FUTEBOL FEMININO

Brasileiro Feminino: por que mais da metade dos times caem no ano seguinte ao acesso?

De 25 times que subiram à Série A1, 13 caíram no ano seguinte; No Ataque conversou com clubes para entender por que isso ocorre

Em sete edições com rebaixamento no Campeonato Brasileiro Feminino, as equipes atravessaram diferentes momentos. Nos últimos anos, a modalidade tem crescido e os clubes têm investido mais na categoria. Contudo, uma estatística incômoda ainda desponta: mais da metade dos times que conquistaram o acesso caíram no ano seguinte. Por que isso ocorre?

Desde 2017, quando foi disputada a primeira edição do Brasileiro Feminino com Séries A1 e A2, 13 dos 25 times que subiram acabaram rebaixados no ano seguinte – o que representa 52% do total.

Em 2017, dois times eram promovidos, assim como dois eram rebaixados. Já em 2018, três equipes conquistaram o acesso e três caíram. A partir de 2019, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) estabeleceu a mesma regra do masculino – quatro sobem e quatro descem.

Mudança em 2025

Contudo, o regulamento da competição de 2025 também foi alterado. Neste ano, apenas dois times serão rebaixados. As quatro vagas de acesso à A1 se mantêm.

O campeonato começou no dia 23 de março. A final está programada para o dia 14 de setembro. Os representantes de Minas Gerais na elite são América e Cruzeiro, enquanto o Atlético está na A2.

Promovidos e rebaixados

Em duas oportunidades, todos os times que foram promovidos caíram no ano seguinte. Em 2017, o Pinheirense e a Portuguesa conquistaram o acesso, mas acabaram rebaixados em 2018. Em 2022, Athletico-PR, Bahia, Real Ariquemes e Ceará foram promovidos à Série A1 e caíram em 2023.

Em outros dois anos, todas as equipes que subiram à Série A1 se mantiveram – em 2018, Internacional, Minas Brasília e Vitória foram promovidos e ficaram na Primeira Divisão. Em 2019, Cruzeiro, Grêmio, Palmeiras e São Paulo foram os que subiram e seguiram na Série A1 no ano seguinte.

  • Promovidos em 2023: Bragantino, Fluminense, América e Botafogo. Em 2024, o Botafogo caiu
  • Promovidos em 2022: Athletico-PR, Bahia, Real Ariquemes e Ceará. Os quatro caíram em 2023
  • Promovidos em 2021: Bragantino, ESMAC, Cresspom e Atlético. Em 2022, apenas o Atlético se manteve e os outros caíram
  • Promovidos em 2020: Real Brasília, Bahia, Botafogo e Napoli. Em 2021, apenas o Real Brasília se manteve e os demais caíram
  • Promovidos em 2019: Cruzeiro, Grêmio, Palmeiras e São Paulo. Os quatro se mantiveram
  • Promovidos em 2018: Internacional, Minas Brasília e Vitória. Os três se mantiveram
  • Promovidos em 2017: Pinheirense e Portuguesa. Em 2018, os dois caíram

Em 2025, a missão de seguir na elite após o acesso em 2024 é de Juventude, Sport, 3B da Amazônia e Bahia. Desses, apenas o time baiano vai bem: está na oitava colocação.

Por outro lado, 3B da Amazônia (15º) e Sport (16º) estão na zona de rebaixamento. O Juventude aparece imediatamente à frente, em 14º.

Por que isso ocorre?

O No Ataque conversou com clubes que viveram uma das situações. Em 2023, o América subiu à Série A1. A equipe caiu na semifinal para o Bragantino, que viria a se tornar campeão daquele ano. Por ter ficado entre os quatro melhores, o Coelho já havia garantido o acesso.

Em 2024, o alviverde fez boa campanha e brigou até o fim para avançar às oitavas de final, mas acabou a primeira fase em 10° e não se classificou, mas seguiu na elite. Para Daniel de Paiva, gerente do futebol feminino do clube, o alinhamento de expectativa e o planejamento detalhado fizeram a diferença para a permanência.

“A campanha de 2024 foi uma campanha muito boa, sólida e bem competitiva. Acredito que os fatores cruciais para a boa campanha foi um planejamento bem claro, principalmente em relação a clareza em relação aos objetivos do clube para temporada. O alinhamento de expectativa foi fundamental, bem como o trabalho executado no dia a dia”, falou.

O dirigente não participou da campanha do acesso. Na época, Luiza Parreiras era o nome na coordenação da modalidade no clube. Daniel pontuou que a estatística dos times que acabam rebaixados no ano seguinte do acesso resvala principalmente nos aspectos internos de cada clube.

“Eu acredito que as condições estão mais relacionadas a questões internas de gestão e planejamento dos próprios clubes, do que uma condição advinda da CBF. E aí vejo que passa por questões de estrutura, investimento e processos. Subir exige uma reestruturação nesses aspectos. Isso é fundamental para uma boa campanha”, comentou.

América em jogo da Série A1 - (foto: Ta Santanna / BH Foto)
Time feminino do América(foto: Ta Santanna / BH Foto)

Reformulação de elenco

O Fluminense, que também conquistou o acesso em 2023, permaneceu na A1 em 2024 – terminou em 11° lugar. Gerente de futebol feminino do tricolor das laranjeiras, Amanda Storck contou que a reformulação do elenco foi importante para que o time alcançasse o principal objetivo – seguir na Série A1.

“Acho que o principal é saber jogar o campeonato. A A1 é uma competição completamente diferente da A2, em nível técnico, tático, e são mais jogos, então essa foi a principal dificuldade. Além de que, trocamos boa parte do elenco e trouxemos meninas acostumadas a jogar a A1, então acho que isso ajudou”, falou ao No Ataque.

Por fim, a dirigente comentou que a questão orçamentária não é um fator determinante para o acesso e deu exemplo do próprio Fluminense. Ela comanda o futebol feminino do clube há seis anos e foi, inclusive, a responsável pela criação do departamento.

“Acho que é muito uma questão de planejamento e um pouco de sorte também. Um orçamento maior não vai te garantir a permanência, você precisa de uma boa comissão, com os profissionais certos, saber montar um elenco que se encaixe com as características de jogo da equipe. Tanto que em 2022 e 2023 tínhamos o mesmo orçamento e em um ano não subimos e no outro conseguimos o acesso”, disse.

Amanda Storck, gerente de futebol feminino do Fluminense

E o time que cai no ano seguinte?

O No Ataque procurou o Bahia e o Botafogo, que enfrentaram cenário contrário ao do América e ao do Flu. Contudo, a reportagem não obteve resposta dos questionamentos feitos à assessoria de imprensa dos clubes.

Em 2022, o tricolor conquistou o acesso ao se classificar à semifinal. Na ocasião, foi eliminado pelo Athletico-PR nos pênaltis e não avançou à final. Contudo, em 2023, o baque: a equipe caiu em 13° lugar, com 13 pontos – três de distância para o Atlético, o primeiro fora da zona de rebaixamento daquele ano.

Já o Botafogo subiu em 2023. Em 2024, o alvinegro caiu em 13°, com 12 pontos.

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