ENTREVISTA

O ‘piso’ salarial na Série A do Brasileiro: ‘Dificilmente alguém ganha menos’

'Atletas estão valorizados', diz Marcelo Claudino, especialista em finanças, sobre as remunerações nas Séries A, B, C e D do Brasileiro

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O mercado do futebol brasileiro vive um momento de alta inflação salarial. A chegada das Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs) injetou mais dinheiro e aumentou a competição interna. Com mais clubes capitalizados disputando os mesmos jogadores, a negociação de talentos tornou-se mais difícil e cara, elevando os salários a patamares inéditos. Mas, afinal, quanto ganha um jogador nas diferentes divisões do país?

Em entrevista ao No Ataque, Marcelo Claudino, educador financeiro e CEO da Top Family Office, empresa especializada em gestão patrimonial de atletas, abriu o jogo sobre os vencimentos dos jogadores das Séries A, B, C e D do Campeonato Brasileiro.

“Em nosso futebol, com o advento das SAFs e a dificuldade de se contratar atletas, de se fazer negociações até dentro do próprio país, os atletas estão neste momento valorizados, eles estão conseguindo fazer bons contratos”

Marcelo Claudino, educador financeiro

Quanto ganha um jogador? A média da Série D até a Série A

Com a confiança de mais de 100 clientes – incluindo estrelas como Pedro (Flamengo), Raphael Veiga (Palmeiras), Everton Ribeiro (Bahia), Matheus Henrique (Cruzeiro), além de nomes na Europa como Lucas Paquetá (West Ham) e Arthur (Bayer Leverkusen) – Marcelo Claudino detalhou o verdadeiro abismo financeiro que separa as divisões do futebol brasileiro.

De acordo com o educador financeiro, a diferença entre as prateleiras é colossal. A jornada começa na Série D, onde um atleta tem chances de receber um salário entre R$ 10 mil e R$ 20 mil. O primeiro grande salto já ocorre na Série C: o rendimento pode triplicar, ficando na faixa de R$ 30 mil a R$ 50 mil.

A Série B representa outro degrau significativo. “Partindo aí, talvez, de R$ 50 mil até R$ 150 mil, ou até um pouco mais. Porque existem clubes grandes na Série B também”, observou Claudino.

O verdadeiro “salto quântico”, no entanto, acontece na transição para a elite do futebol nacional. O “piso salarial” da Série A é, no mínimo, 700% maior que o piso da Série B. Um jogador que ganhava R$ 50 mil pode multiplicar seu rendimento por oito ao assinar com um time da primeira divisão.

Entre os maiores salários do futebol brasileiro figuram nomes como Neymar (Santos), Memphis Depay (Corinthians), Gabigol (Cruzeiro), Oscar (São Paulo), Hulk (Atlético) e Vitor Roque (Palmeiras).

Gabigol, atacante do Cruzeiro - (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A. Press)
Gabigol, atacante do Cruzeiro (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A. Press)

“Um jogador hoje de Série A, dificilmente ganha menos que R$ 400 mil por mês, R$ 500 mil. O teto tem jogador que recebe, por exemplo, R$ 3 milhões”.

Marcelo Claudino, CEO da Top Family Office

Claudino usou o clube de maior faturamento do país para ilustrar que, mesmo dentro da Série A, existe outra divisão interna.

“Quando a gente vê um time igual o Flamengo… Aí é divulgado o balanço. Ali, você consegue ver algumas coisas. O Flamengo gasta lá, tem uma folha salarial de R$ 30 milhões, por exemplo. Então, vai ter o cara que ganha mais de R$ 1 milhão, R$ 2 milhões e o cara que ganha menos, R$ 500 mil, R$ 400 mil ali”.

Os ‘supersalários’ e a dúvida da sustentabilidade

Os valores das folhas de pagamento dos principais clubes impressionam. Na entrevista, Claudino ainda ressaltou a estimativa da folha do Flamengo e citou os rivais mineiros para ilustrar o cenário atual dos gastos na Série A.

“Isso é público, o Flamengo hoje tem uma folha em torno de R$ 40 milhões, né? O Cruzeiro já ultrapassou R$ 20 milhões. O Atlético deu uma enxugadinha, mas não deve estar muito distante disso, deve estar uns R$ 17, 18 milhões aí, provavelmente”, destacou.

Para o especialista em finanças, essa escalada de custos gera um alerta para o futebol brasileiro.

“Então, hoje existe esse superfaturamento, vamos dizer assim, os supersalários. A gente não sabe até quando isso será sustentável”

A busca por títulos, muitas vezes pressionada pela torcida e por longos jejuns, leva os clubes a estratégias financeiras de alto risco, conhecidas como “all-in” – apostar tudo. Com o objetivo de exemplificar esse cenário, Claudino relembrou a campanha do Atlético que resultou na conquista do “Triplete Alvinegro” em 2021 (Campeonato Mineiro, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro).

Atlético campeão em 2021 - (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Atlético fez investimento milionário que resultou na conquista do Campeonato Brasileiro em 2021(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)

“O Atlético, em 2021, fez um all-in. Contratou bastante, gastou mais de R$ 200 milhões na época e conseguiu o objetivo que era ser campeão brasileiro, que não conseguia há muito tempo. Hoje a gente vê essa própria situação com o Internacional de Porto Alegre. É um time que já tá chegando há quase 50 anos sem ganhar um título nacional, muito pressionado, até pelo rival ter um sucesso um pouco maior, e precisa gastar, precisa ganhar, mas não tem como investir no clube”.

Outro exemplo bem sucedido dessa aposta financeira com retorno esportivo é o Botafogo de 2024. “A questão do Botafogo ano passado, que gastou R$ 250 milhões na janela do meio do ano, trazendo jogadores por seis meses. E deu certo, ganhou o Brasileiro, ganhou a Libertadores, então você também ganha mais premiações”.

Conforme o educador financeiro, essa corrida financeira criou um abismo no futebol brasileiro. O dilema entre gastar para ganhar ou organizar as contas define quem brigará por títulos. “Hoje esse é um grande dilema que os clubes, tirando Flamengo e Palmeiras, têm”, afirmou.

“Eu acho que os torcedores de Atlético, Cruzeiro, Grêmio, Inter e Bahia, têm que entender que esses times vão disputar a maioria dos títulos, mas não vão ganhar todos. Porque a maioria das conquistas vão ficar entre Palmeiras e Flamengo. Porque são clubes sustentáveis e que têm superávit”, concluiu Claudino.

Assista à entrevista completa com Marcelo Claudino

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