
Por meses, e muito antes do habitual, a diretoria do Cruzeiro se dedicou ao planejamento para a temporada 2025. Naquele momento, a ideia era montar uma equipe competitiva. Camisa e projeto em mesa: sob a liderança de Bárbara Fonseca, diretora de futebol feminino, a Raposa convenceu jogadoras e, a partir de dois pilares, a inserção da modalidade na cultura do clube e o investimento, formou elenco invicto e favorito ao título da Série A1 do Campeonato Brasileiro Feminino, superando previsões.
Em entrevista exclusiva ao No Ataque, Bárbara Fonseca detalhou que a elaboração do elenco atual começou em maio. Na época, a dirigente ocupava o cargo de coordenadora, e Kin Saito, hoje na Federação Paulista de Futebol (FPF), atuava como diretora.
O Cruzeiro abriu a lista de tratativas pela zagueira Isa Haas, titular da Seleção Brasileira e destaque nacional na posição: “Me lembro de ter feito a primeira ligação para um empresário para falar sobre uma atleta. Essa atleta é a Isadora. Isa Haas. Foi muito cedo… Ter começado o planejamento mais cedo do que qualquer outro ano é responsável por esse momento bom em que a gente está. A Kin participou de parte deste elenco que foi formado, principalmente das renovações, ela estava à frente”.
O técnico Jonas Urias também recebeu destaque de Bárbara Fonseca: “Não posso deixar de considerar que chegar nesse momento é muito fruto do empenho, da energia e do trabalho do Jonas, de como enxergar qual atleta, quais as necessidades que a gente tinha, qual o perfil da atleta, não só dentro de campo, mas comportamental”.
A diretora ainda mencionou o trabalho dos analistas do clube, que entram em ação antes da avaliação de Jonas e das negociações por Bárbara: “Para enfrentá-las, a gente estuda muito o perfil de cada atleta. A gente faz esse movimento para o jogo, mas nossa equipe de análise, dupla, pega esse produto final para o desafio, para o jogo, e o transforma em possibilidade de mercado”.

Contratações do Cruzeiro
No início de janeiro, o Cruzeiro apresentou 13 contratações para a temporada. Assinaram com a Raposa a goleira Leilane, as zagueiras Isa Haas e Layza, as laterais-direita Isabela Chagas e Letícia Alves, as volantes Tauane Zóio e Lorena Bedoya, as meio-campistas Gabriela Rodríguez, Patrícia Sochor e Pri Back, as meia-atacantes Lady Andrade e Gisseli e a atacante Letícia Ferreira.
Cada negociação exigiu um tratamento específico, evidentemente, mas Bárbara Fonseca garantiu que houve um denominador comum em todas: o desejo das atletas de vestirem a camisa celeste. Assim, ‘convencê-las’ ficou mais fácil.
“Os detalhes variam, mas o que posso dizer é que todas as atletas que a gente buscou tinham o interesse de trabalhar no Cruzeiro. Isso faz uma diferença absurda, facilita meu trabalho”
Bárbara Fonseca, diretora de futebol feminino do Cruzeiro
A diretoria celeste buscou preencher alguns requisitos: jogadoras que ofereçam qualidade em campo, que agreguem em aspectos pessoais e se comuniquem bem com a torcida e que combinem com a identidade das Cabulosas. “Porque se você traz uma atleta que destoa, ela destoa o elenco todo. Se você não tiver um bom manejo na temporada, se perde muita coisa também”, argumentou Bárbara Fonseca.
Camisa do Cruzeiro em primeiro lugar
Segundo a diretora, o interesse das jogadoras parte pela oportunidade de usar a camisa do Cruzeiro. Depois, ela empilha outros fatores, como plano de carreira, trabalho, respeito e autonomia. ‘Indicações’ e impressões de ex-jogadoras também compõem a lista. Isa Chagas e Lelê, por exemplo, aceitaram o projeto e deixaram clubes do eixo – Corinthians e Palmeiras, nesta ordem.
