Algumas disputas parecem bem desenhadas na reta final do Campeonato Brasileiro. Primeiro e segundo colocados, com 61 pontos, Palmeiras e Flamengo são os principais candidatos ao título, enquanto o Cruzeiro, terceiro, com 56, precisa de uma combinação improvável para ser campeão. Na parte de baixo da tabela, o laterna Sport, com 17 pontos, é apontado como virtual rebaixado, ao passo que Juventude (18º, com 26) e Fortaleza (19º, com 24) também se encontram em situação complicada.
Contudo, “probabilidade é tendência, e não certeza”, diz Gilcione Nonato Costa, professor de matemática da Universidade Federal de Minas Gerais, responsável por calcular as chances de título, vagas na Copa Libertadores/Sul-Americana e de rebaixamento na Série A. Com essa afirmação em entrevista ao No Ataque, o especialista em números deixou claro que ainda há tempo hábil para que as equipes emplaquem bons resultados em busca de um objetivo talvez não imaginado por seus aficionados.
À frente do site Probabilidades no Futebol desde 2004 -, quando se baseou no conhecimento em matemática para entender como o clube do coração, o Atlético, faria para escapar da queda à Série B -, Gilcione relembrou algumas reviravoltas no Brasileirão. Flamengo e Fluminense, em 2009; Botafogo e Santos, em 2023; e Corinthians, em 2024, foram exemplos de times que surpreenderam os torcedores – positiva ou negativamente – a poucas rodadas do fim da competição.
Flamengo (2009)
O Flamengo virou o turno do Campeonato Brasileiro de 2009 na sétima posição, com 29 pontos. Internacional e Palmeiras dividiam a liderança, com 37.
Ao perder os dois primeiros compromissos do returno, o Rubro-Negro caiu para o 10º lugar e viu o Verdão chegar a 40. Lutar pelo título era algo fora de cogitação, porém tudo começou a conspirar a favor.
Além de somar 38 pontos nos 17 jogos restantes (11 vitórias, 5 empates e 1 derrota), o Mengão contou com a queda brusca de rendimento de Palmeiras, Internacional e Atlético na segunda metade do Brasileirão.
“O Flamengo tinha pouca chance de ser campeão naquele ano, em torno de 5%. Estava a 11 pontos do líder, que era o Palmeiras, mas teve uma arrancada excepcional. Fez 67 pontos e foi o ‘pior’ campeão”, frisou Gilcione Nonato Costa.
Nas seis rodadas finais, o Fla venceu cinco – incluindo um 3 a 1 sobre o Atlético, no Mineirão – e empatou uma. O time levantou o troféu ao somar 67 pontos – dois a mais que Internacional e São Paulo, segundo e terceiro.
Palmeiras e Atlético foram tão mal no returno que ficaram fora da zona de classificação à Copa Libertadores de 2010. O Cruzeiro fechou em quarto, com 62 pontos.
Fluminense (2009)
Também no Brasileirão de 2009, o Fluminense contrariou as probabilidades ao escapar do rebaixamento em um roteiro de documentário. Até hoje, os torcedores tricolores se recordam dos 99% de risco de queda na 27ª rodada.
O Flu estava na última posição do Brasileirão, com 21 pontos. A campanha era de quatro vitórias, nove empates e 14 derrotas. O Santo André, 16º colocado, somava 28.
Nas 11 rodadas restantes, o clube carioca não perdeu mais. O destaque ficou para o rendimento nos sete últimos jogos – seis vitórias e um empate.
“No mesmo ano, tivemos o caso do Fluminense, que vinha em uma sequência ruim, estava muito atrás na competição. Só havia uma chance de escapar – somar 19 pontos em 21 possíveis”, destacou Gilcione.
“Lembro que o Fluminense começou (a arrancada) vencendo o Atlético numa quinta-feira, no Rio de Janeiro. Depois, no domingo, estava perdendo por 2 a 0 para o Cruzeiro, no Mineirão, mas virou para 3 a 2. Daí, pegou confiança. No último jogo, empatou com o Coritiba e se salvou. O time tinha 99% de probabilidade de queda e se salvou”.
