Europa, e precisava cumprir a promessa que havia feito aos pais, que, à época, queriam que o filho parasse de correr e ajudasse nos negócios da família. Ele, então, passou a trabalhar na empresa do pai e começou a estudar Administração na Universidade de São Paulo (USP).
Ayrton, contudo, não resistiu muito tempo longe do automobilismo, a grande paixão dele. Infeliz fora das pistas, em fevereiro de 1982 ele decidiu, junto à família, voltar a correr. Assim, retornou à Europa para disputar a Fórmula Ford 2000, categoria superior à que ele havia partipado no ano anterior. Novamente, teve sucesso imediato: no mesmo ano, foi campeão europeu e britânico, com 22 vitórias em 27 corridas.
Em 1983, Senna subiu para a Fórmula 3 inglesa, na época o último degrau antes da elite do automobilismo mundial. O brasileiro, mais uma vez, foi arrebatador: venceu o título da categoria logo na temporada de estreia, com 13 vitórias em 21 corridas. Ao final daquele ano, o piloto já estava com passaporte carimbado para a Fórmula 1: apesar do interesse das gigantes McLaren e Willians, ele decidiu assinar contrato com a modesta Toleman, única equipe que lhe ofereceu vaga de titular.
Trajetória na Fórmula 1
Ayrton Senna estreou na Fórmula 1 no dia 25 de março de 1984, no Grande Prêmio do Rio de Janeiro. A primeira prova, contudo, durou só oito voltas – o piloto teve que abandoná-la por causa de problema no carro. O primeiro ponto conquistado por ele na categoria foi logo no segundo GP que disputou, na África do Sul, após terminar a corrida em sexto lugar.
O primeiro pódio de Senna na F1 veio ainda em 84, no GP de Mônaco. Ficou em segundo lugar, abaixo apenas do francês Alain Prost, da McLaren – que viria a ser companheiro de equipe e maior rival de Ayrton na modalidade, anos depois. Era o início da trajetória especial do brasileiro no circuito do Principado, o mais famoso e disputado da Fórmula 1: lá, ele conquistou seis vitórias, oito pódios e cinco pole positions, e ganhou o apelido de “Rei de Mônaco”.
Primeira vitória
A primeira vitória do lendário piloto na Fórmula 1 foi no ano seguinte, após trocar de equipe – saiu da Toleman e foi para a Lotus. Em 21 de abril de 1985, Senna venceu o GP de Portugal, segunda corrida da temporada, com direito a hat-trick – termo usado quando o piloto larga na pole position (foi a primeira dele na F1), tem a melhor volta da prova e conquista a vitória. Ayrton terminaria a temporada em quarto lugar, com 38 pontos e seis pódios (duas vitórias, dois segundos e dois terceiros lugares). A revista italiana Autosprint o elegeu como “o piloto do ano”.
Primeiro título
Após mais duas boas temporadas pela Lotus, Senna assinou com a McLaren em 1988, dando início a uma parceria tricampeã mundial. No ano de estreia pela equipe britânica, o brasileiro venceu o primeiro título de Fórmula 1 da carreira. Foram 13 pole positions, 11 pódios, oito vitórias – ou seja, venceu metade das 16 corridas que disputou – e 90 pontos conquistados. A temporada também marcou o início da histórica rivalidade com o parceiro de equipe Alain Prost, que terminou o campeonato em segundo lugar. Os papéis se inverteram no ano seguinte, quando o francês foi campeão e o brasileiro terminou em segundo.
Segundo título
Em 1990, Ayrton voltou a desbancar Prost – o rival havia saído da McLaren para a Ferrari – e se sagrou bicampeão mundial. Ao longo da temporada conquistou 10 pole positions, 11 pódios, seis vitórias e somou 78 pontos.
Terceiro título
No ano seguinte, Senna conquistou o terceiro e último título de Fórmula 1, na melhor temporada da carreira: foram oito pole positions, 12 pódios, sete vitórias e 96 pontos somados, 24 a mais que o segundo colocado, o inglês Nigel Mansell, da Williams.
Em 1991, Ayrton protagonizou uma das vitórias mais memoráveis da carreira correndo em casa, no Grande Prêmio do Brasil, disputado no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, cidade natal dele. A McLaren pilotada pelo paulistano teve pane no câmbio, obrigando Senna a dirigir apenas com a sexta marcha na parte final da corrida. O piloto teve que fazer esforço sobre-humano e, apesar do final dramático, conseguiu cruzar a linha de chegada três segundos antes do italiano Riccardo Patrese, levando a torcida brasileira à loucura. Foi a primeira vitória de Senna no próprio país na Fórmula 1.
