A baixa de minutagem de jogadores vindos das categorias de base tem sido um dos tópicos mais comentados pela torcida do Cruzeiro nas redes sociais. O técnico Zé Ricardo se posicionou a respeito na coletiva de imprensa após a derrota por 2 a 1 para o Internacional, no último domingo (5/11).
De todos os atletas disponíveis, o mais cobrado no time profissional é o atacante Fernando, de 18 anos. O garoto ganhou destaque por ser o principal jogador da Raposa nas conquistas da Copa do Brasil e do Campeonato Mineiro Sub-20, em outubro, e o artilheiro geral da categoria em 2023.
Fernando tem 26 gols em 42 jogos na base. Sua única oportunidade na equipe principal foi na derrota por 2 a 0 para o Flamengo, em 19 de outubro. Contra o Rubro-Negro, ele entrou em campo aos 39 minutos do segundo tempo. Depois disso, não teve mais chances e até ficou de fora das últimas duas listas de relacionados do Cruzeiro.
“Acho que a gente está tentando ter um pouco de cuidado com os garotos. É um momento sensível, a gente sabe que se colocar todos os garotos ao mesmo tempo pode ser prejudicial à formação deles. Mas nós estamos utilizando os garotos, em todos os jogos pelo menos um ou dois entram”, justificou Zé Ricardo.
“Só que a gente entende é preciso que seja um processo natural. Nós temos costume de achar que quem está fora é a solução, e eu acredito que isso pode criar até mais instabilidade nesse momento que já não é de tanta tranquilidade assim”, complementou.
Por que Fernando não ganha oportunidades no Cruzeiro?
Zé Ricardo foi específico ao falar da situação de Fernando. O técnico comparou a situação dele a de outros atacantes que já foram vistos como “a promessa” ou “a solução” do momento. Um dos nomes citados foi o de Robert, jogador da mesma posição que ganhou oportunidades como suplente nos últimos jogos do Cruzeiro.
Outro ponto levantado por Zé Ricardo foram os pedidos para que Fernando jogue na posição de Rafael Elias, que é considerado o centroavante ideal da equipe. Para o treinador, mesmo que o camisa 9 não esteja disponível, isso não é possível, pois são jogadores de características diferentes.
“O Fernando é um jogador de lado de campo, assim como o Robert, que vem treinando muito e entrou nos últimos dois jogos. Há um tempo atrás, esse era o jogador da promessa (Robert). E ele ficou afastado por um tempo, o que o ajudou, pois recuperou sua confiança e foi campeão no Sub-20. Agora, ele foi reintegrado ao nosso dia a dia e está entrando (nos jogos)”, disse.
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Na visão de Zé Ricardo, é necessário que exista uma ‘maturação’ dos garotos antes de usá-los em campo, independente do tempo de jogo que eles terão. Zé Ricardo acredita que se as etapas forem queimadas, as carreiras desses jogadores podem ser afetadas.
“Esse é um processo. O Fernando é um jogador de 18 anos que não é da posição do Papagaio (Rafael Elias). Ele tem dificuldades de jogar de costas. E a gente entende que para esse jogo – a gente não sabe para a sequência – tinham jogadores que poderiam cumprir (a função de centroavante). Como o Arthur Gomes, que fez e fez bem (esse papel). Acho que foi uma de suas melhores apresentações.”
“Mas a gente queria dar um pouco mais de vivacidade. Por isso (usamos) da juventude do Robert, que, volto a dizer, está treinando muito bem. Certamente, se tiver uma oportunidade para o Fernando, ela será dada. Mas acho que existe um processo aí. A gente precisa ter calma para que a gente não passe por etapas e depois tenha que ter outros problemas mais para frente, na questão dos outros meninos. A gente vai botando jogadores para trás, porque o novo é sempre o que a gente acha que vai dar certo. Isso é uma convicção minha e também do clube”, afirmou.
Já são dois meses de Zé Ricardo à frente do Cruzeiro. Nesse período, ele comandou a Raposa em nove partidas e usou seis jovens da base: Ian Luccas (seis vezes), Stênio (duas vezes), Kaiki (duas vezes), Robert (três vezes) e Japa (uma vez) e Fernando (uma vez).
Zé Ricardo mostra incômodo com questionamentos sobre a base
Os questionamentos sobre o uso de atletas da base não agradaram Zé Ricardo, que mostrou incômodo em resposta. O tema dominou a coletiva pós-derrota para o Inter, em que ele usou apenas duas pratas da casa: o atacante Robert e o volante Ian Luccas. A dupla entrou em campo aos 35 minutos do segundo tempo.
“Engraçado, quando vencemos os dois jogos esses questionamentos sobre os garotos não aconteceram de forma tão efetiva. A gente entende que é natural essa pressão que todos nós estamos sentindo, a torcida está angustiada. Não existe isso de ordem de quem escala. Lógico que converso com a comissão técnica, tanto com a minha quanto com a fixa do Cruzeiro, mas a última decisão é minha”, ressaltou.
Em seguida, Zé Ricardo relembrou que deu chances para Ian Luccas e o lateral-esquerdo Kaiki no time titular. Os dois entraram juntos na derrota por 2 a 0 para o Flamengo, no Mineirão, quando o técnico decidiu testar uma formação fora do usual. Após o confronto, eles não voltaram a aparecer entre os 11 iniciais.
“A gente tem sim começado com os atletas da base. Já começamos com Kaiki e Ian Luccas (entre os titulares). No jogo contra o Flamengo, começamos com Kaiki e Ian. É necessidade, oportunidade e aquilo que a gente achar que se encaixa de forma mais interessante na estratégia”, pontuou Zé Ricardo.
“Sobre a questão de entrar com o jogo já definido, a gente entende que são situações. Nós entendemos que pode facilitar ou não dar essa minutagem para os atletas. Confiamos muito neles, só temos um cuidado especial para que eles entrem em uma condição que seja favorável para eles e também na formação de suas carreiras”, finalizou.