Gilcione Nonato Costa, matemático da UFMG
O elenco apelidado de “Time de Guerreiros” pelos torcedores finalizou a Série A na 16º posição, com 46 pontos. No último duelo, teve a vantagem de jogar pelo empate com o Coritiba (1 a 1), que caiu para a Série B ao somar 45.
Botafogo (2023)
O Botafogo foi do céu ao inferno no Brasileirão de 2023. Na primeira metade, somou 47 pontos e gerou na torcida a expectativa de bater o recorde na era dos pontos corridos com 20 equipes (desde 2006). No returno, só ficou acima dos rebaixados Coritiba, Goiás e América.
“O Botafogo de 2023 foi terrível. No primeiro turno, terminou com 47 pontos, 13 a mais que o Grêmio, vice-líder. Se mantivesse aquele desempenho por mais 10 rodadas, seria campeão”, ressaltou Gilcione.
“O Botafogo chegou a ter 93% de chance de ser campeão. Contudo, começou a ter desempenho de time rebaixado. E não ficou nem entre os quatro primeiros”, acrescentou o professor da UFMG.
No fim das contas, o Palmeiras ergueu o troféu do Brasileirão ao atingir 70 pontos – número relativamente baixo se comparado a outros ganhadores.
O Botafogo terminou em quinto, com 64, e iniciou a Libertadores de 2024 – da qual viria a ser campeão – a partir da segunda fase preliminar.
Santos (2023)
O Santos “fez força” para descer de divisão no Campeonato Brasileiro de 2023. Segundo Gilcione Nonato, a probabilidade era pequena na 33ª rodada, uma vez que o Peixe somava 41 pontos, na 13ª posição – o Bahia, 17º, tinha 37 pontos.
Havia, inclusive, chances consideráveis de classificação à Copa Sul-Americana, cujas vagas contemplavam até o 14º na Série A. Porém, o Alvinegro Praiano contabilizou apenas dois pontos em 15 possíveis e amargou o descenso à Série B.
“Faltando cinco rodadas, o Santos tinha apenas 4% de risco de rebaixamento. Acabou caindo. O que aconteceu? Fiz uma análise dos quatro últimos jogos, o time não ganhou nenhum. Além disso, houve um jogo em que o Bahia venceu o Corinthians por 5 a 1, em São Paulo”.
Gilcione Nonato Costa
O Santos concluiu o Brasileiro de 2023 na 17ª posição, com 43 pontos. O Bahia permaneceu na elite nacional ao somar 44 pontos.
Corinthians (2024)
Quando foi eliminado pelo Racing na semifinal da Copa Sul-Americana de 2024, o Corinthians tinha 0,003% de chance de ir à Copa Libertadores de 2025 via Campeonato Brasileiro.
O Timão estava na 15ª posição da Série A, com 35 pontos. O São Paulo, sexto colocado, tinha 51. Faltavam sete rodadas para o encerramento do campeonato e era preciso tirar uma diferença de 16 pontos.
O Corinthians, que já vinha de duas vitórias no Brasileirão, ganhou os sete confrontos restantes e chegou a 56 pontos, em sétimo lugar. O São Paulo permaneceu em sexto, com 59.
Por que, então, o Alvinegro Paulista se qualificou para a Copa Libertadores? Pelo fato de o G6 ter se transformado em G8.
“Se o Corinthians tivesse terminado no G6, iria para a fase de grupos. Mas ele foi para a pré-Libertadores. Naquele momento, a chance de ir para a fase de grupos era muito pequena. E de fato ela não ocorreu”, explicou Gilcione Nonato Costa.
Os títulos do Botafogo na Copa Libertadores e do Flamengo na Copa do Brasil ajudaram o Corinthians. Se o Atlético, time derrotado em ambas as finais, tivesse conquistado os dois torneios, o Timão não iria para o principal torneio continental.