Após terminar o mundial em quarto lugar em 1992 e em segundo em 1993, Ayrton trocou a McLaren pela Williams na temporada 1994. Finalmente, o piloto mais talentoso do torneio correria com o melhor carro da competição. Contudo, as altas expectativas foram interrompidas logo na quarta etapa da temporada.
Morte
O final de semana do GP de San Marino, em Ímola, na Itália, foi o mais triste da história do automobilismo. Na sexta-feira durante os testes, o brasileiro Rubens Barrichello sofreu grave acidente. No sábado, véspera da prova, o austríaco Roland Ratzenberger perdeu o controle do carro, bateu no muro e morreu quase que instantaneamente.
Os pilotos cogitaram não correr o GP. O chefe médico da F1, Sid Watkins, chegou a pedir a ajuda de Senna para cancelar a etapa. O brasileiro, sempre tranquilo antes das provas, desta vez estava inquieto. Atormentado com o acidente de Barrichello e a morte de Ratzenberger, ele não queria correr – no dia anterior, Ayrton pediu ao chefe da Williams que solicitasse o cancelamento da corrida, de acordo com o jornalista italiano Giorgio Teuzzi. No entanto, a Fórmula 1 decidiu manter a prova.
A corrida do dia 1º de maio de 1994, há exatos 30 anos, começou com acidente entre os carros dos pilotos JJ Lehto e Pedro Lamy – os destroços do choque atingiram a arquibancada e feriram nove pessoas. Após o reinício, a tragédia maior: na sétima volta do GP, Senna perdeu o controle do carro na traiçoeira curva Tamburello e chocou-se contra o muro em alta velocidade. Poucas horas depois, o piloto brasileiro foi declarado morto aos 34 anos, no Hospital Maggiore de Bolonha. Dentro do automóvel de Ayrton, foi encontrada bandeira da Áustria, que seria levantada por ele caso vencesse a corrida, para homenagear Ratzenberger, que morreu no dia anterior. Ele tinha a tradição de desfilar com a bandeira brasileira erguida sobre o carro depois que vencia uma prova.
A morte do maior ídolo do país na época parou o Brasil, que declarou imediatamente luto oficial de três dias. Ayrton Senna foi velado na Assembleia Legislativa de São Paulo, em 4 e 5 de maio. O caixão do lendário piloto foi visitado por 240 mil pessoas, e o cortejo que foi até o Cemitério do Morumbi, onde ele foi enterrado, reuniu multidão: mais de um milhão de fãs acompanharam o corpo do tricampeão da F1 ao longo do trajeto.
Em 1997, a Justiça Italiana indiciou seis pessoas pela morte do piloto, incluindo os chefes da Williams, Frank Williams e Patrick Head, e o projetista da equipe, Adrian Newey. Eles teriam culpa no acidente fatal por promoverem a quebra na coluna de direção do carro de Ayrton, para deixá-lo mais confortável ao volante. No entanto, nenhum dos denunciados foi preso.
Morte de Senna mudou história da Fórmula 1
A morte de Senna mudou a história da modalidade para sempre. Antes de iniciar a última corrida de sua vida, Ayrton previu: “A Fórmula 1 não voltará a ser a mesma depois deste fim de semana”. Após o desastre, a F1 passou a tomar medidas mais rígidas de segurança e prevenção de acidentes. A modalidade ficou 20 anos sem mortes, até o falecimento do francês Jules Bianchi, aos 25 anos, em 2014, após o piloto ficar nove meses em coma pelas sequelas do acidente que sofreu no GP do Japão no mesmo ano.
Legado de Ayrton Senna
Senna se foi, mas nunca deixou de ser um grande ídolo nacional e mundial. Em 1999, pesquisa feita pela revista Isto É elegeu o piloto como o esportista brasileiro do século 20 – acima de Pelé, considerado por muitos o maior jogador de futebol da história mundial, e de outros grandes nomes do esporte no Brasil, como o ex-jogador de basquete Oscar Schmidt e a tenista Maria Esther Bueno. Em 2012, a BBC, maior emissora de televisão e rádio da Inglaterra, elegeu Ayrton o maior piloto de todos os tempos, acima do alemão Michael Schumacher (ficou em quarto lugar), que na época era o maior campeão isolado da história da Fórmula 1, com sete títulos (hoje empatado com o inglês Lewis Hamilton).
Trinta anos após a morte do brasileiro, o legado de Senna segue vivo e ativo por meio do Instituto Ayrton Senna – organização não governamental fundada pela irmã, Viviane Senna, meses após o acidente fatal. O instituto, que visa criar oportunidades para crianças e adolescentes de todo o Brasil por meio da educação, é referência em pesquisas, programas e ações na área educacional. Além de piloto, Senna era empresário e filantropo, e ajudou diversos programas de assistência a pessoas carentes, especialmente os ligados a crianças e jovens.