A história por trás de um jogador de futebol sempre chama a atenção por diversos motivos. E um destaque da Série A de 2024 enfrentou momentos complicados antes de iniciar a carreira. Lateral com mais assistências no Campeonato Brasileiro – seis passes para gol -, João Lucas foi dispensado pelo Atlético, ficou um ano “parado” aos 16, chegou a cursar a faculdade de Geografia e teve que lidar com a perda da mãe antes de se profissionalizar.
Em entrevista exclusiva ao No Ataque, João Lucas falou sobre a sua trajetória até o atual momento da carreira. Multicampeão pelo Flamengo entre 2019 e 2021, o lateral-direito de 26 anos esteve emprestado pelo Santos ao Juventude em 2024, fez boa temporada e projeta um salto na carreira na próxima temporada. Porém, antes disso, o mineiro de Belo Horizonte enfrentou barreiras para se tornar jogador de futebol.
Início da carreira de João Lucas
Apaixonado por futebol, João Lucas iniciou a trajetória jogando em campos de terra próximos aos bairros São Gabriel e Sagrada Família, em BH. Ele conseguiu ingressar em um bom clube apenas no sub-15. E foi no Atlético, após diversas tentativas frustradas. Porém, a passagem do lateral-direito não durou muito tempo na base alvinegra, já que foi dispensado antes mesmo de ir ao sub-17.
“Fiz muitos testes no Atlético. Muitos. Perdi até as contas. Só passei quando tinha de 13 para 14 anos. Só que acabou que eu não tive muita oportunidade. Eu não joguei nenhum jogo, ficava apenas treinando e não entendia porque não jogava. Até que na transição do sub-15 para o sub-17, eu fui dispensado e parei de jogar bola por um ano. Acho que todo mundo dá uma desiludida quando tem um baque grande assim”
João Lucas, lateral-direito de 26 anos
A dispensa do Atlético fez o jogador belo-horizontino ficar um ano sem buscar novas oportunidades nas bases dos clubes de futebol. Isso foi interrompido por uma tentativa de ingressar no Villa Nova. E deu certo, mesmo que como zagueiro – o lateral chegou a atuar como volante no time de Nova Lima antes de retornar à lateral.
“Surgiu a oportunidade no Villa. Um amigo me chamou para ir, mesmo com 17 anos e um ano sem jogar bola. Fui fazer teste lá, como zagueiro, que foi a posição que sobrou, e passei no teste. Joguei uma Taça BH e um Mineiro Sub-20 pelo Villa e acabou que, na Copa São Paulo de Futebol Júnior, o Goiás me contratou. Foi aí que eu tive um norte maior da minha carreira. Foi o meu primeiro contrato profissional”, disse João Lucas.
Vida em BH e curso de geografia
A oportunidade no Villa Nova não só proporcionou o primeiro contrato profissional a João Lucas, mas também possibilitou que ele estivesse próximo da família, já que ele voltava para Belo Horizonte diariamente. Ele, inclusive, fez questão de destacar a importância de ter o amparo dos mais próximos na trajetória rumo à carreira de jogador de futebol.
“Por eu ser de Belo Horizonte, todo dia eu voltava pra casa, que foi uma coisa que facilitou. Todo dia eu tinha meu pai ali. Lá no Villa, tinha meninos que eram da Bahia, Mato Grosso, que não tinham oportunidade de estar todo dia com a família. Então acaba que facilitou isso pra mim. Eu sou extremamente grato ao Villa, porque foi o clube que me abriu as portas, mesmo na dificuldade”, afirmou João Lucas.
E durante esse intervalo entre a dispensa na base do Atlético e ida ao Goiás, já com vínculo profissional, João Lucas optou por fazer uma faculdade. Ele ingressou no curso de geografia em Belo Horizonte, mas abandonou quando a carreira de jogador deslanchou. Mesmo com carinho com a escolha acadêmica feita, o lateral destacou que não estudaria mais a disciplina, mas sim algo relacionado a gestão esportiva, carreira que deseja seguir após a aposentadoria.
“Minha escolha por geografia foi pela época de escola. Tinha bastante interesse pelo assunto. Entre 17 e 18 anos, eu não tinha deslumbre de virar profissional e acabei focando na área acadêmica. Só que o futebol tomou conta da minha vida e não sei se voltaria a cursar geografia, porque a minha vida me levou a outros caminhos. Com certeza vou voltar a estudar, mas pretendo fazer algo relacionado a educação física ou gestão. São coisas que, hoje em dia, tenho um domínio maior”, relatou João Lucas.
Perda da mãe
Além de todas as questões relacionadas ao futebol, João Lucas teve que enfrentar algo muito mais forte antes mesmo de se profissionalizar. Encarar a morte é uma missão complicada para qualquer ser humano, principalmente quando trata-se da mãe. Em 2018, quando tinha deixado o Villa Nova e Minas Gerais para jogar na base do Goiás, o jogador passou por essa situação,
“Na minha vida teve coisas que foram marcantes. Como a perda da minha mãe. Foi no momento que minha carreira começou a decolar. Eu tinha acabado de chegar no Goiás e assinado meu primeiro contrato. Então isso foi um baque muito grande”
João Lucas, lateral de 26 anos
Mesmo com as dificuldades em razão da morte da mãe, o jovem se amparou justamente nos seus familiares. João Lucas, que atualmente mora com o pai, fez questão de evidenciar a importância que as pessoas tiveram nos meses seguintes, apesar da distância de 891 quilômetros entre Belo Horizonte e Goiânia.
“Mas eu sempre tive uma base familiar muito forte. Eles me deram todo apoio e suporte que eu precisava naquele momento, mesmo estando de longe muitas vezes. Eles foram muito importantes para mim. Acabou que consegui superar isso e seguir a vida de uma maneira tranquila e positiva. Agradeço muito as pessoas que estiveram ao meu lado. Foram muito importantes para mim e tenho certeza que sem eles as coisas poderiam ter sido bem diferentes. Porque foi algo bastante marcante para mim”, ressaltou o lateral.
Carreira de João Lucas
O lateral-direito João Lucas nasceu em 9 de março de 1998, em Belo Horizonte. Ele passou pelas categorias de base do Atlético. Porém, com poucas oportunidades em campo, foi dispensado pelo clube. Após um ano afastado do futebol, João Lucas passou em teste no Villa Nova e, posteriormente, foi para o Goiás.
Já como profissional, ele assinou com o Bangu em 2019 e chamou atenção do Flamengo após a disputa do Campeonato Carioca. Neste mesmo ano, ele foi contratado pela equipe rubro-negra e integrou o elenco campeão da Copa Libertadores da América e Série A do Campeonato Brasileiro.
Na sequência, em 2021, o belo-horizontino foi emprestado ao Cuiabá, equipe que ficou até o ano seguinte. Em 2023, foi comprado pelo Santos. Após o rebaixamento com o Peixe, João Lucas foi emprestado neste ano ao Juventude e viveu a melhor temporada da carreira em números.
Em 2024, João Lucas marcou dois gols e deu sete assistências em 49 partidas disputadas. O bom desempenho no Campeonato Brasileiro deixou o atleta mineiro como recordista de passes para gol entre os laterais da competição: foram seis passes para os companheiros marcarem.
