CASO CUCA

Condenação de Cuca é anulada: relembre caso de estupro

Sentença que condenava Cuca por estupro foi anulada pela Justiça suíça; relembre o caso ocorrido no país europeu em 1987
Foto do autor
Foto do autor
Compartilhe

A Justiça da Suíça anulou, nesta quarta-feira (3/1), a sentença que condenava Cuca por estupro. O treinador havia sido acusado de ato sexual contra menor e coerção de uma menina de 13 anos em 1987, quando atuava como jogador do Grêmio.

A juíza Bettina Bochsler, do Tribunal de Berna-Mittelland, acatou a argumentação da defesa de Cuca de que o técnico foi condenado à revelia, sem representação legal, e que poderia ter um novo julgamento. Só que o Ministério Público suíço alegou que isso não seria possível dado que o crime estava prescrito, então sugeriu a anulação da pena e a extinção do processo.

Relembre caso de estupro na Suíça

O Grêmio foi jogar um torneio chamado Copa Phillips em Berna (Suíça) no fim de julho de 1987. Treinado por Luiz Felipe Scolari, o time venceu o Benfica por 2 a 1 no dia 29. No dia seguinte, à noite, a polícia foi ao Hotel Metropole de Berna, onde o time estava, e leva presos os jogadores Alex Stival (Cuca), Henrique Etges, Fernando Castoldi e Eduardo Hamester.

A acusação

Segundo o juiz Jürg Blaser, eles teriam cometido ato sexual sob coerção com Sandra Pfäffli, de 13 anos, filha de um funcionário do hotel. A garota disse à polícia que foi ao quarto dos jogadores com dois amigos para pedir autógrafos, camisas e flâmulas, mas acabou abusada quando eles deixaram o local.

O Grêmio afirmou inicialmente que ela apenas esteve lá para pedir os brindes, mas Henrique e Eduardo confessaram ter feito sexo com Sandra de forma consensual. Fernando e Cuca negaram participação desde o começo.

Ao jornal suíço Blick, Sandra disse que três jogadores a imobilizaram e um a estuprou, que segundo ela poderia ser Cuca. Nos depoimentos, ela não o identificou ao ver fotos. Ao “Jornal dos Sports”, Cuca disse que ela não aparentava a idade e que subira para fazer sexo com um de seus colegas, que não nomeou.

A prisão

Os jogadores foram levados para prisões separadas e acabaram soltos após um mês, passada a instrução inicial do processo, e levados para o Brasil pelo advogado Luiz Carlos Pereira Silveira Martins, o Cacalo, vice jurídico do Grêmio à época. Eles pagaram fiança de US$ 1.500 cada (R$ 20 mil hoje, em valores corrigidos pela inflação americana).

A condenação

O processo seguiu seu curso e, em 1989, Cuca, Henrique e Eduardo foram condenados a 15 meses de prisão e uma multa de US$ 8.000 (R$ 106 mil hoje). Eles foram enquadrados por “fornicação com crianças” e “coerção”, mas isentados de acusação de violência, pelo que a promotoria queria uma pena de 10 anos. Já Fernando pegou 3 meses e multa de US$ 4.000 (R$ 53 mil hoje) como cúmplice, por ter ficado segundo o juiz monitorando a porta do quarto.

O que aconteceu com a vítima?

O advogado de Sandra no caso, Willi Egloff, afirmou ao UOL que a garota chegou a tentar se matar posteriormente e teve depressão. Na época do incidente, policiais disseram que ela não parecia abalada nos depoimentos, e que pediu autorização para ir à final da Copa Phillips entre o Grêmio e o Neuchatel Xamax, vencida pelos gaúchos no dia seguinte à prisão. Quando o processo foi reaberto, a Justiça descobriu que Sandra já havia morrido anos antes, localizou um herdeiro, mas ele não quis se envolver no caso.

O que aconteceu com os jogadores?

Os jogadores não voltaram à Suíça para se defender e nunca cumpriram as penas, que prescreveram em 1997 ou 2004, a depender da interpretação legal. No dia do julgamento, 15 de agosto de 1989, apenas Fernando tinha um advogado presente – Cacalo disse estar presente, mas isso não consta dos autos.

O que aconteceu com Cuca?

Os jogadores seguiram suas carreiras até se aposentarem. Cuca jogou na Espanha, pelo Palmeiras e pelo Internacional. Como técnico, foi ainda mais bem-sucedido, ganhando a Copa Libertadores de 2013 pelo Atlético.

A acusação era relembrada pontualmente, mas o caso voltou com toda a força quando a direção do Corinthians o anunciou para treinar o time em 21 de abril deste ano. Com protestos intensos de redes sociais e do time feminino do clube, ele deixou o cargo após dois jogos, em 26 de abril.

O que ele alega?

Cuca sempre disse ser inocente. Uma versão inicial era de que ele tinha uma “vaga lembrança” do ocorrido e de que havia sido julgado à revelia. Na sua versão, o quarto era duplo e em forma de L, e ele não viu o que os colegas fizeram com a menina. À época, contudo, ele disse ao jornal Zero Hora que todos “deviam pagar”, independentemente do que tivessem feito. Desde a saída do Corinthians, Cuca perdeu patrocinadores e seguiu sem emprego.

E a questão do sêmen?

O site Globoesporte.com revelou em maio que um trecho do processo em Berna citava que havia um laudo provando que havia sêmen de Cuca no corpo de Sandra. A versão foi corroborado por Egloff, que também disse que a garota havia reconhecido ele como estuprador, ao contrário do que o técnico alegava e do que os depoimentos indicavam.

O que Cuca fez?

Sua defesa pediu a reabertura do caso e pediu um novo julgamento, alegando que ele havia sido condenado à revelia e que poderia ser inocentado. Essa alegação foi acatada em 22 de novembro e o julgamento de 1989, anulado em 28 de dezembro após manifestação. Como o caso já prescreveu, não haverá reavaliação dos fatos em si. A juíza do caso, Bettina Bochsler, determinou indenização estatal a Cuca equivalente a R$ 55 mil.

Cuca então foi inocentado?

Não. Sua defesa, contudo, reuniu elementos novos para sustentar que ele não estuprou Sandra, mas a Justiça fixou-se apenas na irregularidade do julgamento.

Compartilhe