Depois de três anos na Série A do Campeonato Brasileiro, o América foi rebaixado à Segunda Divisão pela sétima vez na história. No início da temporada, uma possível queda parecia uma realidade muito distante para torcedores, jogadores e diretoria. O time iniciou a competição com altas expectativas, mas viveu derrocada e, sem reação, não conseguiu impedir a tragédia. Mais uma vez na Série B.
Em ano de maior investimento do clube, o torcedor americano começou a viver um verdadeiro pesadelo depois do Campeonato Mineiro. A equipe foi à final do Estadual e ficou com o vice – o Atlético se sagrou campeão.
Com o início do Brasileiro, em paralelo o Coelho também disputava a Copa do Brasil e a Copa Sul-Americana. Surgiu, então, um dos ‘sintomas’ que culminaram na queda.
Mau planejamento e reforços não utilizados
Mesmo ciente de que o time disputaria três campeonatos simultaneamente em 2023, a diretoria do América não reforçou o elenco como deveria para encarar o ano de calendário cheio.
Para o início da temporada, foram oito contratados. Três deles já deixaram o clube: Nino Paraíba, Mateus Gonçalves e Dadá Belmonte. Os laterais Nicolas e Marcinho, o atacante Mikael, o goleiro Pasinato e o zagueiro Wanderson foram os outros reforços. Nenhum deles se tornou titular.
No meio do ano, uma nova oportunidade de se reforçar no mercado. Àquela altura, o América já buscava reação no campeonato e ainda tinha Vagner Mancini no comando. Contudo, as contratações não corresponderam.
O Coelho fechou com o lateral-direito Daniel Borges, os atacantes Pedrinho, Paulinho Bóia e Renato Kayzer, o volante Javier Méndez, o zagueiro Esteban Burgos e o meia Cazares. Pouco utilizadas, as peças não ganharam espaço e não engrenaram com a camisa alviverde.
Cazares e Pedrinho são os que mais têm atuado. Estiveram em 12 jogos. Contudo, passaram em branco. Assim, sem demonstrar superioridade em relação aos concorrentes à posição, acabaram na reserva.
O centroavante Renato Kayzer atuou três vezes. Ele não chegou a completar um tempo em campo – são 36 minutos com a camisa americana. Vale lembrar que o jogador chegou ao clube em recuperação final de lesão no tendão de Aquiles.
Não conseguiu segurar resultados
O América é o time que mais sofreu viradas no campeonato. Ao todo, saiu na frente, mas viu o adversário reverter o placar nove vezes. Não conseguia manter a vantagem pecando, principalmente, no setor defensivo.
Além disso, viu muitos pontos escaparem no último minuto, com empates frustrantes. Contra o Flamengo, por exemplo, ainda no primeiro turno, o Coelho fez boa atuação no Maracanã, mas deixou o rubro-negro igualar já nos acréscimos. A perda desses pontos fez com que a força e a confiança da equipe fossem abaladas pouco a pouco.
Sistema defensivo instável
O Coelho tem a defesa mais vazada do campeonato: são 69 gols sofridos. No ano, foram 109. O setor defensivo foi um grande problema na temporada. Com a chegada de Bustos, a formação mudou. O técnico implementou o esquema com três zagueiros na tentativa de diminuir o estrago, sem sucesso.
A zaga falhou individualmente e coletivamente em momentos cruciais – como nas viradas determinantes e nos empates que a equipe levou nos acréscimos -, com marcação lenta e distante. Com pouco poder de recuperação, o time ficava muito exposto e perdia na corrida contra atacantes velozes.
No gol, outro problema do alviverde. Nenhum arqueiro se firmou na condição de titular. Durante o Brasileiro, os quatro jogadores da posição, Cavichioli, Pasinato, Aguerre e Jori, foram utilizados. A razão para as trocas, de acordo com Bustos, foi o desempenho de cada um nos treinos. No fim, nenhum deles se consolidou, e a vaga está em aberto tanto para a reta final da competição quanto para 2024.
Demora na troca de comando
Muito questionado pela torcida americana, o técnico Vagner Mancini recebeu respaldo da diretoria para continuar o trabalho, mesmo diante de maus resultados no Brasileiro. No entanto, não ‘sobreviveu’ à derrota para o Bahia por 3 a 1, pela 18ª rodada. Naquela altura, o Coelho estava fora da Copa do Brasil e classificado às oitavas da Sul-Americana.
Deu lugar a Fábian Bustos, ex-Santos. O argentino começou o trabalho logo na virada de turno com a dura missão de evitar a queda. Os jogadores levaram tempo para assimilar o novo estilo de jogo do novo comandante.
Tudo isso com a corda já no pescoço. Sem reagir no campeonato, o América precisava de um ‘milagre’. Muito pressionado, Bustos não emplacou. São duas vitórias, cinco empates e oito derrotas.
Lesões de jogadores importantes
Neste ano, o América sofreu com baixas importantes por lesão. Bustos teve que lidar com muitos desfalques e, por isso, teve dificuldade para repetir escalações. A cada rodada, novos problemas. O treinador foi obrigado a improvisar e utilizar jogadores da base para suprir as ausências.
O meia Benítez, peça fundamental do meio-ampo e que fez a diferença quando foi titular, esteve muito tempo no departamento médico. De 33 jogos do Coelho, o argentino disputou 18, marcou três gols e deu quatro assistências. A frequência de lesões do armador, inclusive, foi o que motivou a diretoria a buscar Cazares.
Aloísio, jogador experiente do ataque, cogitou deixar o clube em razão das frequentes lesões. No fim, ficou acordado que o jogador de 35 anos permanecerá até o término do ano, quando o contrato acaba.
Demora para Mastriani assumir titularidade
Artilheiro do América, com 20 gols, Mastriani vai na contramão do time. Em temporada goleadora, fez o melhor ano de sua carreira, colecionando bons números. Contudo, demorou a ganhar confiança de Mancini para ‘engrenar’. Dos 33 jogos, disputou 21. O uruguaio assumiu a titularidade apenas em julho, quando o alviverde já buscava reação imediata na virada do turno.
Apenas com a chegada de Bustos que Mastriani se firmou e se tornou referência no ataque do América. Adorado pela torcida, foi um dos poucos aplaudidos no jogo do rebaixamento. Parte dos torcedores gritaram o nome do atacante, mesmo quando o time já perdia por 3 a 0 para o Coritiba.