O cenário do Brasileirão de 2025
No momento, os seis primeiros colocados do Campeonato Brasileiro têm vagas garantidas na Copa Libertadores de 2026.
No entanto, o G6 pode virar G8, caso Palmeiras ou Flamengo conquiste o torneio continental em 2025, bem como Cruzeiro ou Fluminense seja campeão da Copa do Brasil.
Classificação
- Palmeiras – 61 pontos em 28 jogos (19 vitórias, 4 empates, 5 derrotas)
- Flamengo – 61 pontos em 28 jogos (18 vitórias, 7 empates, 3 derrotas)
- Cruzeiro – 56 pontos em 29 jogos (16 vitórias, 8 empates, 5 derrotas)
- Mirassol – 52 pontos em 29 jogos (14 vitórias, 10 empates, 5 derrotas)
- Bahia – 49 pontos em 29 jogos (14 vitórias, 7 empates, 8 derrotas)
- Botafogo – 46 pontos em 29 jogos (13 vitórias, 7 empates, 9 derrotas)
- Fluminense – 41 pontos em 28 jogos (12 vitórias, 5 empates, 11 derrotas)
- Vasco da Gama – 39 pontos em 29 jogos (11 vitórias, 6 empates, 12 derrotas)
- São Paulo – 38 pontos em 29 jogos (10 vitórias, 8 empates, 11 derrotas)
- Red Bull Bragantino – 36 pontos em 29 jogos (10 vitórias, 6 empates, 13 derrotas)
- Corinthians – 36 pontos em 29 jogos (9 vitórias, 9 empates, 11 derrotas)
- Grêmio – 36 pontos em 29 jogos (9 vitórias, 9 empates, 11 derrotas)
- Ceará – 35 pontos em 28 jogos (9 vitórias, 8 empates, 11 derrotas)
- Internacional – 35 pontos em 29 jogos (9 vitórias, 8 empates, 12 derrotas)
- Atlético – 33 pontos em 28 jogos (8 vitórias, 9 empates, 11 derrotas)
- Santos – 31 pontos em 28 jogos (8 vitórias, 7 empates, 13 derrotas)
- Vitória – 31 pontos em 29 jogos (7 vitórias, 10 empates, 12 derrotas)
- Juventude – 26 pontos em 29 jogos (7 vitórias, 5 empates, 17 derrotas)
- Fortaleza – 24 pontos em 28 jogos (6 vitórias, 6 empates, 16 derrotas)
- Sport – 17 pontos em 28 jogos (2 vitórias, 11 empates, 15 derrotas)
Probabilidade de título
- Palmeiras – 48,7%
- Flamengo – 48,4%
- Cruzeiro – 2,6%
- Mirassol – 0,23%
- Bahia – 0,038%
- Botafogo – 0,002%
Vaga na Copa Libertadores
- Palmeiras – 100%
- Flamengo – 100%
- Cruzeiro – 99,9%
- Mirassol – 96,8%
- Bahia – 91,7%
- Botafogo – 64,6%
- Fluminense – 24,2%
- Vasco – 10,9%
- São Paulo – 4,6%
- Grêmio – 1,6%
- Bragantino – 1,6%
- Corinthians – 1,4%
- Ceará – 1,1%
Sul-Americana
- Vasco da Gama – 78,3%
- Fluminense – 71,8%
- São Paulo – 70,8%
- Bragantino – 57,3%
- Grêmio – 56,8%
- Corinthians – 54,7%
- Ceará – 49,6%
- Internacional – 49,2%
- Atlético – 36,2%
- Botafogo – 35,3%
- Santos – 15,8%
- Vitória – 11%
- Bahia – 8,3%
- Mirassol – 3,2%
Rebaixamento
- Sport – 99,8%
- Fortaleza – 90,4%
- Juventude – 89,4%
- Vitória – 43,6%
- Santos – 34,5%
- Atlético – 12,8%
- Internacional – 7,5%
- Ceará – 6,3%
- Corinthians – 5,1%
- Bragantino – 4,7%
- Grêmio – 4%
- São Paulo – 1,7%