
Técnico do Cruzeiro, Zé Ricardo falou em “falência da sociedade” e “atitude premeditada” ao ser perguntado sobre a briga na vitória do Coritiba sobre a equipe mineira por 1 a 0, na tarde deste sábado (11/11). Leia a fala na íntegra no fim da matéria.
O treinador celeste não poupou críticas ao comportamento dos torcedores que protagonizaram cenas lamentáveis na Vila Capanema, em Curitiba, no jogo da 34ª rodada do Campeonato Brasileiro.
“A gente está acompanhando, pouco a pouco, a falência da sociedade brasileira como sociedade. A gente tem políticos corruptos, ladrões de material de hospital, escola, saúde, educação, e não vimos essa indignação que vemos no futebol. É lógico, o torcedor tem direito de criticar, tem direito de vaiar, mas eu queria poder viver numa sociedade que tivesse indignação também no mesmo patamar que tivesse com esses políticos, ou com parte da sociedade que fosse corrupta, ladra”
Zé Ricardo, treinador do Cruzeiro
A briga começou aos 45 minutos do segundo tempo, logo após Robson completar um cruzamento numa cobrança de falta e marcar o gol da vitória do Coritiba. Torcedores do Cruzeiro invadiram o gramado na parte de trás do gol defendido pelo cruzeirense Rafael Cabral. Na sequência, de outra parte das arquibancadas, apoiadores do Coritiba, em maioria, também saltaram as proteções e invadiram o campo.
Ainda sobre o assunto, Zé Ricardo falou em “caso premeditado” ao refletir sobre a origem da briga e indicou prognóstico preocupante no tema de protestos violentos de torcedores.
“Isso não tem nada a ver com futebol. Parece as coisas se repetindo, repetindo, repetindo. Uma coisa que parecia que já que foi premeditada. […] É uma coisa que está fugindo um pouco do controle e vem sendo repetido por mim, por outros colegas, jogadores, que não sabemos onde isso vai dar. Ou realmente acho que sei onde isso vai dar, só que está parecendo que está amadurecendo para que isso ocorra”, afirmou Zé Ricardo.
O retorno do jogo após a briga
O jogo foi paralisado por 30 minutos. Em seguida, o árbitro Bráulio da Silva Machado (Fifa/SC) recebeu o aval da Polícia Militar do Paraná para seguir com a partida. No fim das contas, a decisão foi dar aos atletas dez minutos de aquecimento para, então, reiniciar o confronto.
Perguntado se enxergava que o jogo tinha condições de retornar normalmente, Zé Ricardo opinou de forma clara e ainda pontuou questões importantes da volta ao campo de jogo após quase 40 minutos parados por conta de uma briga generalizada no campo de jogo.
“Eu acho que, como espetáculo, não tinha condição nenhuma de voltar. Os jogadores já mais abalados, os nossos e do Coritiba também. […] Acho que tem que haver uma maneira para que essas coisas não ocorram, porque é muito difícil, até você concentrar, retornar, faltavam seis minutos. A gente sabe que muita coisa pode acontecer em seis minutos no futebol. Nós temos visto viradas importantíssimas acontecendo, mas, da maneira como estava, era muito difícil”
Zé Ricardo, técnico do Cruzeiro
Fala de Zé Ricardo sobre briga em Coritiba x Cruzeiro na íntegra
A gente está acompanhando, pouco a pouco, a falência da sociedade brasileira como sociedade. Infelizmente, a gente tem algumas áreas do nosso Brasil reconhecidamente muito piores do que qualquer outra coisa. A gente tem políticos corruptos, ladrões de material de hospital, escola, saúde, educação, e não vimos essa indignação que vemos no futebol. É lógico, o torcedor tem direito de criticar, tem direito de vaiar, mas eu queria poder viver numa sociedade que tivesse indignação também no mesmo patamar que tivesse com esses políticos, ou com parte da sociedade que fosse corrupta, ladra.
E eu fico muito triste porque tive a oportunidade de viver em outras sociedades. Eu sei que a gente não pode comparar país com outro país, culturas totalmente diferentes, mas isso, logicamente, deixa a gente entristecido. Jogadores recebendo ligação da esposa, dos filhos, inclusive a minha família me ligou para saber se eu estava bem. E isso não tem nada a ver com futebol. Parece as coisas se repetindo, repetindo, repetindo. Uma coisa que parecia que já que foi premeditada.
Eu acho que a gente não pode falar [que teve a briga porque] é o campo A, campo B ou campo C. Lógico que a gente tem que vir para o estádio sempre com a sensação de segurança. Está acontecendo isso hoje com o Cruzeiro. Um pouco antes do gol do Coritiba aconteceu também um movimento bem tenso em relação à torcida do Coritiba. Hoje o líder do Brasileiro também está sofrendo de pressão, ou seja, é uma coisa que está fugindo um pouco do controle e vem sendo repetido por mim, por outros colegas, jogadores, que não sabemos onde isso vai dar. Ou realmente acho que sei onde isso vai dar, só que está parecendo que está amadurecendo para que isso ocorra.
Na verdade, isso é uma falência aos poucos da sociedade brasileira como um todo. Não conseguimos controlar isso e nem ter sinais de que as coisas vão acontecer e vão haver punição para isso. Eu sei que, quando as pessoas querem descobrir quem fez, quem vai fazer, isso é mais grave ainda. Vai fazer, está sendo anunciado e não se faz nada. Então, a gente vai vivendo do jeito que dá nesse sentido e só pede a Deus para que nos proteja, proteja os profissionais porque uma coisa um pouco mais aguda pode sobrar para todo mundo.