“A primeira coisa é a camisa do Cruzeiro. Se eu entregar o plano antes de entregar a camisa, é só um plano solto. Mas eu acho que é tudo. É o trabalho, o respeito que a gente tem com essas atletas, como a gente constrói o dia a dia, como a gente entrega autonomia, como elas têm lugar de fala… Coisa boa também ganha amplitude. Todas as atletas que passaram por aqui e saíram falando que esse movimento é bom, que aquilo é legal, que trabalhar com fulano é assim, que o Cruzeiro entrega isso, faz com que a atleta respeite mais o que está sendo feito aqui… É a receita perfeita para montar o elenco que a gente montou”
Bárbara Fonseca, diretora de futebol feminino do Cruzeiro
Renovações no Cruzeiro
Permaneceram no Cruzeiro 15 jogadoras. São elas as goleiras Camila e Taty Amaro, as zagueiras, Vitória Calhau, Paloma Maciel, Gio Oliveira e Rebeca, a lateral-esquerda Clara, as laterais-direita Limpia Fretes, as meio-campistas Gaby Soares e Camila Ambrozio e as atacantes Vanessinha, Byanca Brasil, Miriã, Fabíola Sandoval e Marília.
“Não teve nenhuma atleta do elenco do ano passado, talvez uma que a gente teve uns desequilíbrios no decorrer do ano, que, talvez, em algum momento, não teve interesse de renovar… Quando você tem um elenco que a maioria quer ficar, isso já diz muito. Quando você vai para o mercado e todo mundo quer vir, fica fácil, você escolhe a dedo e consegue trazer as melhores atletas, e não quero dizer só a nível desportivo, também tem a questão comportamental, de como a atleta se comunica com o clube, com a torcida, como a atleta leva a vida pessoal”, continuou a dirigente.
Outro diferencial destacado por Bárbara Fonseca é a maneira com que o clube trata as jogadoras: “A gente fecha um elenco muito comprometido com o trabalho, que se respeita, que respeita a posição de cada uma, uma chamada mais forte, um momento de discussão, porque é muito fácil o trem desandar. Mas tudo que a gente fez, faz hoje a gente ter um elenco que é feliz. Isso é uma preocupação nossa, a atleta sair de casa vir trabalhar querendo estar aqui, se esforçando para estar aqui, para terminar o dia melhor do que começou”.

Investimento do Cruzeiro
Bárbara Fonseca abriu aspas para Pedro Lourenço, sócio majoritário da Sociedade Anônima de Futebol (SAF), quem investiu R$ 15 milhões na atual temporada: “A gente tem que falar do Pedrinho porque colocar dinheiro é uma das coisas mais difíceis que a gente vê fazendo no futebol feminino nacional. Muito pelo contrário, os clubes parece que estão indo na contramão, querendo tirar investimento, e o Pedrinho chega e fala ‘Vamos investir’. É ele na cabeça e um monte de gente que trabalhou para isso”.
Cruzeiro no Brasileiro
A diretora explicou que o Cruzeiro nunca traçou objetivos desportivos. O ideal, segundo ela, não é discutir como chegar em primeiro lugar, mas como melhorar o trabalho para alcançar o topo de forma natural.
“A gente estabelece a meta de ser um clube muito competitivo. Se vai chegar o momento de ser líder, de não perder mais para os clubes que a gente costumava perder… a gente está vivenciando coisas e fazendo histórias. Mas isso não é pauta de discussão, o que é pauta de discussão é como a gente vai fazer tudo bem feito para se tornar uma equipe competitiva. E alcançar o primeiro lugar, ser a equipe que ainda não perdeu, é o resultado disso aqui que a gente pensa, planeja. Todos os dias a gente trabalha fortemente para não abrir mão de alguns princípios, de alguns pilares. O trabalho só pode nos levar a esse lugar. Mas nunca trazer o lugar antes do trabalho”
Bárbara Fonseca, diretora de futebol feminino do Cruzeiro
De forma invicta, o Cruzeiro ocupa a liderança do Campeonato Brasileiro, com 36 pontos, 11 vitórias e três empates. As Cabulosas garantiram a classificação em primeiro com quatro rodadas de antecedência. Sabem, portanto, que enfrentarão o oitavo colocado nas quartas de final – Bragantino (em oitavo, com 17 pontos), América (em nono, com 16), Grêmio (em 10º, com 16), Fluminense (em 11º, com 15) e Internacional (em 12º, com 14) são os possíveis adversários.
A liderança dá outra vantagem à Raposa: mandar as partidas de volta do mata-mata – nas outras etapas, atua em casa no segundo encontro a equipe que tiver a melhor campanha em todas as fases. Conforme apurado pelo No Ataque, o Cruzeiro deseja mandar tais confrontos no Mineirão, em Belo Horizonte. Caso haja conflito de datas, tem como segundo plano o Independência, também na capital mineira.
A Raposa fecha a participação na fase classificatória nesta quarta-feira (18/6), contra o Corinthians, a partir das 15h, no Estádio Alfredo Schürig, em São Paulo, pela 15ª rodada da Série A1.
