Há menos de três meses, o diretor técnico Paulo Autuori cravou que não voltaria a ser treinador. Nesta terça-feira (14/11), a reviravolta: ele foi anunciado como comandante interino do Cruzeiro. O que mudou?
Em 30 de agosto, o experiente profissional de 67 anos – quase 49 deles dedicados ao futebol – declarou à ESPN que não seria mais técnico. Na ocasião, a diretoria celeste o tinha sondado para assumir o time na vaga de Pepa.
“Enfaticamente: chance zero. Nem agora e aqui, tampouco em outro lugar e momento. Minha função no futebol, hoje, e até o fim da minha vida profissional, não será mais como treinador”, disse, à época.
Com a negativa de Autuori, o Cruzeiro buscou a contratação do técnico Zé Ricardo – que acabou demitido nesse domingo.
Em entrevista coletiva nesta tarde, Autuori listou três fatores que o fizeram mudar de ideia e topar assumir o cargo de técnico nesta reta final da temporada. Na luta contra o rebaixamento à Série B do Campeonato Brasileiro, o Cruzeiro tem seis jogos pela frente em 2023 – contra Fortaleza, Vasco, Goiás, Athletico-PR, Botafogo e Palmeiras.
“Eu não estou disponível para pegar um período de um ano, seis meses como treinador. Esse é um momento completamente diferente. São seis jogos, e em menos de um mês a gente já está terminando”, justificou, em entrevista coletiva em Itu, onde o Cruzeiro tem treinado nesta semana.
Em seguida, ele citou que a vida (e os netos), a lealdade às pessoas com quem trabalha e a fidelidade ao projeto o convenceram a assumir o comando técnico. Veja abaixo como Autuori justificou cada ponto.
Vida
Acima de tudo, iniciei falando que para mim futebol é vida. Por ser vida, o meu desafio hoje é de vida. Não é de futebol. É de vida em que sentido?
Num momento complicado para uma situação que na última década vem sendo degradada e deteriorada de uma maneira clara e evidente, que levou a duas temporadas em que nem na primeira página da Série B aparecia – em uma, inclusive, correndo risco de descer”.
Com tanto tempo para fazer tantas coisas erradas e trazerem uma instituição dessa grandiosidade ao ponto que chegou, eu tenho uma gratidão a essa instituição, ao Cruzeiro.
Por ter me proporcionado participar de uma campanha vitoriosa (título da Copa Libertadores de 1997). Dei o meu contributo ínfimo e chegou a hora de dar em um outro momento. O que eu quero isso? Não é para dentro do clube, para os jogadores, vocês da imprensa ou torcida. É para minha vida, para os meus netos terem uma ideia muito clara de que na vida vivemos nós, seres humanos, entre o bem e o mal, alegrias e tristezas, vitórias e derrotas, ‘sims’ e ‘nãos’.
E que eles têm que estar preparados para nos momentos do mal, da tristeza, das derrotas e dos ‘nãos’, de encarar isso de frente. É para os meus netos, porque quero que eles entendam esses momentos.
Lealdade e fidelidade
Depois, por duas coisas que para mim são fundamentais e tenho que honrar meus pais por isso: lealdade – e tenho lealdade a essas pessoas que estão hoje em um projeto seríssimo, que é real e vai passar por bons e maus momentos como todos – e, acima de tudo, fidelidade a um projeto em que acredito piamente.
Dentro desses três aspectos: vida (meus netos), lealdade às pessoas com as quais vivo e trabalho e fidelidade ao projeto que me fizeram, em um momento em que eu não teria mais necessidade de voltar a ser treinador aqui, de alguma maneira tentar contribuir como forma de gratidão a essa instituição que me proporcionou um momento inolvidável na minha vida profissional e pessoal.